VIAGEM CNC 2011 - 3ª CRÓNICA NA RÁDIO RENASCENÇA
Timor
Longa jornada por estrada, de Dili até Baucau. É ainda aventurosa esta viagem com um caminho muito irregular a obrigar a esforços, solavancos e atenções muito especiais. As nuvens acastelavam-se no horizonte, mas a chuva não veio, antes cedendo lugar ao sol e ao calor. Primeiro tivemos a paisagem xistosa, depois a calcária, primeiro o verde e depois o amarelo, até à cidade de Manatuto, a pequena propriedade e o regadio e a seguir a estepe seca. Sempre com o mar por companhia, com um azul fantástico, apanhámos alguns sustos por causa do abrupto das ravinas. Todos ficam deslumbrados, é Timor Leste no seu melhor, terra acolhedora e agreste, intensa e doce - e até os mangais constituem lição uma vez que medram na água salgada, bastando-lhes apenas algumas horas de água doce. Chegámos a Baucau quase com uma hora de atraso e D. Basílio espera-nos com a sua simpatia e com a hospitalidade que tão bem conhecemos. Um grupo de jovens meninas aguarda-nos na Catedral e os seus cânticos na celebração são o modo de nos dizerem que somos bem-vindos. Ouvimos o seu português, às vezes inseguro, entre pequenos sorrisos, mas o olhar é transparente e de uma simpatia tocante.
Hoje já estamos de novo na Indonésia e chegámos a Amboíno. Partimos de manhã bem cedo e já aqui nas Molucas começámos a ver com os nossos próprios olhos um dos cenários da presença portuguesa no Oriente do Oriente. Apesar de pequenos atrasos inevitáveis, sobretudo tratando-se de um voo especialmente contratado, chegámos a esta baía ao fim da manhã e embrenhamo-nos de imediato numa cidade equatorial situada numa pequena ilha intensamente povoada de floresta. A presença de um tão alargado grupo de portugueses causa surpresa. As autoridades locais não se poupam a esforços para nos serem simpáticas. Somos levados ao hotel e depois ao restaurante do almoço, antecedidos por um automóvel da polícia municipal. O Prof. Luiz Filipe Thomaz recorda em pormenor as vicissitudes da presença portuguesa que aqui ocorreu de 1512 a 1605. Fala-nos do naufrágio de Francisco Serrão nas ilhas das tartarugas, do comércio do cravo e da noz-moscada e da chegada de São Francisco Xavier. Mas esses largos contos são tema para a nossa próxima crónica...
Crónica do Dr. Guilherme d'Oliveira Martins na Rádio Renascença gravada em 5 de Setembro de 2011