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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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POESIA

Minha metade lá, meu lá, meu cá 

  
    David hockney


1.

Minha metade lá, meu lá, meu cá

 

porque não era este ser antes de ser

quase totalidade

que ao correr por tantas coisas

também as fui abandonando

para existir e ouvir

outros assombros


2.
 

Minha metade lá, meu lá, meu cá

 

que sobre terra e mar de minha vida

descobri as flores da oceania

percebi verdades

sem domínio

entendi falares, silêncios e muitas dores

na alegria das montanhas que se não inclinam

com o tempo

e que assim seja


3.

Minha metade lá, meu lá, meu cá

 

grandeza que me torna diminuta

dentro de cada folha íntima da floresta inteira

muito além da minha pele

em ti

dedilhei o sol

e um medidor de chuva

às minhas lágrimas


4.
Minha metade lá, meu lá, meu cá

 

os meus pés livres

em danças de partidas e regressos

em virações e desavisos

acordei

batucada em orações

que as nunca acreditei

sem medos


5.

Minha metade lá, meu lá, meu cá

 

raízes fortes de onde eu vim de mim

licença de maternidade

tempo

que agora sou

e as ruas

cortejos de ilusões

fui esquecendo de esquecer

e acordei na minha porção

totalidade

metade lá, meu lá, meu cá

minha casa una entre uma curva e outra


Teresa Bracinha Vieira