LONDON LETTERS
The road to war
Tempo tormentoso no canal. A primeira tempestade de Outono causou grandes estragos ao longo das frentes de mar, com chuva intensa e ventos ciclónicos, árvores derrubadas e vidas abreviadas. Há um século atrás vivia-se por aqui o sol do último Verão feliz em muitos anos.— Chérie, c'est la soupe qui fait le soldat. Em breve começava a I Great War, como agora recorda a papoila nas lapelas, uma guerra civil europeia de efeitos globais. A vertigem que assola os Big Powers marca o advento das armas de destruição maciça, derruba quatro impérios e refaz o mapa-mundo. Tudo começa com o silenciado desespero dos sérvios face a um distante trono austro-húngaro. Resulta o massacre de uma geração. — Indeede straunge ends must have straung beginnings! Se os ecos da II World War são as palavras de sangue, suor e lágrimas, proferidas na House of Commons por Sir Winston Churchill, o patriota que amanhã é homenageado no US Congress, da IWW sobrevém a imagem das trincheiras e baionetas, do sangue e fumo, da lama e cruzes. A sequência de eventos após o assassinato do Archduke Franz Ferdinand of Austria a 28 July 1914, em Sarajevo, é brutal, senão algo ensandecido. E feroz é o fim da longa Pax Britanica. Por muitos prevista, ninguém nas chancelarias foi politicamente capaz de evitar a catástrofe.
The War That Ended Peace: The Road to 1914 é o mais recente livro de Mrs Margaret MacMillan. Esta obra analisa a crise que conduz à morte de nove milhões de jovens ao longo de uma linha de batalha nunca antes vista na história humana, quando as nações continentais pegam em armas e se batem em terra, ar e mar pela autodeterminação. Um momento definidor na casa comum europeia, a GW trucida os impérios germânico, austro-húngaro e otomano a par do russo — morto às mãos da revolução bolchevique em 1917. Porque compreender este conflito que nunca entra em solo alemão é vital para hoje em dia apreender o perigo nas manobras políticas dos Central Powers, esta é uma leitura tão absorvente quanto obrigatória. Aliás, a Warden do St Antony’s College da Oxford University é a autora do magnífico Paris 1919, onde se demonstra que o aproveitamento de Herr Adolf Hitler face ao Treaty of Versailles não é um produto dos peacemakers da conferência, mas sim um instrumento da conquista do poder pelos nazis. A reparação alemã dos danos da guerra iniciada pelo Septemberprogramm do Kaiser Wilhelm II é um dos fantasmas que ainda atormenta as finanças europeias, justamente decidida na capital francesa por líderes como o US President Woodrow Wilson, o France Premier Georges Clemenceau ou ainda o UK Prime Minister David Lloyd George (incidentally, avô da historiadora), coadjuvados quer por diplomatas da estirpe de sir Harold Nicolson como acolitados por um ajudante de cozinha de nome Ho Chi Minh.
A guerra só agoniza quando os USA enviam tropas para a Europa, em 1917, favorecendo os valores democráticos, pela paz e sem pretensões territoriais. Mais exporta então Washington, cujo Congress homenageia este 30 October o US Honorary Citizen sir Winston Churchill com o busto de Mr Oscar Nemon que já se encontra nos War Rooms em London e no Museum of the Great Patriotic War em Moscow. De além-Atlântico chegam os 14 Points de Mr Wilson e um idealismo legível à luz do poema do Lieutenant-Colonel John McCrae, médico canadiano morto nas Ardenas, o qual inspira a poppy britânica. — In Flanders fields the poppies grow / Between the crosses, row on row / That mark our place: and in the sky / The larks still bravely singing, fly / Scarce heard amid the guns below. || We are the Dead. Short days ago / We lived, felt dawn, saw sunset glow, / Loved, and were loved, and now we lie / In Flanders fields. || Take up our quarrel with the foe: / To you from failing hands we throw / The Torch: be yours to hold it high! / If ye break faith with us who die / We shall not sleep, — though poppies grow / In Flanders fields.
St James, 29th October
Very sincerely yours,
V.