CRÓNICAS PLURICULTURAIS
Pormenor da estátua David de Michelangelo
201. RESISTIR À DESUMANIZAÇÃO
Sobressai, de há longa data, corroborada no tempo que vivemos, uma ausência de equidistância na análise de muitos quanto à não empatia e desumanização que manifestam pelas vítimas de países que têm como agressores ou governados por líderes, políticos ou políticas que ideologicamente não aprovam.
O que coloca a questão: como resistir à desumanização?
Uma das formas de resistência começa por ter consciência da nossa imperfeição e vulnerabilidade, dos nossos defeitos baseando-nos, como um desígnio mais alto (e não obstante o reconhecimento das nossas falhas) em princípios e valores que não nos deixem desumanizar e perder o rumo.
Tendo como referência que todo o ser humano é igual na sua dignidade ontológica, existencial e social, que há (ou deve haver) referentes comuns resultantes de um genuíno acordo, mesmo que tácito, entre os povos, é inaceitável que não se manifeste a mesma censura, angústia, dor, preocupação ou solidariedade perante vítimas civis que, seja qual for a origem, são iguais na sua integridade e respeitabilidade.
Não há vítimas mais ou menos dignas, nem é aceitável que algumas sejam beneficiárias de maior condoimento e misericórdia por meros preconceitos pessoais, culturais ou ideológicos, sob pena de prevalecer e sermos cúmplices (no mínimo) do culto do ódio e de uma desumanização que, além de passiva, se limita a condenar apenas (e parcialmente) os atos de crueldade alheios perpetrados por aqueles que temos como mais responsáveis, abrindo o caminho a só mantermos a empatia pelas vítimas do lado do agredido, do oprimido e do mais fraco.
O ser humano tem, desde sempre, caraterísticas positivas e negativas, devendo aperfeiçoar as primeiras priorizando, igualmente, que a dignidade humana e o “amarás o próximo como a ti mesmo” devem ser consequentes na sua plenitude e universalidade.
21.02.25
Joaquim M. M. Patrício