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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICA DA CULTURA

UM AZUL SUPERIOR


Nestes tempos confusos em que se admira mais a bravura física do que a coragem moral há um mundo que visa criar o caos adubando o medo. Um mundo absolutamente consciente da sua mentira; um mundo de insignificância que troça dos pensadores que teme; um mundo que promete segurança, abrigo, justiça e prosperidade, no maior desprezo pela verdade do que é humano; um mundo que só lhe interessa não valorizar o que até hoje se alcançou para em tudo semear ambiguidade e incerteza, utilizando as redes sociais num obsceno jogo de comando, através do qual a liberdade vai sendo eliminada e os seres semelhantes a térmitas, mil vezes multiplicados.

É um mundo que nenhuma cultura merece.

Um mundo bruto que defende os muros farpados, o não entendimento da diferença, um mundo que compra com alegria a ignorância a preços baixos.

Chegaram estes tempos confusos com a ajuda do culto do eu, e dentro desse eu, cada um, supostamente sacerdote de si, aprisionado na era dos meios digitais, e como se já antes desta era, por cima do ombro, estes eus se tivessem compreendido nas suas pequenas verdades; como se o narcisismo dos eus não fosse tóxico e capaz de contar apenas a história que desejam ouvir e transmitir.

Na verdade, aqui chegados, muitos ambicionam entrar em cena na procura do poder a fim de concretizarem a sua única vontade, inclusive, tripulando naves que só eles conhecem destino, colapso ou emergência.

Entretanto invoca-se a criatividade, e as start-ups prometem também a ressurreição!, qual falácia agitada e organizada da nova termiteira.

E encontramo-nos quando tiramos a máscara que usamos diante de todos?

O que encontramos por trás da máscara?

Um somos ninguém? ou um pouco do alguém?

Quando criámos uma alternativa de soluções eficazes aos desafios que encontrámos?

Quando?, quando ideias materializáveis foram contributo às perguntas sem resposta?

Quando a aventura humana se confundiu?

E hoje, hoje temos convicções suficientemente sólidas para lutarmos contra quem quer destruir a capacidade delas se formarem?

Está a chegar um novo ano e já vimos demasiadas coisas.

O herói de uns é o vilão de outros, e anda muita gente desorientada sobre o que significa ser bom ou ser melhor.

Até já se desconfia daqueles que tomam posições contra o abuso de poder ou de dogmas.

E nem sempre foi assim.

E nem sempre foi assim.

E muitas vezes já foi assim.

E muitas vezes já foi assim.

As ondas da história fazem-se sempre ao redor de uma rotunda, mas também podemos ser, de repente, algo poderoso que acontece:

Volto a recordar o jovem rebelde que ficou em pé frente aos tanques na Praça Tiananmen.

E desde então nada se compreendeu?

Não estar morto não é tudo o que há a celebrar!

Fará sempre parte da nossa tragédia apenas colocar as culpas nos outros, minimizar os perigos reagindo demasiado tarde, ridicularizar a ciência, politizar doenças, relativizar a não-vida enquanto por entre tudo, uma primitiva manipulação já obteve êxito na criação de abismos de ódio entre os homens.

E não é fácil descortinar como esses abismos serão ultrapassados.

Quem toma por garantido deseja que nada aconteça depois disso: que não exista um tu vivo, um tu que sinta, pense e fale.

E não é fácil explicar o facto de não se saber coisas e é inexequível exprimir o facto de se não saber o que é saber.

Nas grandes tragédias humanas sempre esteve o comportamento do pior da nossa natureza, esse mesmo que se expande no obscurantismo das multidões fanáticas, na crueldade como seu traço distintivo.

Há de novo um mundo que pretende reinar destruindo tudo o que existe para dar início às versões dos messias titânicos que já vestem o nanismo do futuro do outrora.

Mas recuperadas forças e estupefações, a luta pela vida digna provará que o rugido de um mundo não ensurdece o de um outro onde vive um azul superior.

Com boas leituras que venha 2025!


Teresa Bracinha Vieira