Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Na dimensão pessoal, Stuart Mill trata do indivíduo e do seu florescimento pessoal e aponta-nos o quanto encontrar amigos, uma profissão, ler, assistir a um espetáculo, viajar, conhecer o rumor redondo do mundo, tudo são encontros que nos acontecem e que nos serão guia para um aprofundamento único do que vivemos.
Mas as adversidades com que nos deparamos são também encontros: a doença, a morte, o envelhecimento, a desilusão como tudo o que nos sucede, faz parte de um reunir ao qual nós nos deveríamos adaptar sem obediência ou rejeição.
Ajudar-nos-á sempre um disciplinado e melhor conhecimento de nós próprios, do nosso poder, da nossa autocrítica, do nosso entender, do até onde poderemos ou conseguiremos ir.
Procurarmos para nós e para os outros uma comunidade de esforços que nos humanize pressupõe que tenhamos consciência da nossa inumanidade.
Encontramo-nos uns com os outros face a diferentes realidades é encontrarmo-nos também com a alegria, e como nos diz Espinosa «A alegria é a passagem de uma menor a uma maior perfeição.» e existem muitas características na Primavera que nos alertam para aspirarmos a desenvolver essa alegria que é parte de uma totalidade que nos incrementa a vontade de viver.
Para vivermos com a serenidade possível, o percurso não é o da obediência a normas morais, religiosas ou outras, nem é a sua rejeição , é um aprofundamento da nossa natureza e da nossa dignidade enquanto poder de escolher como viver.
Há sempre algo a conhecer na força exigente da Primavera, e não devemos entendê-la apenas como esperança pois ela vem de dentro do seu esforço, o que nos revela o quanto devemos agir e exigir e existir em ato.
Vivamos este grande momento: é Primavera! Ensaiemos compreender o seu segredo pontual e imprescindível.
As duas principais fantasias que alimentamos acerca daquilo que com probabilidade nunca nos acontecerá são, por ordem, ser omnipotente e ser invisível. Uma fantasia não é necessariamente uma coisa irracional. Pode haver método na loucura, e pode haver boas razões para preferir certas espécies de loucura.
Do ponto de vista da racionalidade das escolhas, faz mais sentido querer ser omnipotente que querer ser invisível. A uma pessoa omnipotente não está vedado o acesso às doses mais elevadas de saúde, dinheiro e amor; e terá outros benefícios marginais apreciáveis como a locomoção no espaço, o acesso irrestrito ao chocolate, e o dom da ubiquidade; ainda mais importante, pode durar para sempre, e durar para sempre como pessoa omnipotente. E, claro está, pode ser invisível.
Parece então que a escolha entre estas duas formas de loucura é ela própria uma escolha louca. A ninguém no seu perfeito juízo ocorreria escolher ser invisível quando se pode ser invisível e muito mais coisas escolhendo simplesmente ser-se omnipotente. Qual pode então ser a justificação para querer ser-se apenas invisível?
Ocorrem-me várias razões, que talvez estejam ligadas. Uma pessoa omnipotente tem constantemente de querer fazer coisas e tomar decisões. Terá acesso irrestrito a chocolate, mas tem de querer ter acesso irrestrito a chocolate, e por isso de decidir querer ter acesso irrestrito a chocolate (mesmo que tudo se passe à velocidade da luz). Há o risco de essa constante agonia de decisões confundir o próprio e provocar consequências no mundo: fará chuva ou sol por nenhuma razão particular, e montanhas de chocolate mudarão de sítio ao arrepio das mais elementares leis da física. Como se observou há muito tempo, onde há efeitos contraditórios não pode haver exactamente omnipotência (e por essa razão Deus não pode causar efeitos contraditórios). Finalmente, uma pessoa omnipotente, por causa dos efeitos da sua omnipotência, tenderá a passar a sua vida, que no entanto pode ser eterna, como a maior parte das outras pessoas: a mostrar constantemente aos outros que existe. Mesmo que possa querer ser invisível, e por isso ser invisível, será sempre invisível de uma maneira muito visível. Não é então realmente omnipotente.
Pelo contrário, uma pessoa apenas invisível não tem que querer ser nada; as suas decisões são as normais; nenhuma montanha muda de lugar; e ninguém repara nela. Pode ter uma vida com quase todas as limitações do costume. É verdade que algumas pessoas invisíveis se introduzem em quartos de terceiros e, liberalmente à noite, em lojas de doces. Mas essas são características operacionais da imaginação humana, que não eximem quem as tem ao sentimento da culpa ou à indigestão comum. Uma pessoa invisível é simplesmente uma dessas raras pessoas que não passa a sua vida a lembrar aos outros que é uma pessoa.
Miguel Tamen Escreve de acordo com a antiga ortografia
Hermenêutica feminista das religiões e seus textos
A religião/religiões só têm sentido se e na medida em que são factor de libertação/salvação. Ora, a gente fica tremendamente impressionado, quando observa o que de negativo tantas vezes as religiões e os seus textos dizem sobre as mulheres.
Que é que isto quer dizer? É essencial interpretar e não tomar de modo nenhum à letra. Aí ficam, pois, alguns princípios de hermenêutica feminista das religiões e seus textos.
Pressuposto essencial é, evidentemente, a compreensão de que os textos sagrados não são ditados de Deus, tornando-se, pois, claro que, sem interpretação, eles se convertem, inevitavelmente, em textos fundamentalistas. Os textos sagrados têm de ser lidos de modo crítico e situados no seu contexto histórico.
Um livro sagrado, por exemplo, a Bíblia, só tem validade última e só encontra a sua verdade adequada enquanto todo e na sua dinâmica global. A argumentação com fragmentos pode por vezes tornar-se inclusivamente ridícula. Assim, princípio hermenêutico essencial e decisivo das religiões e dos seus textos é o do sentido último da religião, que é a libertação e salvação. O Sagrado, Deus, referente último do religioso, apresenta-se como Mistério plenamente libertador e salvador. É, pois, à luz desta intenção última que as religiões e os seus textos têm de ser lidos, concluindo-se que não têm autoridade aqueles textos que, de uma forma ou outra, se apresentam como opressores e discriminatórios. Então, não sendo normativos, têm de ser evitados nas celebrações religiosas.
Portanto, é claro que a hermenêutica feminista tem de ser uma hermenêutica da suspeita. Não é de suspeitar que religiões orientadas por homens e textos que têm homens como autores maltratem as mulheres, lhes sejam pouco favoráveis e as tornem invisíveis, as considerem inferiores e as coloquem em lugares subordinados?
Ela tem também de ser uma hermenêutica da memória. Lembra as vítimas, todas as vítimas. Exige, portanto, uma leitura da História no seu reverso, que é a História dos vencidos. Normalmente, o que aparece, como é sabido, é a História dos vencedores, onde, por isso, não cabem as mulheres nem as vítimas do sistema. Assim, como escreveu Juan Tamayo, “a memória das mulheres vítimas do patriarcado é já em si um acto de reabilitação, de devolução e reconhecimento da dignidade negada”. Na reconstrução da História, é preciso encontrar o papel das mulheres, activo e criador, mas oculto e silenciado.
A leitura feminista dos textos sagrados faz-se a partir dos movimentos de emancipação da mulher e, portanto, dentro da luta pelos direitos humanos, que, sendo indivisíveis, exigem sociedades que ponham termo a todo o tipo de discriminação, sem esquecer que as estruturas discriminatórias da mulher são múltiplas e multiplicativas, como bem viu a teóloga E. Schüssler Fiorenza.
A hermenêutica feminista está particularmente atenta ao funcionamento sexista da linguagem. Repare-se, por exemplo, no prurido auricular de expressões como: a arcebispa de Setúbal, a cardeal de Lisboa. Utilizando normalmente o genérico “homem” e “homens”, nos textos sagrados, nas celebrações litúrgicas, na catequese, as mulheres são inevitavelmente invisibilizadas, esquecidas e marginalizadas. Impõe-se, portanto, estar atento.
Essa hermenêutica é particularmente crítica com as imagens patriarcais de Deus. De facto, se Deus é masculino, o homem-varão acaba por ser divinizado. Realmente, a maior parte das imagens usadas nas religiões e nas teologias para se referirem a Deus são expressão do domínio patriarcal e acabam por legitimar religiosamente o poder dos homens. Entre as mais comuns: Pai, Rei, Juiz, Senhor, Soberano, Criador do Céu e da Terra, Omnipotente. Por conseguinte, a crítica feminista deve desconstruir estas imagens, porque estão associadas ao poder dos homens e geram atitudes de submissão e dependência, não fomentando uma relação interpessoal.
A teologia feminista mostra-se especialmente crítica com a imagem de Deus “Pai”, por tratar-se de uma imagem que leva “directamente à obediência e à submissão, de que a religião autoritária abusa”. Quer recuperar imagens que têm a ver com a vida, a amizade, o amor, a clemência, a compaixão, a compreensão, a generosidade, a ternura, a confiança, o perdão, a solicitude... E o que é que pode impedir os crentes de se dirigirem a Deus como Mãe? Deus é Pai/Mãe.
Anselmo Borges Padre e professor de Filosofia Escreve de acordo com a antiga ortografia 15 de março de 2025
Passam dois séculos sobre o nascimento do genial romancista Camilo Castelo Branco. Com uma obra riquíssima que ilustra a força e a diversidade da identidade da nossa cultura, podemos dizer que a sua leitura continua a ser indispensável.
Ao José Viale Moutinho, em solidariedade camiliana
Camilo Castelo Branco é um caso singular na literatura portuguesa. Foi o nosso primeiro profissional da escrita e assim se fez respeitar como um autor aclamado pelo público leitor. A sua produção literária, que continua a ser apreciada, chega aos nossos dias preservando a sua força essencial. Há uma considerável distância no tempo, mas no essencial é a compreensão do género humano que está em causa. É, assim, ilusório o debate clubístico entre os camilianistas e queirosianos. Estamos perante artistas da mesma arte, ambos com um nível excecional, mas dispondo de um perfil radicalmente diferente. Antes do mais, o percurso de vida do autor de Amor de Perdição é marcado por vicissitudes que o aproximam dos acontecimentos ocorridos em Portugal no dealbar do liberalismo constitucional, nas suas diferentes vertentes, resistência e incentivos, o que nos permite compreender quer as raízes profundas da sua inserção no país tradicional, quer o confronto com a lógica dos ambientes citadinos.
COMPREENDER QUEM SOMOS Camilo encarna, a um tempo, o país fiel às suas tradições e a sociedade que anseia modernizar-se. Veja-se como nos conflitos civis que abalaram profundamente os portugueses e no imaginário subjacente a tais contradições, Camilo faz opções genuínas, até divergentes, indo ao encontro de sentimentos profundos que procuram seguir não só uma continuidade histórica, mas também a consciência popular. Lembremo-nos das apreciações sobre o movimento da Maria da Fonte, verdadeiro levantamento de um conjunto de amazonas de tamancos, tornado vivo nas memórias do Padre Casimiro, no ano de 1846, onde uma certa saudade articula as componentes paradoxais desse estranho episódio, que constitui matéria-prima para um fecundo manancial romanesco. Dir-se-ia que a reminiscência miguelista, já enterrada há mais de uma década, renascia num outro tempo e num outro contexto, apesar da demarcação evidente, para reconstruir a sociedade nova de constitucionalismo liberal. E assim, concordamos com Hélia Correia quando nos diz que Maria da Fonte sobressai, aliás, no conjunto da sua obra pelo modo seguro, diríamos, convicto, diríamos sincero, com que o autor reúne os seus conhecimentos, as inflexões de estilo, as gradações de orador apaixonado que ora ironiza, ora vitupera, ora se indigna, para com este texto servir a causa do progresso, do liberalismo, do espírito científico” (Prefácio a Maria da Fonte, Ulmeiro, 1986, p. 14). E aí deparamo-nos com o formal desmentido da lenda que circulara, e que alimentara, de que Camilo fora lugar-tenente de Mac-Donell. Já quando lemos A Brasileira de Prazins deparamo-nos com os ingredientes fundamentais do panorama social, a consideração das contradições políticas e sociais, com a chegada de um falso D. Miguel e a exigência de reparar naquela sociedade um compromisso social que obrigaria a encontrar novos caminhos. E Camilo Castelo Branco é autor e consequência de tudo isso, e sente no íntimo de si os movimentos subterrâneos da comunidade, centrífugos e centrípetos, que constituem fundamento de um panorama narrativo inesgotável.
IRONIA E CONHECIMENTO HISTÓRICO Com ironia e profundo conhecimento histórico, Camilo Castelo Branco fala-nos de um tempo longo, apreensível nos pequenos pormenores. Veja-se na apreciação da obra histórica de Oliveira Martins, o caso do Mestre de Aviz, que não poderia ser marido legítimo de D. Filipa de Lencastre sem dispensa de votos de clérigo, de que apenas foi libertado quatro anos depois do casamento… Há misteriosas condicionantes que influenciam inesperadamente os acontecimentos. E o romancista conclui na análise da obra que “nesta História de Portugal há a largura dos grandes aspetos sociais dados a factos que pareciam pequenos e escurecidos em meio de outros mais característicos”. E o historiador generaliza luminosamente “com uma grande harmonia de plano organizador, agrupando factos desconexos talvez com a cronologia, mas moral e politicamente harmónicos. Em poucos traços essenciais resume-se um período de história, uma anedota, um caso despercebido e sem o selo de notável importância sociológica, tratado (…) consoante o modo familiar de Taine, abre-nos a porta da vida íntima de uma época”, juntando ironia e realismo. E se um crítico disse que a História se lia aprazivelmente como um romance, o certo é que tal não pode ser levado à conta de um demérito. Contudo, esta História lê-se devagar e atentamente, devendo ser melhor entendida e apreciada por aqueles que houvessem colhido uma imperfeita, senão falsa, compreensão da vida portuguesa no estudo das crónicas. E Camilo não se impressiona com as quebras eruditas, já que na obra no seu todo prevalece a argúcia crítica e a visão do conjunto e do fundamental. Se há lapsos seriam de influência nula e outras consultas, “com um grande e malogrado escrúpulo”, não dariam ao autor novos elementos relevantes. E assim descobrimos no genial romancista o leitor atento do poderoso cultor da História com compreensão do essencial das personagens e dos acontecimentos.
FIGURA FUNDAMENTAL Probo romancista, bibliógrafo irrepreensível, cultor da língua como poucos, leitor exemplar, comentador dos acontecimentos com sentido prospetivo, conhecedor da História do País e dos seus povos, Camilo Castelo Branco é um caso especial nas literaturas da língua portuguesa, digno de ser exemplo por tudo quanto nos deixou numa escrita viva e atraente, servida por uma panóplia ampla de personagens que caracterizam em termos dinâmicos a sociedade portuguesa, num panorama que abrange o Portugal antigo e o Portugal moderno em cada uma das suas especificidades. Eis a sua atualidade como referência fundamental da perenidade da arte e da literatura. Ao assinalar os dois séculos do nascimento do romancista de Seide e quando se encerram as comemorações do quinto centenário de Camões, é oportunidade para celebrarmos a língua que se projeta no mundo através de quantos fazem da palavra o meio por excelência para afirmação da liberdade, do respeito mútuo, do sentido solidário e de uma vontade emancipadora.
NOTA – O presente texto está desenvolvido no número 218 da revista Colóquio - Letras
ATORES, ENCENADORES (XXII) EVOCAÇÃO DO CENTENÁRIO DE UM ESPETÁCULO: PEDRO FREITAS BRANCO ATOR por Duarte Ivo Cruz
A cronologia justificaria evocação de duas efeméridas este ano assinaláveis: concretamente, o centenário de um espetáculo insólito pelos participantes e o cinquentenário da fundação de uma companhia sólida e referencial até hoje, neste panorama tão irregular do teatro português.
Ambas as efemérides têm como cena o Teatro Gil Vicente de Cascais. E vale a pena começar pela evocação desta magnífica sala – modelo dos pequenos teatros que, na sequência da fundação, em 1846, do Teatro de D. Maria II, foram sendo paulatinamente construídos, ao longo dos anos 800/ início de 900, um pouco por todo o país.
O Teatro Gil Vicente de Cascais foi inaugurado em 1869 e deve-se à iniciativa algo insólita de um comandante da marinha mercante denominado Manuel Rodrigues de Lima. As obras foram dirigidas por José Vicente da Costa, aproveitando uma sala preexistente. Rambois e Cinatti, nomes dominantes da cenografia, terão colaborado: e o primeiro espetáculo muito ao gosto da época, constou de um drama, “O Ermitão da Cabana” e de uma comédia, “Mateus, o Braço de Ferro”, por um grupo de amadores locais.
Mas o Teatro Gil Vicente em breve assumiu, também muito ao gosto da época, uma programação em que se alternavam os grandes nomes (profissionais) da cena portuguesa e grupos de amadores. E quanto aos atores e mais espetáculos profissionais, diz-nos Ferreira de Andrade, “pelo Gil Vicente passaram as maiores figuras do teatro de então, do grande ator Vale a Mercedes Blasco, às companhias do Ginásio, etc.” Ora as companhias do Ginásio eram na altura extremamente prestigiadas, como veremos mais tarde (cfr. Glória Bastos e Ana Isabel B. Teixeira de Vasconcellos “O Teatro em Lisboa no Tempo da Primeira Republica” ed. Museu Nacional do Teatro 2004 págs.45 e segs.)
Recorda ainda Ferreira de Andrade: “No dia 19 de setembro de 1899 representaram-se, pela companhia de que fazia parte, além de Mercedes Blasco, Laura Ferreira, Pedro Cabral e Pereira da Silva, as comédias “O Tio Torcato” e “Paris em Lisboa". (…) Dez dias depois, o teatro aplaudia o grande ator Vale e Beatriz Rente na (peça) "Lição Cruel de Pinheiro Chagas”. Eram grandes nomes do meio teatral - profissional da época. (cfr. Ferreira d’Andrade “Cascais Vila da Corte - Oito Seculos de História” 1964)
Mas o que quero agora evocar é, mais concretamente, o centenário de um espetáculo realizado no Gil Vicente em 1915, escrito, composto, produzido e representado por amadores que marcavam ou viriam a marcar a vida social, cultural e artística portuguesa. Trata-se de uma revista da autoria de José Paulo da Câmara, filho do grande dramaturgo D. João da Câmara, de João Vasconcelos e Sá e de Francisco Paes de Sande e Castro.
O mais curioso é que o autor da música e também intérprete ator e cantor foi Pedro de Freitas Branco, então com 21 anos de idade, e que viria, como bem sabemos, a desenvolver uma brilhantíssima carreira de maestro, designadamente nas sucessivas temporadas de ópera que dirigiu no Teatro de São Carlos e um pouco por toda a Europa, mas também na estreia e divulgação dos compositores contemporâneos, designadamente Ravel, que compôs obras propositadamente para serem estreadas por Freitas Branco.
Faço aqui duas transcrições bem elucidativas dessa projeção e colaboração de nível mundial:
Escreveu João de Freitas Branco. “Por esta altura (anos 20/30 do século passado) já Pedro de Freitas Branco tentava criar uma companhia portuguesa de ópera que chegou a apresentar-se em Lisboa e no Porto e organizava concertos no Tivoli, com a colaboração de artistas como Béla Bartók (…) em cujos programas incluiu muitas obras modernas desconhecidas do público” (in “História da Música Portuguesa” ed. Europa América pág.147).
E escreveu Manuel Ivo Cruz: “O maestro português foi internacionalmente considerado um dos maiores intérpretes da música do nosso tempo”. (…) Também a grande maioria dos compositores portugueses seus contemporâneos lhe mereceram cuidadas interpretações” (in - “O Teatro Nacional de S. Carlos” ed. Lello e Irmão 1992).
E acrescentamos, para terminar, que no Teatro Gil Vicente se estreou em 1965 o Teatro Experimental de Cascais, dirigido por Carlos Avilez: mas disso falarei em breve.
Duarte Ivo Cruz
Obs: Reposição de texto publicado em 06.05.15 neste blogue.
Dedico esta crónica a Maria Luísa Guerra, minha Mestra, sempre.
António Carlos Cortez acaba de publicar uma antologia intitulada Artes e Educação, na qual diversos autores portugueses escrevem sobre a importância da dimensão criadora na Educação. Estamos no coração da aprendizagem, e a referência às Artes não se reporta a um aspeto marginal na vida da Escola e da educação, mas à procura de uma formação capaz de promover a cidadania ativa, responsável e competente. Carlos Fiolhais recorda Rómulo de Carvalho, professor, cientista e poeta, quando afirmava que o artista e o cientista “desempenham na sociedade o mesmo papel de construtores, de descobridores, de definidores: um do mundo de dentro, outro, do mundo de fora. (…). E que ambos esses mundos exigem a permanente busca, a orientada investigação que em nossos dias, é considerada apenas apanágio da ciência”.
Um cidadão nos dias de hoje tem de estar consciente da importância dos valores em presença – não pode ignorar o que caracteriza o mundo de hoje, com uma preocupação de saber mais, de conhecer melhor, de compreender e de estar desperto para a realidade que nos cerca. Educação, ciência e cultura estão intimamente ligadas, não havendo compartimentos estanques que separem os mundos da vida e do conhecimento. Se a ciência procura entender o mundo que habitamos, as artes revelam a capacidade criadora. E o certo é que nada disso poderá ser-nos estranho. Olhamos em volta e verificamos que as aprendizagens dos nossos jovens ou da sociedade são em geral insuficientes e incapazes de corresponder às exigências atuais. Não podemos aceitar isso como uma fatalidade. Impõe-se sermos mais exigentes. “Quanto conhecimento se perde na informação. Quanta sabedoria se perde no conhecimento” – usando a expressão consagrada de T.S. Eliot. Quando visitamos as Bibliotecas escolares é fácil verificar que os estudantes mais bem preparados são os que mais leem e que melhor aproveitam os centros de recursos, dispondo de um modo ativo dos instrumentos postos à nossa disposição nos livros ou no mundo digital, do mesmo modo, que os professores que melhor motivam os seus alunos são aqueles que promovem a leitura e a descoberta de uma aprendizagem criativa e motivadora. E, falando da prática das artes, temos que o teatro, a dança, a música, a pintura, o desenho são extraordinários fatores de motivação e de cooperação ativa. Como afirma José-Augusto França, “o problema fundamental foi (…) e continuará ser, o da preservação do valor lúdico da criação artística, para além do processo técnico implicado; mas este tende a libertar-se das suas referências teóricas e situar-se como imediato uso estético, na sua leitura”. Não há língua sem a literatura, nem Arte sem os artistas, nem Ciência sem os cientistas. Tudo se relaciona. Lembremo-nos da experiência extraordinária do maestro Yehudi Menuhin no MUS-E que, através da música, mobilizou estudantes, professores e comunidades em nome da qualidade e da justiça. Se há sinais preocupantes, não podemos baixar os braços, não podemos facilitar: o trabalho, o rigor e a qualidade são cada vez mais necessários. Para respeitarmos as diferenças e para sermos inclusivos, temos de encontrar instrumentos inteligentes capazes de favorecer o desenvolvimento. Não podemos ceder à mediocridade. Como disse Fernando Pessoa: “é a arte e não a história que é mestra da vida”.
A diferença entre a verdade real e o olhar pessoal da realidade é um tema intrigante, dado nos parecer levar à conclusão de que o critério da assertividade ao querer excluir teorias míticas e messiânicas, tidas como insistentes e carregadas de emotividade, é menos persistente e sólido do que deseja, perante a crença de narrativas do destino manifesto de pessoas, povos, países e civilizações.
A retórica do destino manifesto sempre existiu e permanece desde que há humanidade, adaptando-se e variando consoante o contexto, conjunturas históricas e as suas circunstâncias, fundando-se na crença de que há indivíduos, povos e países que têm uma missão providencial que os levará a superar-se e a uma terra prometida, dada a sua originalidade, mérito, insondável mistério ou dádiva divina, conferindo-lhes um destino universal, incluindo a conversão ou seguidismo, mesmo que à força, dos não escolhidos.
Em nome de Deus, de Alá, do progresso técnico e científico sempre houve o percebimento de que a religião e a modernização se imiscuíram nos discursos legitimadores de conquistas e de superação em que, ao longo dos tempos, apenas mudam os protagonistas e o estilo retórico.
Pense-se no legado bíblico que do seu núcleo restrito do povo eleito inicial se universalizou inspirando pessoas, nações e civilizações destinatárias de um destino que se traduz, por exemplo, na crença de que os Estados Unidos da América (EUA) possuem uma missão providencial em defender a liberdade e a democracia, o que foi mobilizado, durante a guerra fria, para explicar a disputa geopolítica e estratégica com a União Soviética, como um conflito nacional entre liberdade e tirania, então amplificado a nível mundial. Esta globalização do destino manifesto do povo do EUA passou a ter, por um lado, na sua política externa (incluindo na guerra espacial ou das estrelas) um vetor essencial da sua identidade nacional e, por outro, um destino manifesto global, convertendo problemas mundiais em responsabilidades nacionais.
Mesmo que um mito de um povo eleito numa terra prometida, um excesso mítico de interpretação do fenómeno da identidade nacional, pode não ser apenas um mecanismo de compensação do défice de realidade, mas também algo que será contado a quem vier depois, como quem diz: não me deixeis morrer ingloriamente sem dar luta e acreditar em algo de grandioso, cumprir uma missão que me foi destinada e que a História um dia testemunhará, mesmo que não crentes, não eleitos ou vencidos o não reconheçam.
Por mais que se tente excluir crenças, teorias míticas e messiânicas, porque ausentes de tradição científica, elas persistem, desde logo em termos geoestratégicos e políticos, desde os EUA, à China, Rússia, Israel, ao Portugal do Quinto Império de Vieira, Pessoa e Agostinho da Silva, entre outros, chamem-lhe neocolonialismo, imperialismo, excecionalismo, providencialismo, missão messiânica ou algo mais.
que as lágrimas eram e porque foram e são uma alegria a assomar-nos aos olhos nessa forma líquida e deles se soltaram e soltam para uma malga que fizemos da matéria do coração para nos darmos a beber quando na cama limpa os corpos nus
Isso foi certo, era certo e é certo o nome dessa realidade
E foi assim ontem e em todos os dias anteriores e hoje
o pulso do poema continua à janela e nós reconhecemo-nos
muito azuis naquela estrela-do-mar que veio ao mundo abrindo imensamente
as mãos até ao ponto mais longínquo,
depois, entrando em casa sim, entrando em casa ávida
como nós
Sim, foi isso mesmo e a partir daí e até quando
começámos a ler os livros abertos sobre o mar redondo
A superioridade da democracia é muitas vezes atribuída ao papel que a discussão, a participação generalizada dos interessados e o confronto de opiniões têm nela. A emoção das grandes decisões e das grandes opiniões dá-lhe muitas vezes o aspecto de um jogo divertido e interessante; e tem ainda por cima a vantagem de, ao contrário do futebol dos Aztecas, não requerer o uso de cabeças humanas. Esta ideia geral sobre a superioridade da democracia coexiste porém com uma noção generalizada, mais sombria, sobre o pouco que se pode esperar de uma discussão e o pouco que as opiniões mudam por causa do confronto de opiniões; e com a noção aparentemente oposta mas porventura ainda mais sombria de que se a participação dos interessados nas decisões fosse total os resultados seriam os melhores para todos.
Pelo contrário, uma vantagem não negligenciável da democracia parece-me antes ser a de não exigir a discussão permanente, a participação generalizada dos interessados, ou o confronto de opiniões; e de os substituir pelo voto periódico. O processo tem inúmeras virtudes. Uma das principais é a de, pelo facto de, salvo em regimes mais duvidosos, o voto não ser obrigatório, as pessoas terem a possibilidade de não votar. E essa é a principal diferença entre a democracia e as variadas formas de tirania: a participação dos interessados nas decisões não é requerida; a falta de interesse não é punida; e ninguém é excluído por não mostrar as virtudes cívicas relevantes. A baixa afluência às urnas lembra-me países que admiro e enche-me quase sempre de alegria – e a alta afluência lembra-me países que não admiro, e enche-me quase sempre de preocupação.
Esta ideia de democracia supõe uma ideia particular de política e de governação. Por exemplo, contraria a ideia de que a política e a governação sejam uma forma de entretenimento, de manipulação, ou dependam demasiado do amor dos governados; diminui a importância que nela têm os grandes desígnios, as epopeias públicas e, sobretudo, as frases memoráveis. Chama, pelo contrário, a atenção para o papel de uma série de actividades baças e, apresso-me acrescentar, completamente legais: decisões técnicas, com certeza, mas também mudanças imperceptíveis em leis e soluções baseadas em compromissos; dilemas que são vividos sem fingir que se conhece a solução, e que são expressos por memorandos de prosa detestável; alterações de opinião sobre assuntos que só quatro seres humanos alguma vez perceberam; momentos de improvisação, segredos e ignorância; e muitas horas passadas cortesmente a falar com pessoas com quem nunca por livre escolha se beberia um café. A isto tudo um autor chamou “governação sem graça.” “A falta de graça”, como ele observou, “deve ser o nosso lema”.
Miguel Tamen Escreve de acordo com a antiga ortografia
1. No Dia Internacional da Mulher, solidarizando-me com todas as que lutam contra a misoginia da Igreja, retomo o que já aqui escrevi em 2011: “As mulheres têm motivo para estar zangadas com a Igreja, que as discrimina. Jesus, porém, não só não as discriminou como foi um autêntico revolucionário na sua dignificação, até ao escândalo.”
Veja-se a estranheza dos discípulos ao encontrar Jesus com a samaritana, que tinha tudo contra ela: mulher, estrangeira, herética, com o sexto marido, mas foi a ela que se revelou como o Messias. Condenou a desigualdade de tratamento de homens e mulheres quanto ao divórcio. Fez-se acompanhar — coisa inédita e mesmo escandalosa na época — por discípulos e discípulas. Acabou com o tabu da impureza ritual. Estabeleceu relações de verdadeira amizade com algumas. Maria Madalena constitui um caso especial nessa amizade: ela acompanhou-o desde o início até à morte e foi ela que primeiro intuiu e fez a experiência avassaladora de fé de que o Jesus crucificado não foi entregue à morte para sempre, pois é o Vivente em Deus, como esperança e desafio para todos os que crêem nele, a ponto de Santo Tomás de Aquino e outros, apesar da sua misoginia, a declararem a “Apóstola dos Apóstolos”, precisamente por causa do seu papel fundamental na convocação dos outros discípulos para a fé na Ressurreição: na morte, não caímos no nada, pois entramos na plenitude da vida em Deus, Deus de vivos e não de mortos. Aliás, já São Paulo, na Carta aos Romanos, pede que saúdem Júnia, “Apóstola exímia”.
2. Num dos seus últimos escritos, o teólogo José M. Castillo veio lembrar a mesma coisa. Quando se lê os Evangelhos, o que constatamos é que Jesus teve conflitos e confrontos com vários grupos, desde as mais altas autoridades religiosas até aos discípulos que o acompanhavam: a Pedro, por exemplo, chegou a chamar-lhe Satanás. Mas há um dado que “chama poderosamente a atenção: as mulheres são o único grupo com o qual Jesus não teve problema algum, inclusivamente naquele caso da mulher cananeia que suplicava a cura da sua filha doente; parece que Jesus lhe deu uma má resposta, mas o carinho daquela mãe foi tão intenso que até fez Jesus dizer: ‘Mulher, como é grande a tua fé!’. E a filha ficou curada.”
Castillo insiste que Jesus esteve sempre do lado das mulheres, mesmo quando eram adúlteras ou prostitutas. Jesus deixou que uma mulher o perfumasse com perfume caro, ou lhe beijasse os pés com lágrimas e lhos enxugasse com os cabelos. E foram as mulheres que se mantiveram sempre fiéis no caminho do Calvário e depois da morte, diante da Cruz. E foram as primeiras testemunhas do Ressuscitado, do Jesus vivo em Deus para sempre.
E, atravessando a história da Igreja, lança a pergunta: “Como é possível o que está a acontecer? Se há tantos bispos que vivem em palácios, usam vestimentas que já ninguém usa, têm privilégios que ninguém mais tem, julgam ter poderes que Deus lhes deu a eles e a mais ninguém, não é lógico e inevitável que na Igreja esteja a acontecer o que todos vemos?” E conclui: “Como é possível que as mulheres continuem nesta Igreja que as marginaliza, as exclui, as anula em tantas coisas...? Porque é que hão-de continuar numa Igreja que, apoiada em séculos, nega e resiste a que celebrem Missa ou que possam ser esposas de padres? Se Jesus não proibiu nada disso, porque é que havemos de ser nós a proibir e, para cúmulo, ficando com a consciência do dever cumprido? O que é mais importante: agradar a uns tantos cardeais ou servir toda a gente?”
3. A Igreja continua a ser um dos maiores esteios da sociedade patriarcal. Até inconscientemente, com a doutrina tradicional, embora esta não encontre apoio no Evangelho.
Dou três exemplos.
Eva, que estaria, segundo a doutrina tradicional, a partir de uma leitura literal da Bíblia, na base do “pecado original”, criou a imagem da mulher tentadora, associada ao pecado.
Quando João Paulo I se referiu a Deus como Mãe foi um escândalo tal que não faltaram os protestos, clamando que Deus é Pai e não Mãe. Para esta visão, contribuiu também o desconhecimento da biologia. De facto, o óvulo feminino só foi descoberto em 1827. Por isso, na geração, a mulher era passiva e não activa. Neste quadro, nunca se poderia rezar o Credo, começando assim: “Creio em um só Deus, Mãe toda-poderosa, criadora dos céus e da terra...” nem rezar o “Pai Nosso”, dizendo “Mãe Nossa”. Mas, em relação a esta concepção, é preciso tomar consciência de que Deus está para lá da determinação sexual e, por isso, tanto nos podemos dirigir a Ele como Pai ou como Mãe, melhor: Pai/Mãe...
Também se diz que Deus encarnou no homem Jesus. Sim, esta afirmação é clara para a fé cristã, desde que não se ignore que, no Evangelho de São João, se lê que o Logos, que é Deus, se fez carne, no sentido de humanidade frágil. De facto, a palavra utilizada no original grego é “sárx”, que significa precisamente a humanidade enquanto frágil, e não “anér, andrós”, que se refere ao homem masculino (daí, andrologia e androcentrismo). Deus manifestou-se, revelou-se a todo o ser humano, na humanidade frágil do homem Jesus.
Neste contexto, pergunta-se: a mulher não poderá presidir à Eucaristia? Já há anos, o então cardeal-patriarca de Lisboa, José Policarpo, que sabia Teologia, fez uma declaração que teve muito eco nos média, inclusive estrangeiros: “Teologicamente não há nenhum obstáculo fundamental” à ordenação de mulheres. A recusa baseia-se apenas na tradição. É evidente que, perante esta afirmação, os protestos choveram e o meu amigo cardeal José Policarpo, por pressão do Vaticano, teve de recuar, dando esclarecimentos. Mas, evidentemente, era ele que tinha razão, como também outros cardeais reconhecem.
Para contrapor, invoca-se que na Última Ceia não houve mulheres. Ora, esta afirmação é contestada por grandes exegetas. De qualquer modo, onde é que está que Jesus ordenou alguém “in sacris” naquela noite? Mais: o famoso biblista, talvez o maior exegeta do século XX, Herbert Haag, da Universidade de Tubinga, com quem tive o privilégio de privar, ironizou: como eram só judeus os presentes, então a Igreja devia ordenar só homens judeus!... Sobretudo: é sabido que as primeiras comunidades cristãs — não havia igrejas nem capelas nem basílicas ou catedrais — se reuniam na casa de cristãos mais abastados, pois sempre teriam uma casa mais ampla, e quem presidia era o dono ou a dona da casa. Então, se já foi possível mulheres presidirem à Eucaristia...
A questão da mulher na Igreja tem, pois, de ser revista. Para não ferir o que Jesus disse: “Sois todos irmãos e iguais” nem este princípio fundamental do Concílio Vaticano II: “Toda a forma de discriminação nos direitos fundamentais da pessoa por razão do sexo deve ser vencida e eliminada, por ser contrária ao plano divino.”
Afinal, a linguagem que nos leva a dizer: “a Igreja discrimina as mulheres” revela bem onde reside o nervo do problema. Que Igreja é que discrimina? Quem é a Igreja? Evidentemente, ao dizer que a Igreja discrimina as mulheres, estamos a referir-nos à Igreja hierárquica: Papa, cardeais, bispos, padres, cónegos, monsenhores — com duas classes: clero e leigos —, quando o que Jesus queria era a Igreja como comunidade de comunidades, que obriga a dizer: “a Igreja somos nós”, a comunidade dos baptizados, homens e mulheres, uma comunidade de iguais, com carismas e ministérios vários ao serviço de todos, entre eles, o da presidência da Eucaristia, exercido por homens ou mulheres.
Anselmo Borges Padre e professor de Filosofia Escreve de acordo com a antiga ortografia 8 de março de 2025