CRÓNICA DA CULTURA
“O oposto do amor não é nenhum ódio, é a indiferença (…) o oposto da vida não é a morte, é a indiferença.”
Elie Wiesel
Será que não nos vemos uns nos outros e por isso não nos sabemos prometer?
A indiferença é a maior doença social do mundo de hoje, é mesmo a única que nos implora para que deixemos de ser neutros.
A indiferença é não dar à vida o que ela tem de especial, o que nós temos de expectativa em relação a nós próprios, e é ferir de morte a coesão de todos.
Está provado que a nossa demonstração de indiferença é uma das atitudes mais dolorosas que podemos projetar; é mesmo levar a uma pessoa o claro sentir de que ela não existe para nós, e pouco há de mais cruel.
Que estejamos felizes ou tristes, seja a mesma coisa para outros, é uma dor inexplicável do nosso sentir de encontro ao nada.
Vivem-se as inúmeras notícias de tragédias num individualismo exacerbado pela insensibilização que sempre se distanciou do bem comum.
Educar as novas gerações para a importância do coletivo, envolvê-las em causas comunitárias, em gestos de empatia e escuta do outro, não seria mais do que salvá-las da sua própria já mirrada condição.
Embora frequentemente subestimada, a postura passiva perante os problemas alheios, tem consequências devastadoras no tecido social, e numa era em que a informação está acessível a todos é mais alarmante e incompreensível por que insistimos em ignorar o sofrer alheio.
Não é inofensivo desviar o olhar, e também não é inofensivo o silêncio cúmplice perante as injustiças flagrantes que só perpetuam desigualdades, normalizam sofrimentos e nos desumanizam a todos.
Em grande parte, a apatia generalizada decorre sempre de almas não livres, almas de pus que nem reconhecem a inocência.
Não há que fundar mais religiões para as colocar no lugar do mundo de onde o significado partiu. Todos podemos ir além do possível, esse é o projeto.
E depois sim, o imenso começo.
Teresa Bracinha Vieira