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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Nascer é um movimento eterno...



Meu Caro José Saramago:

   Tenho-lhe escrito umas cartas, que vou guardando, quiçá para depois das "Festas"... Nessa eternidade, o José já (?) não tem noção do tempo, não saberá o que é um "engarrafamento" de trânsito, nem qualquer demora dos correios... Por cá, temos receio desses atrasos todos, nem na prestação das mensagens por telemóvel ou rede electrónica confiamos sempre. Veja bem, compreenda-me e perdoe-me: pois se, "daí" pode ver tudo, espero que compreenda as minhas reticências quanto à apregoada instanteineidade do serviço de correios para a eternidade...e me perdoe a dúvida! Saberá, melhor do que eu, como é humano o receio, o medo, a dúvida, a falta de fé. E terá também percebido como é igualmente humano o esforço de ser-se corajoso, temerário até, esperançoso numa promessa e fiel à resposta que lhe der. Ser-se humano é ser tenso, entre o passado antiquíssimo donde nos nasceu a alma e o futuro prometido que em segredo nos espera. Escrevo-lhe no domingo  -  que para si já não tem estação nem data  -  que repete a mensagem que aprendi menino ainda, quando a missa ainda era "dita" em latim: Gaudete in Domino semper! Íterum dico: gaudete! No terceiro domingo do Advento, somos chamados a entender que, na tensão de nós, se abre um coração à alegria. Que Deus não é um estranho, um ser castigador, que nos condenaria até pelo mal que não fizemos, antes é, simplesmente, o amor que está  -  porque é  -  no íntimo coração das coisas todas. A glória de Deus não é uma conquista doutrinária, menos ainda uma qualquer obrigação canónica. A glória de Deus é onde são os homens de boa vontade.
   Assim lhe confio a si, que não conheci, o que o coração me leva hoje a dizer aos meus amigos, crentes e incréus, que comigo por cá deambulam na esperança:
      Dei com o Menino Deus
      deitado à nossa condição.
      Perguntei-lhe Que fazes aí?
      Disse-me:
      A resposta terá de ser tua:
      de cada vez que socorreres um aflito,
      encheres de riso os olhos das crianças,
      alegrares os corações que encontrares,
      terás semeado a esperança
      e o gosto da graça
      da vida fraterna...
      E então saberás porque vim.
   Que este Natal seja uma promessa de Ano Bom do nosso coração.
   Esteja o José também no nosso abraço.

Camilo Martins de Oliveira