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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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FERNANDO AMADO: EVOCAÇÕES DE IBSEN

“O Nosso Lugar” é o título de uma conferência proferida em 8 de Março de 1922 por Fernando Amado na Liga Naval, agremiação relevante na vida cultural e doutrinária da época: marcou, durante décadas, um espaço e uma doutrina marcante e particularmente  no período em que a sessão se realizou. O texto seria editado no mesmo ano e contribuiu de forma significativa para a definição de uma doutrina abrangente da perspetiva histórica e cultural no pensamento e na obra de Fernando Amado.

E de tal forma que “o nosso lugar” nasce tanto das opções ideológicas como da analise especifica da cultura teatral. Nesse aspeto, aliás, há como que uma autocrítica  singularmente “injusta” na medida em que o autor, ao contrario do que afirma, nunca se “desviou” nem desviará, antes pelo contrário, do teatro - “convencido como est(ava) de que, das sete Artes a que poderemos chamar poéticas (Musica, Poesia, Teatro, Escultura, Arquitetura, Pintura e Dança), é o Teatro moderno a que mais requere de Abstração, de Construção, de Variedades no Equilíbrio, ou enfim, para me servir dum termo particularmente precioso nos nossos dias: de Técnica”…

Ora, recorde-se que, precisamente por essa  época, e tal como aqui temos referido, Fernando Amado inicia uma relevantíssima obra teatral, numa linha de modernidade que se inscreve na renovação modernista da dramaturgia e do espetáculo em Portugal. Não obstante - neste texto de 1922, reconhecerá “que a satisfação do dramaturgo não foi o que predominou no meu entusiasmo”…

Em seguida, Fernando Amado desenvolve uma curiosa analise da literatura e do pensamento subjacente, numa perspetiva de modernidade intemporal - isto é, dos dramaturgos que mercaram a sua época, renovaram o teatro e perduram até hoje. Os clássicos que melhor ilustram a modernidade do termo.

E cita: “Ibsen e Shakespeare são os dois  dramaturgos máximos do Cristianismo (endente-se: era cristã, acrescenta em nota). Antes deles houve os gregos, criadores da Tragédia. Shakespeare  criou o drama. Ibsen estudou os gregos, penetrou Shakespeare e realizou a fusão da Tragédia com o Drama, criando assim por seu turno, um novo Teatro (a que poderemos chamar sintético) no qual a ideia sofre uma transubstanciação,  de certo modo paralela à da Musica na obra de Wagner”.

O texto prossegue numa analise alternada dos dois grandes dramaturgos, com referencias à tradição do “Teatro helénico”. “Ibsen  pegou  no contraste shakespereano  entre o horroroso e o sublime, o ridículo e o imenso, o belo e o torpe, entre a pureza e a inquietação”. Ibsen é “o mais profundo Poeta da Vida, o Mestre dos Mestres”.

E finalmente, efetua uma analise cruzada, para alem dos nomes já citados: Nitzsche, Tolstoi , constituem com Wagner e Ibsen, “os inventores maiores do seculo passado”, percursores da renovação e modernização da musica, do teatro, da literatura. De facto, sobretudo Ibsen marca  a modernização do teatro português. E  Fernando Amado-dramaturgo bem  reflete essa influencia modernizante,  como temos visto e  iremos vendo em próximos artigos. 

 

DUARTE IVO CRUZ