APRENDER COM AS ARTES
Dedico esta crónica a Maria Luísa Guerra, minha Mestra, sempre.
António Carlos Cortez acaba de publicar uma antologia intitulada Artes e Educação, na qual diversos autores portugueses escrevem sobre a importância da dimensão criadora na Educação. Estamos no coração da aprendizagem, e a referência às Artes não se reporta a um aspeto marginal na vida da Escola e da educação, mas à procura de uma formação capaz de promover a cidadania ativa, responsável e competente. Carlos Fiolhais recorda Rómulo de Carvalho, professor, cientista e poeta, quando afirmava que o artista e o cientista “desempenham na sociedade o mesmo papel de construtores, de descobridores, de definidores: um do mundo de dentro, outro, do mundo de fora. (…). E que ambos esses mundos exigem a permanente busca, a orientada investigação que em nossos dias, é considerada apenas apanágio da ciência”.
Um cidadão nos dias de hoje tem de estar consciente da importância dos valores em presença – não pode ignorar o que caracteriza o mundo de hoje, com uma preocupação de saber mais, de conhecer melhor, de compreender e de estar desperto para a realidade que nos cerca. Educação, ciência e cultura estão intimamente ligadas, não havendo compartimentos estanques que separem os mundos da vida e do conhecimento. Se a ciência procura entender o mundo que habitamos, as artes revelam a capacidade criadora. E o certo é que nada disso poderá ser-nos estranho. Olhamos em volta e verificamos que as aprendizagens dos nossos jovens ou da sociedade são em geral insuficientes e incapazes de corresponder às exigências atuais. Não podemos aceitar isso como uma fatalidade. Impõe-se sermos mais exigentes. “Quanto conhecimento se perde na informação. Quanta sabedoria se perde no conhecimento” – usando a expressão consagrada de T.S. Eliot. Quando visitamos as Bibliotecas escolares é fácil verificar que os estudantes mais bem preparados são os que mais leem e que melhor aproveitam os centros de recursos, dispondo de um modo ativo dos instrumentos postos à nossa disposição nos livros ou no mundo digital, do mesmo modo, que os professores que melhor motivam os seus alunos são aqueles que promovem a leitura e a descoberta de uma aprendizagem criativa e motivadora. E, falando da prática das artes, temos que o teatro, a dança, a música, a pintura, o desenho são extraordinários fatores de motivação e de cooperação ativa. Como afirma José-Augusto França, “o problema fundamental foi (…) e continuará ser, o da preservação do valor lúdico da criação artística, para além do processo técnico implicado; mas este tende a libertar-se das suas referências teóricas e situar-se como imediato uso estético, na sua leitura”. Não há língua sem a literatura, nem Arte sem os artistas, nem Ciência sem os cientistas. Tudo se relaciona. Lembremo-nos da experiência extraordinária do maestro Yehudi Menuhin no MUS-E que, através da música, mobilizou estudantes, professores e comunidades em nome da qualidade e da justiça. Se há sinais preocupantes, não podemos baixar os braços, não podemos facilitar: o trabalho, o rigor e a qualidade são cada vez mais necessários. Para respeitarmos as diferenças e para sermos inclusivos, temos de encontrar instrumentos inteligentes capazes de favorecer o desenvolvimento. Não podemos ceder à mediocridade. Como disse Fernando Pessoa: “é a arte e não a história que é mestra da vida”.
GOM