Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

COMO ABRIR HORIZONTES?

  


A Exposição “Arte Britânica – Ponto de Fuga” a decorrer na Fundação Gulbenkian no âmbito do Centro de Arte Moderna (CAM) constitui um acontecimento, não apenas pela qualidade das obras expostas, mas também pelo sinal que dão, de um diálogo vivo no domínio da cultura e das artes com artistas de origens diversas que se encontraram no pós-guerra, que lançaram caminhos novos e muito fecundos, após os momentos dramáticos de angústia e destruição da “Blitz”. No caso português, a abertura de horizontes foi fundamental, num clima fechado, graças às bolsas de estudo e aos incentivos atribuídos pela Fundação Gulbenkian a alguns jovens que puderam ver as suas carreiras enriquecidas, mas sobretudo que puderam frequentar as melhores escolas e trabalhar com os melhores artistas do seu tempo.

O investimento na cultura é verdadeiramente reprodutivo quando se traduz na mobilidade internacional, no intercâmbio e na partilha de experiências. Isto aplica-se aos diversos domínios do conhecimento, envolvendo a educação, a ciência e a cultura e a Fundação Gulbenkian compreendeu-o desde sempre e por isso constituiu-se numa candeia que soube sempre ir à frente. No caso desta mostra, possível graças ao conhecimento e à sensibilidade de Ana Vasconcelos, Rita Lougares e Sarah Mac Dougall, e à encenação de Mariano Pissarra, podemos encontrar vários motivos de ponderação. Antes do mais, o encontro de dois conjuntos de grande qualidade que se completam – o do CAM e o da coleção Berardo; por outro lado, uma apreciável diversidade de perspetivas que permitem entender várias correntes relevantes da arte contemporânea. Atendo-nos aos casos de Paula Rego, Menez e Bartolomeu Cid dos Santos, nas suas diferenças, fácil é de perceber uma influência biunívoca entre o contributo pessoal de cada um e o resultado do mergulho num meio aberto e cosmopolita, que ganha claramente com a originalidade do seu contributo. E refiram-se ainda os casos de Eduardo Batarda, Fernando Calhau, Graça Pereira Coutinho, João Penalva e Rui Sanches. Perante obras como “Renaissance Head” de David Hockney ou “Oedipus and the Sphinx after Ingres” de Francis Bacon, a título de exemplo, compreendemos como a cultura segue caminhos múltiplos, alimentando-se desde os temas clássicos às tendências populares. O mesmo se diga da presença de Bridget Riley, Antony Gormley, Rachel Whiteread, Frank Auerbach, ou David Bomberg.  

Num tempo difícil como o atual, somos assaltados pelos fantasmas perturbadores da intolerância, do fanatismo e da idolatria, sendo importante que possamos evocar os bons exemplos de inconformismo e de audácia criadora, como fatores de emancipação. No percurso da exposição da Gulbenkian, sentimos a força de um apelo à criação e à aprendizagem. De facto, é muito importante continuar a assumir o objetivo de abrir horizontes e de fazer da cooperação cultural um fator decisivo de desenvolvimento humano, fiel aos objetivos centrados na educação, na arte, na ciência e na filantropia. A Arte e a Cultura constituem com a Ciência e a Educação insubstituíveis catalisadores de progresso, de respeito mútuo e de reconhecimento da liberdade e da cidadania baseadas na dignidade humana. Numa conjuntura de anti-cultura, de censura e de circuitos fechados, como a de hoje, como correr os riscos necessários para abrir horizontes?


GOM