Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICAS PLURICULTURAIS

  


209. COISIFICAR OU VIVER O TEMPO


Descontentes e frustrados com nós próprios procuramos, muitas vezes, os mais variados modos de evasão. Não é só a alucinação da velocidade, a droga, o sexo, as compras e o consumo compulsivo. É tido como escapismo tudo quanto excede as necessidades primárias dos humanos em condições normais de saúde física e psíquica, incluindo uma procura exagerada de novidade em coisas simples e indispensáveis à felicidade da maioria das pessoas, como na alimentação e vestuário.

A permanente necessidade de acompanhar a moda, de estarmos sempre na onda, geradora de frustração se assim não for, é uma compensação ilusória para uma vida que não muda, em que o tempo fica (e não passa) e nós é que vamos passando.

Fazer tudo para esquecer que envelhecemos e somos mortais, adquirindo e consumindo mais coisas, não é solução para viver, dado que, ao fazê-lo, se meditarmos e nos ouvirmos, a nós próprios, no silêncio, olhamos para o nosso interior e sentimo-nos angustiados, oprimidos e vazios.   

Se aceitamos que o tempo é uma “coisa”, porque é usual dizer-se que o tempo é “dinheiro”, também aceitamos que o nosso tempo está coisificado, porque é um mundo de “coisas”.     

Perante a mortalidade da nossa condição há que saber observar e fruir as múltiplas singularidades da vida, ser capaz de ter resistência à frustração da monotonia, do tédio, do repetir a mesma tarefa, do não fazer nada, o que não é fácil, mas difícil.

É necessário substituir a expressão derrotista “matar o tempo”, por outra, mais importante, que será saber “viver o tempo”, preenchendo-o, material e espiritualmente, da forma mais adequada à evolução e ao progresso.

Há que saber domesticar o culto do impulso humano de agir, da fuga, da evasão, do escapismo e sermos capazes de permanecer em repouso e em silêncio para pensar, meditar e observar.


18.04.25
Joaquim M. M. Patrício