CRÓNICAS PLURICULTURAIS
© Rota Vicentina
226. PREENCHER TEMPOS LIVRES
Há um tempo para desporto e assistir a jogos, ir ao cinema e ao teatro, ler, estar aborrecido e agitado, sonhar, caminhar, correr, estar desocupado ou, simplesmente, não fazer nada.
Os interesses impessoais são fundamentais para ter interesse por tudo o que não tenha uma utilidade relacionada com o nosso trabalho profissional e as obrigações que nos são impostas socialmente. Uma das causas da fadiga, da tensão, da impaciência e da infelicidade é a incapacidade para ter interesse por tudo o que não tenha importância prática na nossa vida.
Ter outros interesses, além do trabalho, é ter também capacidade para ocupação dos tempos livres, para nos conhecermos melhor, para contemplar, meditar, sendo momentos de descoberta da dimensão interna da vida que são essenciais para nos compreendermos e interagirmos com o outro.
Os tempos livres fazem bem à saúde física e mental proporcionando, em pessoas isoladas, convívio e a oportunidade da conquista de amigos, mostrando que há vida para além do teclado do computador e do telemóvel aos seus dependentes. Não se torna imperioso organizar todos os seus momentos de ocupação, sendo aconselhável que seja expurgada a obsessão de os preencher a tempo inteiro. Também há um tempo para estar infeliz, para não dizer e não fazer nada, para o ócio e o tédio, o que não é fácil, mas muito difícil, exigindo toda a nossa energia, o que pode não parecer natural e humano, mas é. Tal como o estar feliz, que devemos ambicionar, e que varia de pessoa para pessoa.
Em qualquer caso, os tempos livres são sempre recomendáveis, e apenas se recomendam, não se podendo impor, sendo difícil não haver opções para o seu preenchimento, o que se pode obter por meio de um esforço bem dirigido, sob pena de se poder sofrer de algum desequilíbrio.
19.09.25
Joaquim M. M. Patrício