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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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OS SEGREDOS DE UM ATLAS

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Na época de Natal, as principais revistas internacionais apresentam números especiais com reflexões aprofundadas sobre as realidades do mundo. Dentro de tal espírito, permito-me recensear um livro da maior oportunidade – Atlas Estratégico – Da hegemonia ao Declínio do Ocidente, de Gérard Chaliand, Nicolas Rageau e Roc Chaliand (Guerra e Paz, 2024). A sua consulta é indispensável para compreendermos os acontecimentos do momento e as perplexidades que geram. Sendo meu avô professor de História e Geografia, sempre me entusiasmaram os Atlas, e tratando-se deste pequeno livro, distante dos grandes monumentos conhecidos, vejo-me perante um excelente instrumento capaz de fazer entender muitos dos mistérios que nos assaltam quanto aos acontecimentos do presente e do passado. O momento que atravessamos é especialmente complexo. Da bipolaridade da Guerra Fria, passámos a um sistema de “polaridades difusas”, que deixa em aberto a previsibilidade quanto ao tempo futuro. Os cerca de cinquenta mapas que constituem o livro começam por acompanhar, desde a revolução francesa, o balanço da hegemonia da Europa sobre a Ásia e a África até ao início do grande século XX, no dealbar da Primeira Guerra Mundial. As potências europeias, lideradas pela Grã-Bretanha, e menos pela França, dominaram a cena internacional. Cerca de meia dúzia de Estados europeus, incluindo a Rússia czarista, imperaram sobre o continente asiático e repartiram entre si a África.

 

O domínio dos povos europeus foi ajudado pela revolução industrial e pelos grandes progressos militares. O conceito de Estado-nação substituiu progressivamente a noção de Império e a Europa foi a matriz da inovação científica e técnica. Os Estados Unidos mantiveram, porém, o velho continente fora do seu hemisfério. O Império Otomano, o grande doente da Europa, preservou-se após a guerra da Crimeia, graças à tensão anglo-russa, mas caiu inexoravelmente, pela dependência económica dos Estados mais influentes. O Imperio czarista expandiu-se na Ásia e a imensa região que se estendia do Turquestão até ao norte da Índia, de língua e cultura persas, ficou sob domínio russo e a sul sob controlo dos ingleses. A revolução bolchevique (1917) abriu, como sabemos, um novo caminho. A China dominada pelos Manchus desde 1644 foi o último dos impérios da Ásia oriental a cair.

 

No fim da Segunda Guerra, em 1945, a Europa dividiu-se entre os dois vencedores: os Estados Unidos da América e a URSS. Os povos colonizados tentam emancipar-se, a revolução chinesa avança, a libertação da Índia leva à separação entre indianos e muçulmanos, a Guerra da Coreia (1950-53) termina sem a vitória dos EUA – e de 1947 a 1991 desenvolvem-se as guerras frias sem confronto direto das duas superpotências e a Guerra do Vietname abriu uma mudança essencial. Foi o tempo da “paz impossível, guerra improvável” de Raymond Aron e da lógica de contenção de George Kennan, que culminou no colapso, fragmentação e destruição da ex-União Soviética.  Mas continuou a Guerra Fria, nas Fases 2 e 3 (1991-2022). O panorama geopolítico apresenta a região do Indo-Pacífico como centro de gravidade do grande conflito entre a China e os EUA e seus aliados. Putin sofre do erro de avaliação de atacar a Ucrânia e procura minorar estragos. E para a Europa, o plano Draghi é de sobrevivência, em nome da confiança e da relevância.

GOM