Antonio Gamoneda
A doçura do erro fez-me fechar os olhos. Eu, Luni !, consegui caminhar ao meu encontro à hora em mim combinada. A pedra rotativa deixou-se abrir, e o estrangeiro, num segredo comum, deu-me a mão pela transparência da ânfora que ambos víamos.
Gamoneda,
Los dedos de sus manos transparentes; aquestos nidos de diversos lazos donde ahora se besan palomas.
António, António Gamoneda,
dime el remedio de vivir que tomas. Yo que por las estrellas…e liberta da confusão fermentei os códigos, pois certo é, que por alguns deles, a tus manos vengo.
E dizes-me
Luni: tive muito frio. Muito. Decidi subir, subir até cansar o coração sem meditar na questão fundamental da força no por ti gritar. A verdade era avassaladora e eu incapaz de me selar em consciência. Mas, às vezes, a vida é assim: esplêndida dor do desassossego. O remédio?, foi o único fruto que não tive. Minha querida!, que de ânimo agora me excedes as forças!
Mi sueño vive debajo das tuas pálpebras. Tu ouves o grito das mães-d’água e acaricias os olhos que viram a inexistência. Não é que o estrangeiro não tem piedade de mim? Ou sou eu que não tenho a tua inocência e o mel escuro dele?
Yo soy la ciudad y el viento. Avistei a lancha e vigiei os teus olhos fechados. A minha sorte maior seria proteger-te numa alegria luminosa de vida. Abraçar-te. Deixa que o faça agora. Assim esconderei a emoção e as lágrimas de tanto te julgar ter.
Deixa que te possa colocar o colar. Aquele que temo, por tanto te amar.
Gamoneda, não sabes tu que me roubam por dominar e vencer lances que afinal só por minha alma são cuidados?
Atenta que viver e rumo, encarecem a vida.
Sempre te disse que quero o que fica para além do horizonte e do surgir, y la memoria de otros dias. Paz en mis ojos. enfim que vejo um sol nascituro. Vem devagar la paloma impura.
Qué humana guerra !, de amantes captados como presas. Saberás que só de te ofereceres aos ventos, não voarás.
Baja a la eternidad hasta que sientas el silencio y su pureza te confunda.
Teresa Vieira
Janeiro 2014
Sec. XXI