Nascer é um movimento eterno...
Tenho-lhe escrito umas cartas, que vou guardando, quiçá para depois das "Festas"... Nessa eternidade, o José já (?) não tem noção do tempo, não saberá o que é um "engarrafamento" de trânsito, nem qualquer demora dos correios... Por cá, temos receio desses atrasos todos, nem na prestação das mensagens por telemóvel ou rede electrónica confiamos sempre. Veja bem, compreenda-me e perdoe-me: pois se, "daí" pode ver tudo, espero que compreenda as minhas reticências quanto à apregoada instanteineidade do serviço de correios para a eternidade...e me perdoe a dúvida! Saberá, melhor do que eu, como é humano o receio, o medo, a dúvida, a falta de fé. E terá também percebido como é igualmente humano o esforço de ser-se corajoso, temerário até, esperançoso numa promessa e fiel à resposta que lhe der. Ser-se humano é ser tenso, entre o passado antiquíssimo donde nos nasceu a alma e o futuro prometido que em segredo nos espera. Escrevo-lhe no domingo - que para si já não tem estação nem data - que repete a mensagem que aprendi menino ainda, quando a missa ainda era "dita" em latim: Gaudete in Domino semper! Íterum dico: gaudete! No terceiro domingo do Advento, somos chamados a entender que, na tensão de nós, se abre um coração à alegria. Que Deus não é um estranho, um ser castigador, que nos condenaria até pelo mal que não fizemos, antes é, simplesmente, o amor que está - porque é - no íntimo coração das coisas todas. A glória de Deus não é uma conquista doutrinária, menos ainda uma qualquer obrigação canónica. A glória de Deus é onde são os homens de boa vontade.
Assim lhe confio a si, que não conheci, o que o coração me leva hoje a dizer aos meus amigos, crentes e incréus, que comigo por cá deambulam na esperança:
Dei com o Menino Deus
deitado à nossa condição.
Perguntei-lhe Que fazes aí?
Disse-me:
A resposta terá de ser tua:
de cada vez que socorreres um aflito,
encheres de riso os olhos das crianças,
alegrares os corações que encontrares,
terás semeado a esperança
e o gosto da graça
da vida fraterna...
E então saberás porque vim.
Que este Natal seja uma promessa de Ano Bom do nosso coração.
Esteja o José também no nosso abraço.
Camilo Martins de Oliveira