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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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CRÓNICAS PLURICULTURAIS


217. O IMPERATIVO HUMANO E A DESILUSÃO HUMANA


Se aceitamos que é a ação que nos define, então existe um imperativo humano, em todos nós, em deixar uma marca, ou uma mancha. Se formos ambiciosos, motivados e poderosos, presume-se que queiramos marcar a História. Ou manchá-la, mesmo que o não aceitemos.   

Se assim é, o meditar, o pensar e a capacidade de escolher estar só é, para muitos, um sofrimento, um desvario, um sentimento de autocomiseração, de angústia, um vazio, um grupo de umbiguistas, pelo que, quem o faz, precisa de se levantar, fazer algo, abrir-se e sair para o mundo. Precisa de ação, embora também a haja por omissão. 

Indicia-se que, inspirando-nos em seres humanos movidos permanentemente pela ação, temos sempre sucesso, porque têm as respostas, não nos desiludindo, mesmo que vivam numa fuga antropológica, norteada por um imperativo humano de sobrevivência, num corre-corre para a agitação e o ruído, não se autoconhecendo e ignorando a nossa finitude.

Só que a dúvida e a incerteza também são parte da nossa existência, sendo racional e humano pensar que quantos mais mistérios forem explicados e mais questões respondidas, menor é a necessidade de um Deus para as respostas, havendo sempre, de todo o modo, algo que nos transcende.     

Em qualquer caso, mesmo agindo com ação e sucesso, ninguém pode ser divinizado, dado não sermos a medida de todas as coisas e não termos resposta, na sua simplicidade e complexidade, por exemplo, para o vazio monocromático da lua. 

Se os cemitérios estão cheios de pessoas insubstituíveis, também o estão de pessoas de ação, que tantas vezes cumpriram como profissionais, mas nos desiludiram como seres humanos.


13.06.25
Joaquim M. M. Patrício