CRÓNICA DA CULTURA
As pandemias sempre deixaram as pessoas muito assustadas, e entre a porta da vida e a porta da morte, nada como tornar as pessoas propensas a abraçar soluções mágicas
Ainda que seja estranho pensar que o bem sairá do mal e que nós como espécie ressurgiríamos bondosos e rendidos a novas promessas por efeito da pandemia, a verdade é que os líderes autoritários e cínicos deste mundo, não desaproveitaram tempo e politizaram o vírus e ridicularizaram a ciência e desprezaram os feridos e não enterraram os mortos.
Foi um tempo certeiro para colocar as solidatriedades em xeque e deixar tudo ficar sob ameaça, inclusive as instituições mais credíveis para nossa derrapagem descontrolada e para seu controlo a cadeado.
Muitas foram também as divisões que provocaram em inúmeros pontos do mundo as quais agora são usadas a favor deles. Não será exagero afirmar que criaram abismos e ódios para que as pessoas se desentendessem e desprezassem.
Eis uma das grandes vitórias das teorias da conspiração.
Enfim, reparar os danos que estas pessoas provocaram e continuadamente provocam não será nada fácil.
Recuperar sem medo a nossa antiga vida social tem-se mostrado difícil depois da pandemia, o que os beneficia, diga-se, já que nós, mais isolados, teremos menor debate de ideias, menos informação e seremos mais frágeis.
Contudo, o processo destes líderes vai-se tornando óbvio: utilizam as próprias instituições democráticas para as destruírem de dentro para fora progressivamente.
Assim, quando ascendem ao poder tentam bloquear todos os acordos e todas as relações multilaterais. Trata-se de um processo, como de forma precisa bem definiu Stefanie Walter, é um processo de “desintegração baseado nas massas” e é assim referido porque normalmente se sustenta num forte apoio interno que aplaude o líder político como divindade.
Outra das suas máximas, é que o Estado não tem de se ocupar de nada.
Para estes líderes, a desigualdade é absolutamente natural pois defendem o darwinismo social, ou seja, acreditam na premissa de que existem sociedades superiores, e as que intelectualmente e fisicamente sobressaírem, devem ser as que governam, enquanto as sociedades menos aptas não devem ter função pois não acompanham as linhas evolutivas da sociedade segundo as suas posturas algorítmicas.
Recorde-se que um destes autoritários políticos chamou aos direitos humanos o “esterco da preguiça”.
O sentido de palavras como estas que se referiam aos direitos humanos, atenta ao perigoso surto pandémico e ao aumento inesperado de infetados desta medonha doença que circula hoje no mundo, e cuja vacina única reside na cultura e na educação, realidades que a melhor mente não fabrica em laboratório, nem a melhor técnica quântica expande.
Todavia, entre a porta da vida e a porta da morte, e face ao rugido do mundo, saberemos como se pode encontrar caminho para que a vida imaginada possa crescer.
Teresa Bracinha Vieira