PEREGRINAÇÃO AO JAPÃO
Contagem decrescente - Japão (2)
A Peregrinação que preparamos para o fim do ano será acompanhada aqui a par e passo. O Embaixador Martins Janeira recorda deste modo a chegada dos portugueses ao Japão. Trata-se de uma invocação que dá bem nota da importância deste contacto dos primeiros europeus com o Império do Sol Nascente: “A praia onde os Portugueses primeiro desembarcaram fica em Nishimura Ko-ura. É uma longa fímbria de areia branca entre a manta verde da terra e o espelho azul do mar. Contemplei-a do cimo dum castelo de rochedos altíssimos, erguidos contra os ventos do largo, e de cuja altura se desfruta um panorama admirável sobre o oceano infinito. A este abrigo veio dar o junco dos portugueses, impelido por uma tempestade, talvez um dos tufões terríveis que no fim do Verão, princípios do Outono, costumam assolar o Japão, espalhando devastações e mortes. No alto dos rochedos foi, em 1927, levantada uma pedra rústica, de uns três metros de altura, com uma inscrição japonesa relativa à introdução da espingarda – teppo –, sem alusão aos Portugueses. Há ainda um pequeno templo xintoísta e uma estela de cimento com uma inscrição dedicada aos mortos da última guerra – a todos os mortos. É curioso notar que todos os monumentos aos mortos desta guerra que se vêem no Japão são dedicados a todos os mortos, de todos os países, incluindo os inimigos. Admirável sentimento humano do país mais patriótico de todos, que aboliu os ressentimentos do patriotismo e quer lembrar e despertar apenas o sentimento de amor-dos-homens, da irmandade na morte. É um novo sentimento de humanidade, que finalmente começa a dealbar na consciência dos homens e a substituir o antigo culto militar dos heróis e do nacionalismo estreito. (...) Além do estranho aspecto dos Portugueses e das suas bárbaras maneiras de comerem com os dedos, do modo ruidoso e emotivo como falavam, o que mais chamou a atenção dos Japoneses foi as espingardas que traziam. O senhor da ilha, Tokitaka, compreendeu imediatamente o seu extraordinário valor no Japão militar, e pensou: «Isto é um tesouro singular que não tem igual na Terra.» Chamaram-lhe teppo, nome que ainda persiste e que teria valor decisivo no futuro do Japão, dando a vitória aos senhores que compreenderam o alcance da nova técnica e a introduziram nos seus exércitos.» - Armando Martins Janeira, Figuras de Silêncio – a Tradição Cultural Portuguesa no Japão de Hoje.
O Embaixador Martins Janeira com o escritor Shusaku Endo (1968).