Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LONDON LETTERS

 

#RAF100, and The Immaculate Leader, 2018

 

Happy Birthday for the Royal Air Force. É o #RAF100. Há um século atrás surpreendiam as gloriosas máquinas voadoras, na meada da centúria eram os prodigiosos “The Few” a maravilhar, hoje é o repto tecnológico que avulta na observação, mapeamento e defesa dos céus do reino. Her Majesty Elizabeth II saúda o seu “shining example of inspiration.” — Mon chérie!

Il faut rendre à César ce qui est à César. Semana negra para o Labour Party devido às alegações de anti semitismo. RH Jeremy Corbyn elimina a sua conta no Facebook, após divulgação pública da associação com grupos cuja oposição à existência do estado de Israel usa confundir-se com um neo revisionismo em torno do Holocaust. Na linha do against-Zionism but pro-Jew, domina já o culto do Immaculate Leader. — Umm. Coming events cast their shadows before. O Duke of Edinburgh é hospitalizado em Central London, aos 96 anos, para uma cirurgia. A saga do envenenamento do espião duplo em Salisbury prossegue com nova retaliação russa face à expulsão massiva dos seus diplomatas em 26 democracias e ainda notícias contraditórias acerca da origem do novichok nerve agent. Os 2018 Commonwealth Games abrem a 4th April em Queensland (Australia), sob o mote Share The Dream e com Jerusalem como hino. O President Emmanuel Macron enfrenta uma vaga grevista que ameaça paralisar France. Fonte bem informada confirma movimentações legais na Other Union para proibir futuros euroreferendos nos estados membros.

Mild, pleasant and wet weather at Central London, with blooming flowers in the garden. Tempo nublado, porém, no seio da HM Most Loyal Opposition  A gestão do dossiê judaico no topo do Labour Party desnuda ligações perigosas a círculos ideológicos cuja oposição radical a Telaviv equipara com a defesa acrítica do líder, numa tendência de culto da personalidade por parte dos Corbynists que não pode senão espantar quantos sabem a história do trabalhismo britânico. Desta feita, RH Jezza enfurece os Brit Jews com presença em festa pascal promovida pelo Jewdas. A folha dos dadores partidários volta a encolher. Com a adversidade rival e também com refrescada popularidade da Prime Minister RH Theresa May, os Tories ganham novo fôlego em plena contagem decrescente para as eleições locais de 3 May 2018. Mas é o centenário da RAF quem por cá colhe a atenção das gentes, na abertura de uma série de eventos a estender-se até ao Summer e que algures nos elevará o olhar para o indigo do firmamento. As celebrações abrem com o Founders' Day Service numa Church of St Clement Danes (Strand, Lon) recheada de veteranos e ainda com a deposição nos degraus do Royal Courts of Justice do “100-day baton” que vai circular pelas casas dos aviadores em todas as nações do reino unido.

 

A Royal Air Force nasce oficialmente em 1 April 1918, da fusão do Royal Flying Corps com o Royal Naval Air Service, visando e conseguindo acelerar o fim da I World War. O triunfo regressa em nova guerra mundial e perdura incólume nos atuais 19 palcos de operações intercontinentais. Se, em 1940, durante indefinida Battle of Britain, Mr Winston Churchill imortaliza os flying fighters com a sua famosa frase "never in the field of human conflict was so much owed by so many to so few," hoje é Elizabeth R quem envolve a RAF em afetuoso abraço. A mensagem real fixa o reconhecimento dos comuns: "The anniversary of the world’s first independent Air Force is of great significance, and it is fitting to pay tribute to the tenacity, skill and sacrifice of the men and women who have served within its ranks over the last century, and who have defended our freedom so gallantly.  / Through its enduring focus on professionalism, excellence and innovation, the Royal Air Force stands as a shining example of inspiration around the World today and for the next generations. / May the glory and honour that all ranks have bestowed on the Royal Air Force light its pathway to the future, guarding our skies and reaching for the stars."

 

Nota final muito cá de casa. Adoro os meus amigos Liberal Democrats, tal qual quantos não são mais adeptos do clube dos Good Oldies William Gladstone, H. H. Asquith ou David Lloyd George. Por isso é difícil constatar o suave desespero com que encaram o Brexiting. É todo um padrão cívico. One more year to go, and they remain broken hearted. Jantar após jantar, conversa após conversa e igual desconsolo face à preferência insular do eleitorado em 23 June 2016. Para todos parece ser algo similar a uma funesta tragédia familiar.

Há mesmo um toque epidémico neste desconforto. A programar a Brexit free zone, cuido da diversidade à volta da mesa, apuro a ementa e aperfeiçoo a colheita vinícola nos regular meetings. Vãmente. A amena cavaqueira nalgum momento ruma para a ora mítica data de 29 March 2019. Sobrevém a sabida argumentação e o pensamento mágico de mudança da maré. Acresce o desconcerto pelo desaparecimento da razoabilidade na cena política. Admiro o idealismo dos meus amigos Lib Dems. — Well. Keep in heart that golden manner of Master Will in Timon of Athens when sketch the kind Greek gentleman before the axis of reality: — “To set a gloss on faint deeds, hollow welcomes, / Recanting goodness, sorry ere 'tis shown; / But where there is true friendship, there needs none."

 

St James, 2nd April 2018

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

 

The Great Game is back, 2018

 

Admirável solidariedade ocidental para com Salisbury. Quer pela coordenação, quer pela extensão, quer pelo efeito surpresa, a expulsão simultânea de 136 diplomatas russos hoje ocorrida em 22 países entra na antologia das relações West-East.

É um resultado direto dos desempenhos da Prime Minister Theresa May no último European Council e do Foreign Office junto dos aliados, bem como da Trump card em Washington. À ilharga do êxito, o pré acordo EU-UK passa incólume em Brussels e na House of Commons. A indústria pesqueira protesta no Thames. — Chérie! Abondance de biens ne nuit pas. Manifestação contra o anti semitismo no Labour Paty. O líder RH Jeremy Corbyn apresenta desculpas à comunidade judaica enquanto despede Mr Owen Smith MP do Shadow Cabinet, após o adversário na corrida pelo bastão clamar por segundo euroreferendo. — Umm. Tell me who you go along with and I’ll tell you who you are. Uma sondagem da LBC aponta que, na opcional, os Brits preferem sair da Other Union a manter Northern Ireland no United Kingdom. Frescas imputações recaem sobre o overspendnig dos Brexiters. A gaulesa Gemalto ganha o contrato para produzir os novos passaportes britânicos. O terrorismo islamita mata em Trèbes (France). Um mandato de Madrid detém o ex presidente da Catalonia em Germany, incorrendo Signor Carles Puigdemont em pena de 25 anos por sedição. Nuvem arenosa do Sahara cai sobre Greece. Malaysia promulga a primeira “fake news law.”

 

 

Springtime at Central London, with sunny, dry and enjoyable weather. Dias interessantes também, por aqui e pelas redondezas! Observe-se Westminster. A praça e as suas estátuas assistem hoje a episódio da esfera do extraordinário. Por regra e costume, por aqui circulam as manifestações contra o Her Majesty’s Government desde tempos vindouros. Hoje, porém, ali se protesta contra The Most Loyal Opposition por iniciativa do Jewish Leadership Council. Os rabis apontam o dedo o Honourable Gentleman Jeremy B Corbyn como "figurehead of an anti-Semitic political culture." Nem as desculpas de última hora do líder trabalhista poupam o insólito de escutar um Lab MP após outro Lab MP, representativos dos círculos judaicos, a lamentar o atual naufrágio partidário. Os laços rasgam-se desde que Rt Hon Jezza compara Israel ao Isis, numa série de incidentes que culmina no apoio a um mural em East London que parece saído de goebbelsian imagination sobre o estereotipo da zionist world conspiration. O MP de Islington North declara-se "sincerely sorry for the pain which has been caused" e reconhece agora a existência de "pockets of anti-Semitism" no Labour Party. Para os seus apoiantes, porém, o pranto hebreu nada é senão a smear campaign em véspera das eleições locais ou antes manobra de diversão perante críticas à banca capitalista e aos colonatos de Telaviv em solo palestiano. As justificações da política semitíca de Herr Hitler, a negação do Holocaust e ensaios afins ficam fora da tela esquerdista amante do Hamas&co.

 

Dentro das Houses of Parliament vivem-se cenas igualmente memoráveis numa tarde balizada por esperados statements da Tory Prime Minister relativos ao European Council e à National Security, mas sobretudo marcada com as mensagens laudatórias a Mrs May após a sucessão de anúncios do desmantelamento de boa parcela da rede russa de espionagem às mãos das democracias ocidentais, de Germany, Spain e Latvia ao Canada, Australia e Iceland. Os sorrisos largos dos conservadores patenteiam a atmosfera. A abrir o debate sobre a eurocimeira, acelerando a agenda, o Lab Leader esbate anterior (e solitário) desalinhamento com Downing Street na resposta ao ataque químico em Salisbury: “On Russia, I welcome the international consensus that the Prime Minister has built; as I said two weeks ago, the most powerful response we can make is multilateral action. So I would like to place on record our thanks to the EU and other states for their co-operation with us.” RH Red Corbyn passa depois pelas queixas dos pescadores sacrificados na fase da implementação da Brexit e move a atenção para as tarifas aduaneiras que a Trump Administration prepara sobre as importações americanas de aço e alumínio. A boa disposição alarga-se já aos backbenchers nos dois lados da Commons Chamber, com a primeira linha trabalhista a denotar a baixa de RH Owen Smith, O próprio Shadow Northern Ireland Secretary apregoa autor e porquê da expulsão: "Just been sacked by @jeremycorbyn for my long held views on the damage #Brexit will do to the Good Friday Agreement & the economy of the entire U.K.”

 

Mas como explicar os mega acontecimentos do dia? Terá sido dos hamburguers em Washington, do champagne em Moscow, do baijiu em Beijing ou das artichokes que acompanham os pan-fried scalops em Brussels? Quem recordar a gélida forma com que a senhora é recebida no seu primeiro European Leaders Summit, após o Brexit vote no reino, terá de tirar-lhe o chapéu pelas artes de persuasão no concerto internacional. Quatro horas de uma dinner conversation em Brussels, e muitas mais ao telefone com chancelarias à volta do globo, bastam para unificar posições face à agressão do Kremlin por terras de Wiltshire, a par, é certo, da monitorização que os pares vão fazendo do tweet do President DJ Trump no tocante ao aço alfandegário – com London a negociar “a EU temporary exemption into a permanent exemption.” O mais fica nos anais da Cold War 2.0. e nos danos aduaneiros à economia chinesa. O No. 10 reagira ao Salisbury Incident reenviando “23 undeclared intelligence Officers” para Moscow. Segue-se hoje acordada, sequenciada e idêntica medida pelos aliados. Assim: Os USA expulsam 60 diplomatas russos, com fecho do crítico consulado de Seattle; Ukraine, 13; Canada, 4; France, 4; Germany, 4; Poland, 4; Lithuania, 3; Czeck Republic, 3; Italy, 2; Netherlands, 2, Spain, 2; Denmark, 2; Albania, 2; Australia, 2; Iceland, 2; Finland, 1; Latvia, 1; Estonia, 1: Romania, 1; Croatia, 1; Sweden, 1; Norway, 1. O rol das alianças continuará em crescendo. Os 18 países inicialmente mapeados pelo Foreign Office sobem já para 22, 15 dos quais são parceiros continentais. Outros 12 ponderam o que fazer: Austria, Belgium, Bulgaria, Cyprus, Greece, Hungary, Ireland, Luxembourg, Malta, Portugal, Slovakia e Slovenia. A geografia política importa.

 

Meanwhile, o número um da European Commission desafina estrondosamente da orquestra global com o envio de calorosas saudações ao neo Tsar pela vitória eleitoral e mais seis anos no Kremlin. A carta de Brussels para Mr Vlad Putin merece registo pelo muito que também evidencia quanto às controversial unchartered waters da Brexit e à hostilidade da máquina administrativa no Ares. Endereçada ao “Excellency, Mr President” e assinada com um “Yours sincerely”, datada de 20th March 2018, Monsieur Jean-Claude Juncker escreve mais do que o protocolo eurocrata recomenda: “I wish to convey my congratulations on your re-election as President of the Russian Federation. / I have always argued that positive relations between the European Union and the Russian Federation are crucial to the security of our continent. Our common objective should be to re-establish a pan-European security order. I hope that you will use your fourth term in office to pursue this goal. I will always be a partner in this endeavour. / I wish you every success in carrying out your high responsibilities." Alguém andará a ler pela partitura errada. Quem? — Well. Remember how Master Will echoes the orb complains of the servant Dromio about the treatment by his masters in The Comedy of Errors: — “Am I so round with you as you with me, / That like a football you do spurn me thus? / You spurn me hence, and he will spurn me hither. / If I last in this service, you must case me in leather."

 

St James, 26th March 2018

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

 

The chemical Inspectors, A old Deal and, A new Tsar, 2018

 

Inspetores da Hague a chegar e diplomatas da Russian Federation a partir! A roda-viva em torno da tentativa de assassinato dos Skirpals em Salisbury continua em crescendo, com London a internacionalizar o caso de envenenamento do agente duplo e Moscow a exigir evidências ou... desculpas. — Chérie! Les actions en disent plus que les mots.

Em Brussels é o anúncio do acordo entre o United Kingdom e a European Union sobre o período de implementação da Brexit. Além do cheque de £40b, há uma mão cheia de novas concessões do reino para manter o acesso ao mercado único. — Umm. Appearances are deceptive. Russia reelege o President Vladimir Putin com 77% de votos. Germany saúda o antigo agente do KGB em Dresden (DDR) enquanto Frau Angela Merkel assume o quarto mandato como Bundeskanzlerin. Washington prepara pacote de sanções contra o Kremlin por cyber interference na 2016 Election, Mr Ringo Starr recebe a knighthood em Buckingham Palace. Her Majesty in Council consente no matrimónio do Prince Harry of Wales com Rachel Meghan Markle. Para a eternidade parte o fabuloso e único Professor Stephen Hawking. No cosmo eleitoral aparece a Cambridge Analytica, “a British political campaigns firm” que terá persuadido milhões com a manipulação privada do Facebook. Monsieur Nicolas Sarkozy é detido em Paris por fraude partidária financeira.

 

Desesperately cold weather at Great London, with around zero temperatures. É ainda o frio glacial vindo da Northern Asian’ Siberia. O termómetro sobe em Brussels, com a all smiles dupla David Davis e Michel Barnier a revelar o clausulado do pre-Brexit deal. São 130 páginas de “common provisions,” abarcando 13 key areas sob burocratizado título Draft Agreement on the withdrawal of the United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland from the European Union and the European Atomic Energy Community highlighting the progress made (coloured version) in the negotiation round with the UK of 16-19 March 2018. A leitura oficial de Downing Street classifica o acordo como "a significant step" nas euronegociações, mas as novas cedências britânicas ameaçam os Tories com feia guerra civil tanto no que está assente como no que não está. Na bissetriz, eis o fundamental do old new deal entre o EU's chief negotiator e o Brexit Secretary: (1) a fase de transição estende-se de 29 March 2019 a 31 December 2020; (2) os cidadãos europeus que neste período cheguem ao reino mantêm todos os direitos e garantias hoje existentes, à semelhança dos Brits expats no continente; (3) o UK assegura a capacidade de negociar e assinar acordos comerciais próprios; (4) a par da pertença aos atuais “EU trade deals with other countries”; (5) as quotas pesqueiras britânicas permanecem intactas sob condição da permanência flexível na Common Fisheries Policy; (6) Northern Ireland ficará em “parts of the single market and the customs union in the absence of other solutions to avoid a hard border with the Republic of Ireland”; (7) garante-se soberania pacífica em Gibraltar e outros domínios. Convenhamos que a tela faz jus à sageza do Prince of Lampedusa e às pintas nos sapatos de Mrs Theresa May. Meanwhile, os hard-liners do Ukip enfrentam a bancarrota após uma sentença judicial lhes apresentar uma fatura de £175,000, num processo envolvendo alegações feitas por uma sua MEP contra três Labour MPs durante a campanha eleitoral de 2015.

 

 

A praça pública mantém-se focalizada em Salisbury, porém, with a lot of talk about Cold War 2.0. A um tempo, é o súbito avultar de popularidade da Prime Minister com a sua pronta resposta ao caso dos Skirpals em contraponto com a nuvem descida sobre a cabeça do Leader of Her Majesty's Most Loyal Opposition ‒ dado o frouxo alinhamento com o No. 10 de RH Jeremy Corbyn, na House of Commons, em matéria de segurança nacional que o Foreign Secretary RH Boris Johnson diz saída dos livros da classical Russian strategy. A outro tempo, é a série das tit-for-tat diplomatic expulsions, com Moscow a afastar do país igual número de Brits aos que London retira da sua embaixada em Holland Park. A outro tempo ainda, é a internacionalização do incidente com a solidariedade ativa para com o UK dos aliados da OTAN e da EU mais a condenação do Putin’s regime no ONU Security Council e o envolvimento de Hague com a Organisation for the Prohibition of Chemical Weapons. Confrontação West-East, pois, pura e dura, taking politically risky steps among uncertain benefits, nos interstícios da apoteose moscovita ao new old Tsar.

 

Uma boa notícia para fecho, na melhor das reais tradições. The Queen Elizabeth II acaba de aprovar uma esperada boda na House of Windsor. O ato oficial segue ancestrais pergaminhos. “Her Majesty in Council” lavra a Declaration “at the Court at Buckingham Palace,” a 14 March: "I declare My Consent to a Contract of Matrimony between My Most Dearly Beloved Grandson Prince Henry Charles Albert David of Wales and Rachel Meghan Markle, wich Consent I am causing to be signified under the Great Seal and to be entered in the Books of the Privy Council."  — Well. As our Master Will firmly observes in Henry VI: — “Marriage is a matter of more worth / Than to be dealt in by attorneyship."

 

St James, 19th March 2018

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

 

The Salisbury Incident, Traitors and, A New Emperor, 2018

 

Um insólito evento médico em tarde domingueira numa pacata cidade de Wilshire suscita inquérito sobre eventual malfeitoria, O ato de rotina identifica sucessivas baixas.

Com um ex espião russo e a sua filha caem o polícia que os socorre mais 21 pessoas, todos entrados no hospital com sintomatologia de envenenamento por toxina letal. O caso torna-se numa mega investigação criminal conduzida pela National Counter Terrorism Policing Network, escalando com envolvimento militar na descontaminação do centro histórico. Uma semana depois, na House of Commons, a Prime Minister aponta responsabilidades ao Kremlin. — Chérie! À l'œuvre on reconnaît l'ouvrier. Westminster agita-se com alegações de débil etiqueta parlamentar. Entre os visados por “bullying” estão o próprio Speaker RH John Bercow e membros do gabinete do Labour Leader RH Jeremy Corbyn. — Oh-oh. A word once spoken is past recalling. Além mares, o US President Donald J Trump acede a encontro com Mr Kim Jong Un para negociar a desnuclearização da Korean Peninsula e isenta de tarifas aduaneiras “the friendly nations.” China denomina Mr Xi Jinping como novo imperador comunista. Russia vai a votos para a presidência. Os franceses debatem a liquidação do Parti Socialiste na Macronie. Aos 90, parte para a eternidade o gentil comediante Mr Ken Dodd.

Very better weather at Central London. Com o Springtime around the corner e os ilhéus especialmente ocupados a nutrir a passarada após a tempestade de neve, vivem-se cenas extraordinárias nas Houses of Parliament. O ensaiado homicídio do antigo coronel do KGB eclipsa quer a Brexit, quer temas quentes na esteira da visita do Crown Prince Mohammed bin Salman como a guerra no Yemen, o abuso dos direitos humanos e o alegado financiamento do extremismo pelos sauditas. Mesmo a murmuração em torno dos bully boys passa para segundo plano. As palavras hoje proferidas por Mrs Theresa May extravasam o Palace of Westminster: "This attempted murder using a weapons-grade nerve agent in a British town was not just a crime against the Skripals, but an indiscriminate and reckless act against the United Kingdom, putting the lives of innocent civilians at risk. We will not tolerate such a brazen attempt to murder innocent civilians on our soil.” Em tom thatcheriano e estilo que relembra abrasivo Lord Salisbury nos idos de 1890 face às pretensões africanas de Portugal, a Prime Minister faz um ultimato a Moscow para, em 24 horas, explicar como é que um gás produzido nos seus laboratórios estatais aparece no reino: “There are, therefore, only two plausible explanations for what happened in Salisbury on 4 March: either this was a direct act by the Russian state against our country; or the Russian Government lost control of their potentially catastrophically damaging nerve agent and allowed it to get into the hands of others.” Donde: “On Wednesday, we will consider in detail the response from the Russian state. Should there be no credible response, we will conclude that this action amounts to an unlawful use of force by the Russian state against the United Kingdom, and I will come back to this House to set out the full range of measures that we will take in response.”

 

O envenenamento do agente duplo em Wilshire compele interessantes comportamentos em volta. Há um exercício nacional de especulação em tríade tipológica whodunit, why him and why here, em cruzamento entre o arguto paroquialismo da Miss Marple e o hábil jogo de raposas de Mister George Smiley. “Based on the positive identification of this chemical agent by world-leading experts at the Defence Science and Technology Laboratory at Porton Down, our knowledge that Russia has previously produced this agent and would still be capable of doing so, Russia’s record of conducting state-sponsored assassinations and our assessment that Russia views some defectors as legitimate targets for assassinations, the Government have concluded that it is highly likely that Russia was responsible for the act against Sergei and Yulia Skripal,” declara a senhora do No. 10. O caso oficialmente classificado nas páginas do Hansard como “Salisbury Incident” parece mesmo saído dos clássicos mundos ficcionados de Dame Agatha Christie e de Mr John Le Carrè. Os ingredientes literários estão cá todos, desde a receita de subtil crime em paisagem bucólica cujo desnudamento revela fantasmas de um mundo de sombras até ao dilemático questionamento sobre o justo destino dos traidores – ainda que comprometidos pelo MI6 e em tempo oportuno colocados ao serviço de Her Majesty. À memória vem a série longa das estranhas mortes que ocorrem na rota britânica do Federal Security Service of the Russian Federation, a agência que sucede ao famigerado KGB no quartel general de Lubyanka Square.

 

Mas no mais sério incidente diplomático do pós Cold War há também audíveis vozes em Britain a sustentar conspiração ocidental para comprometer Mr Vladimir Putin em véspera de eleições de nula competitividade. Aqui os anais registam Mr Anthony Blunt, espião britânico que nos 50s trai a favor dos soviéticos em nome da ideologia: “Well, it’s given me great pleasure to pass on the names of every MI5 officer to the Russians!”

 

A testar as fronteiras morais no globo estão mais que mortíferas substâncias químicas concebidas nas provetas secretas. A usança do “state lab nerve gas” vai agora inflamar as tensões East-West. A Russian Federation nega tudo, of course. O prazo de London extingue-se dentro de momentos. Os Skripals lutam pela vida em câmaras de cuidados intensivos enquanto os demais recuperam. Com contornos que impõem o envolvimento da NATO na defesa de um dos seus membros, London examina já um leque de medidas retaliatórias que previsivelmente irão de novas sanções económicas e cativação de capitais à expulsão do embaixador até a potencial retirada simbólica do World Cup agendado para terras russa neste Summer. Downing Street promete resposta robusta, requerer o apoio ativo dos Allies e colocará o assunto no UN Security Council. Por apurar está, porém, a real mira nos alvejados Skripal e Salisbury.  — Yet. Even Master Will put the assassin agonizing over the temptation to kill King Duncan in Macbeth: — “If it were done when ’tis done, then ’twere well / It were done quickly: if the assassination / Could trammel up the consequence, and catch / With his surcease success; that but this blow / Might be the be-all and end-all here, / But here, upon this bank and shoal of time, / We’d jump the life to come. But in these cases / We still have judgment here; that we but teach / Bloody instructions, which, being taught, return / To plague the inventor: this even-handed justice / Commends the ingredients of our poison’d chalice / To our own lips...."

 

St James, 12th March 2018

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

0.jpg

 

The Mansion House’s speech, 13 minutes, and a spy taken out, 2018

 

1.jpg

Et voilà. O quarto grande discurso sobre a Brexit da Prime Minister RH Theresa Mary May transpira razoabilidade. Desce ao detalhe, estrutura ponte económica no English Channel e persiste no tom otimista quanto às futuras novas relações entre o UK e a European Union. A intervenção na Mansion House é bem acolhida dentro e fora de portas. — Chérie! Mieux vaut plier que rompre. O défice orçamental day-by-day extingue-se nas contas nacionais, após longos oito anos de políticas públicas com flutuante austeridade financeira. O momento é marcado pela troca de tweets celebratórios entre os exs PM David Cameron e Chancellor of The Exchequer George Osborne. — Oh well. My stars, my words, my deeds. Além Britain, um em cada três italianos vota no anti sistema, anti Euro e anti emigração partido M5s. O US President Donald J Trump introduz tarifas aduaneiras à importação de aço e assim esgrime com a global trade war. Mr Vladimir Putin ilustra a modernização do arsenal russo com as “hypersonic glide weapons,” capazes de atingir GB em 13 minutos. O Saudi Crown Prince Mohammed bin Salman voa até London, com compromisso de estreitamento nos laços comerciais “after Brexit.” Mr Gary Oldman arrecada o Oscar de Best Actor com a interpretação de Sir Winston Churchill em The Darkest Hour.

 

2.jpg

 

Extreme weather at Great London. Em volta, ninguém poupa no guarda-roupa polar quando os farrapos da água siberiana questionam ideias pronto-a-vestir do aquecimento global. A neve nas Highlands atinge altivos 97 cm e ilhéus há a introduzir os skis como adequado meio de transporte nas ruas glaciais. Passada a tormenta, sobrevêm ainda os danos nas caldeiras e canalizações congeladas. Efeito inesperado é a transferência do pódio de Mrs May no seu mais recente discurso sobre o Brexiting. A PM desloca-se de Newcastle para a imponente Mansion House, na Roman Londinium. O palácio junto a Queen Victoria Street tem história, enredos e controvérsias seculares, a começar pela projeto oitocentista do arquiteto Mr George Dance the Elder e a continuar no forçoso financiamento por taxação fiscal segundo cláusula de “occasional conformity” religiosa. Erguido nas imediações da Bank Junction, em chão onde tanto se acolheram lojas de dinheiros como bancas de ervas, bastaria o pórtico de seis colunas coríntias para desafiar a régua do tempo. Mas a residência oficial do Lord Mayor of London, cuja agenda contém por estes dias discreta viagem a Lisboa, apresenta algo mais nos seus interiores para surpreender o visitante desprevenido. No Egiptian Hall não vislumbrará traços faraónicos e algures antes acabará observando o presídio por ali edificado. Com dez celas para servir o Magistrates’ Court of the City que lá opera até 1999, nove destinavam-se a arguidos masculinos e a décima a réus feminis. Na alva do 20th-century, aqui foram confinadas sufragetes como Mrs Sylvia Pankhurst.

 

Neste cenário apresenta a Premier a positiva visão de uma Global Britain, dias depois de uma nova intervenção altamente crítica por parte de antecessor em Downing Street quanto ao curso do reino. Apelando a um free-vote nas Houses of Parliament, e não já a um segundo euroreferendo popular, Sir John Major etiqueta a Brexit com selo demolidor como “not only grand folly, but bad politics.” Em sereno contraponto ao argumento do “of course, the ‘will of the people’ can’t be ignored, but Parliament has a duty to considerer the ‘’wellbeing of the people,” a Tory Leader do Her Majesty Government enuncia cinco testes a satisfazer no processo de retirada do seio da European Union: respeitar o voto referendário, acordar um relacionamento duradouro entre London e Brussels, defender os postos de trabalho e a segurança das pessoas, ser consistente com “the kind of country we want to be as we leave: a modern, open, outward-looking, tolerant, European democracy;” e robustecer “our union of nations and our union of people.” A mensagem final para “our friends” nas 27 chancelarias continentais merece igual registo: “We know what we want. We understand your principles. We have a shared interest in getting this right. So, let’s get on with it.” No mais, fica a declaração de abandono das políticas agrícola e pesqueira comuns.

 

3.jpg

Cracking espionage story coming. Um casal é encontrado inconsciente no banco de um centro comercial no Salisbury District. Conduzidos ao hospital em estado crítico, resulta diagnóstico de exposição a perigosa substância desconhecida. Acautelado o nome do veneno, é a identidade das vítimas nos cuidados intensivos que lança lebre de suspeita em The Circus! Um dos padecentes é Mr Sergei Skripal, ex coronel do KGB acusado em 2006 pelo Kremlin de ser agente duplo ao serviço do Buckingham Palace e vindo para o reino numa permuta de espiões tida como de antologia no pós Cold War ‒ a spy swap ocorre entre o movimento do aeroporto de Vienna (Austria), em 2010 e estilo de George Smiley. As aparentes impressões digitais de Moscow são, pois, verosímeis neste envenenamento por misteriosa toxina. Tanto o ressurgimento da ameaça geopolítica russa, quanto a memória do uso de plutónio no caso de Mr Alexander Valterovich Litvinenko, como o confirmado envolvimento do MI6 no inquérito credibilizam já a tese conspirativa. Certo é que o contexto rural nortenho em torno de medieva catedral é digna dos clássicos thrillers de Sir Alfred Joseph Hitchcock, algures entre North by Northwest (1959, com Cary Grant, Eva Marie Saint e James Mason) e The Man Who Knew Too Much (1956, com James Stewart e Doris Day). Aliás, o mais recente intelligence tale pode até contar com o episódio da ida a Lisboa do exemplar salisbúrico da Magna Carta do Bad King John. — Umm. As our Master Will put it in The Tragedy of Hamlet, Prince of Denmark, we can only have hope with Ophelia that all will be well, however being aware like Claudius of the kaleidoscope of risks: — “When sorrows come, they come not single spies, but in battalions."

 

 

St James, 5th March 2018

Very sincerely yours,

V.

 

 

LONDON LETTERS

 

The Labour’s Brexit shift, 2018

 

How ironical! Depois de uma vida política de eurocético ativismo face aos continentalistas do seu Labour e do Conservative Party, eis RH Jeremy Corbyn a envergar as vestes de Remainer-in-chief

Um ideológico discurso em Coventry sobre a European Union serve ao líder trabalhista para anunciar que quer manter Britain na união aduaneira. Melhor que esta mudança de agulha, só o aplauso empresarial ao trotskista que promete renacionalizar a economia. — Chérie! On sait ce que l'on quitte, ne sait pas ce que l'on prend. O termómetro continua nos baixios por todo o reino. O cartoonista Matt sopra 30 velas de bem humorado traço no Daily Telegraph. — Well. Laughter is the best medicine. No resto do mundo, o US President Donald J Trump afirma que "we have more seven years of this" no anúncio da sua recandidatura. North Korea cede a trato diplomático com Washington. O China Communist Party pavimenta a manutenção ilimitada de Mr Xi Jinping na presidência, com emenda constitucional ao limite de dois mandatos no cargo. Por unanimidade e ao oitavo ano de guerra, devastação e tormento, o UN Security Council aprova cessar-fogo na Syria ‒ prontamente violado por indiscriminada escalada de violência.

 

 

Wind chill, a lot of weather warnings, but no signs of snow at London. Uma vaga de frio ártico perturba o quotidiano no reino, com as invernosas confusões de estradas, carris e aeroportos a estenderem-se até aos telemóveis. As imagens das árvores nevadas e das lãs adicionais contrastam com o crepitar mercurial em Whitehall. O primeiro sinal de faísca vislumbra-se na House of Commons. Em diálogo com a Premier, pela primeira vez em meses e depois do intelligence tale ressuscitado dos anais da Cold War, o Leader of Her Majesty's Most Loyal Opposition traz a Brexit para a despatch box. Os MPs digerem ainda o briefing paper com as Council Directives for Negotiations on Transition e o gradualismo da regulatory divergence face a Brussels. No ar pairam também as estranhas garantias do RH David Davis de a retirada da Other Union não significar queda “into a Mad Max-style world borrowed from dystopian fiction.” Gostos literários do responsável que por estes dias voa até Lisboa à parte, Red Jezza é ferino no political tennis: “Does the Prime Minister not feel that the Brexit Secretary could set the bar just a little bit higher?” Right Honourable Theresa May responde com pauta brexiteira: “We are very clear that we are going to ensure that, when we leave the European Union, we are able to take back control of our borders, our money and our laws. The only fiction in relation to Brexit and the European Union is the Labour party’s Front Bench, who cannot even agree with themselves on what their policy is.”

 

RH Jeremy Corbyn persiste no tema, uma e outra vez, com ramalhete de citações ministeriais ao qual não falta a cor de RH Boris Johnson: “The Foreign Secretary recently made a speech about Brexit and found time to mention carrots, spam, V-signs, stag parties and a plague of boils. There was not one mention of Northern Ireland in his speech. We are halfway through—[Interruption.] the six speeches we were told would set out the Government’s negotiating position. So far, all we have had is waffle and empty rhetoric. Businesses need to know. People want to know. Even the Prime Minister’s Back Benchers are demanding to know […]. This Government are not on the road to Brexit—they are on the road to nowhere.” Chegados a nenhures, finaliza a residente no 10 sem requerido detalhe que não das aventuras do (codename) Agent Cob: “I think I have mentioned to the Right Hon. Gentleman before that his job is actually to ask a question, but I am perfectly happy to respond to the points he made.[…] But may I congratulate him, because normally he stands up every week and asks me to sign a blank cheque? I know he likes Czechs,..”

 

Ora, o conteúdo das alegadas conversas outrora havidas entre o MP por Islington North e um obscuro espião vindo do frio são do domínio do patético. 29 anos após a queda do Berlin Wall, os arquivos do KGB & Co. guardam decerto segredos e indiscrições. Todavia, do que veio a público dos ficheiros checos, confirma-se a aproximação comunista a deputados trabalhistas da ala radical, mas o mais excitante encontrado na pasta do “foreign secretary of the Left” aparenta ser o interesse pelos apetites de Lady Thatcher nos anos de Downing Street! De todo em todo há indícios que RH Jeremy Bernard Corbyn haja sido um colaborador, somente o sabido apóstolo de alto perfil. E é justamente o missionário vermelho quem acaba de curto circuitar o manifesto “For the Many, Nor the Few” com que o Labour Party se apresenta nas ultimas eleições e onde arrecada 40% dos votos. Alinhando com teses dos Blairistes e do seu Shadow Secretary of State for Exiting the European Union, Sir Keir Starmer, o Bennite antecipa-se ao esperado discurso europeu desta semana da PM e dá uma guinada na Brexit que muda mais que a forma a aprovar nas Houses of Parliament ‒ caso Brussels aquiesça no cherry-picking que sempre recusou. Na longa intervenção de Coventry deixa nova posição negocial: "A customs union is a viable option for the final deal. So Labour would seek to negotiate a new comprehensive UK-EU customs union to ensure that there are no tariffs with Europe and to help avoid any need for a hard border in Northern Ireland."

 

Esta viragem política dos trabalhistas abre o flanco ao derrube de RH Theresa May na liderança dos Tories, onde já hoje se perfilam RHs Anne Soubry, à esquerda, e Jacob Rees-Mogg, à direita. O governo minoritário dificilmente se aguentará nas eurovotações face à informal aliança do Lab com os conservadores rebeldes. O Springtime esboça alerta meteorológico para o Mayism, pois o alvo de Mr Corbyn é o No. 10. O calendário acelera. As England Local Elections de 3 May dirão do pêndulo partidário em 32 municipalidades de London, 34 áreas metropolitanas, 68 concelhos distritais e 17 autoridades unitárias a par das diretas para as Mayoralties de Hackney, Lewisham, Newham, Tower Hamlets e Watford. Uma derrota no país e no parlamento pode forçar a sufrágio antecipado no UK. Curiosíssima é a estranha banca de contrários ideológicos. — Umm. Ironical are those which augmented with tears the stream that did not need water like Master Will remind us in the adventurous Henry IV Part 1: — “There’s no more faith in thee than in a stewed prune."

 

St James, 26th February 2018

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

 

The Munich speech, spies and, manners, 2018

 

O lugar escolhido é deveras curioso. Depois de Lancaster House (London) e Florence (Italy), Munich (Germany) é palco para um novo grande discurso da Prime Minister RH Theresa May sobre as futuras relações entre o United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland e a European Union. O tema em foco é também tão oportuno quanto incómodo: a segurança comum. — Chérie! Ne pas se poser de questions, c’est se garantir des mensonges.

O Sunday Telegraph revela laços perigosos entre membros do Labour Party e serviços secretos do antigo East Bloc durante a Cold War. No rol de alegados informadores dos ‘Commies’ aparecem os nomes de RHs Jeremy Corbyn e John MacDonell. O porta-voz do Lab Leader rejeita a imputação do anel de MPs. — Well, well. Every Jack has his dearest Jill. O Ukip despede o líder Mr Henry Bolton, tido nos bastidores como uma planta do MI5, colocando interinamente ao leme Mr Gerard Batten. South Africa procura novos rumos na era pós President Jacob Zuma. Para a eternidade partem já Mr John Mahoney e Mr Terence Marsh, aquele celebrizado pelo papel de Marry Crane em Frasier e este pela direção artística de cenários visíveis em Lawrence of Arabia, Doctor Zhivago ou Oliver. Mr Gary Oldman continua a amealhar com a sua interpretação de Sir Winston Churchill em Darkest Hour, desta feita com triunfo nos 2018 Bafta da British Academy Film.

 

 

Light rain but better low temperatures at Great London. A passarada guia os primeiros sinais do Springtime, a exemplo da gradual coloração nos rebentos florais. O fio simbólico das estações é também evidente na esperada intervenção primoministerial na Security Conference de Munich. RH Boris Johnson pavimenta-lhe por cá o caminho, com uma positiva visão de futuro soberano e braços abertos para os ‘nobres sentimentos’ dos Remainers nas vésperas do novo encontro da PM com a Bundeskanzeralin Angela Merkel em Berlin. O Foreign Secretary respira forte otimismo, quando as altas propinas universitárias preenchem a agenda doméstica e desviam o olhar para os desafios na vida dos mais jovens. Na big picture, porém, domina o countdown para March 2019. Mrs May aproveita a viagem a Germany para desnudar um pouco mais das realidades do Brexiting. Reafirma o comprometimento britânico na segurança comum face às ameaças globais enquanto anuncia que Westminster irá retomar o pleno controlo das suas políticas externa e de defesa ‒ campos até agora com responsabilidades partilhadas, nomeadamente no tocante às operações de assistência ou de manutenção da paz no resto do mundo. Pragmatismo é a senha de ordem na missiva de Downing Street para a Mitteleuropa.

 

Com o cenário teutão a sugerir quer o 1938 Agreement, assinado pelo PM Neville Chamberlain com o III Reich, quer o massacre dos 1972 Olympics, e consequente iniciativa do Foreign Secretary Jim Callaghan de criar um grupo intergovernamental para coordenar o europoliciamento e a ação antiterrorista, começa a tornar-se crystal clear para as chancelarias continentais que o reino está de saída da alçada de Brussels em múltiplas áreas sensíveis. A equação da Brexit tem mais, na perspetiva de London. Retirada da EU, sim, mas sem que tal signifique enfraquecimento na vontade política de uma protocolada nova fórmula de cooperação entre os margens do Channel. Ainda assim, autonomias à parte na rota de almejadas intermacionalidades, o Number 10 persiste na ausência dos detalhes concretos: “for ours is a dynamic relationship, not a set of transactions.” Na retórica da honorável representante de Maidenhead, sendo aqui o objetivo último “put the safety of ours citizens first,” haverá que concretizar “[a] relationship built on an unshakeable commitment to our shared values. (…) A relationship in which we must all play our full part in keeping our continent safe and free, and reinvigorate the transatlantic alliance and rules based system on which our shared security depends.”

 

Porque gerir a ambiguidade é uma das artes da liderança, abra-se a lente ao apontado atlanticismo. A última edição da Tablet apresenta três interessantes teses sobre a ascensão política de DJ Trump. É um leque alternativo viável às teorias da conspiração popularizadas pelo FBI quanto ao atual inquilino da White House ter sido alcandorado à presidência com o apoio ativo do regime russo, hipótese que acaba de ganhar formas com a 37-pages indictment contra 13 indivíduos, por alegada, concertada e dolosamente organizarem “fake campaign events” visando minar a candidatura democrata de Mrs Hillary R Clinton. O artigo de Mr Paul Berman antes foca o perfil sociológico dos eleitorados, escalpeliza os argumentos dos agravos materiais e dos ressentimentos culturais, contextualizando depois o candidato “unWashingtonian” na tradição dual da Great Republic, para acabar a identificar as raízes profundas do classificado “Mussolinian con man” e do seu “Italian style” (leia-se: mafioso) com avassaladora derrocada moral de valores na atual paisagem americana: “the cultural collapse‒ of civility, education, and decorum.” O artigo merece leitura demorada, para fixar o pormenor metodológico. — Umm. Civility, incivility! Politeness! Manners? What about those woolly lines of Master Will by the Duke Senior’s mouth in the entertaining As You Like It: — “This wide and universal theatre / Presents more woeful pageants than the scene / Wherein we play in."

 

St James, 19th February 2018

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

 

‘This England’ and, The Liberal Brexit, 2018

 

Very good, indeed. A minha amada revista This England celebra 50 anos sobre o shakespeareano  acto fundacional de Mr Roy Faiers (1927-2016). And― not decent behaviour at all, I am afraid. No melhor pano das charities cai a nódoa, com aguaceiro de falhas morais na Oxfam.

Chérie! L'avis d'un sot est quelque fois bon à suivre. Nas euronegociações, London e Brussels endurecem o idioma diplomático. Downing Street avança para um road show no reino, com série de discursos pelos Top Ministers sobre the way ahead. RH Boris Johnson expõe a visão unificadora da Liberal Brexit. — Well. Adam's ale is the best brew. O Prince Harry of Wales e a noiva Meghan visitam uma surpreendida e acolhedora Scotland. Já a PM Theresa May viaja até Belfast e RH Jeremy Corbyn ruma a Glasgow. Germany tem finalmente governo, cinco meses depois das eleições federais. O Israeli Prime Minister Mr Benjamin Netanyahu é acusado de suborno e fraude. A New Yorker revela as espantosas telas oficiais dos exs US President Barack Obama e da First Lady Michelle, ela posando num elusivo azul e ele sentado numa cadeira flutuando em verde manto floral.

Freezing weather at Central London. Nada melhor, pois, que granjeados English tea and cookies. Com este tema surge This England há 50 anos. Tal qual a sua “little sister“ Evergreen, bem longe das ruas parisienses, esta é uma revista única e tão afável quanto a singela tira com que, na Spring 1968, se apresenta em bancas e tapetes ‒ “as refreshing as a pot of tea.” O manifesto editorial logo a posiciona entre o mercado mediático e o campo literário. Visa celebrar a cultura, os usos e os costumes sob a bandeira de St George. Dizendo do ser humano que escreve, Mr Roy Faiers, a pena do fundador firma marcas no chão: “We shall not be slick or sensational. There will be no world scoop articles, no glamour pictures, no fierce controversies. Instead we set out deliberately to produce a wholesome, straightforward and gentle magazine that loves its own dear land, and the people who have sprung from its soil. Instead of politics we shall bring you the poetry of the English countryside in words and pictures. Instead of bigotry we shall portray the beauty of our towns and villages. Instead of prejudice there will be pride in the ancient traditions, the surviving crafts, the legends, the life, the splendour and peace of this England.” O apelo telúrico conjuga aqui o leque dos “traditional principles of goodness, decency and common sense” com as velhas artes gráficas, entre o verbo elegante, a bela fotografia e a ilustração rápida. Esta é uma publicação produzida em Cheltenham para leitores e assinantes apaixonados, “For all who love our green and pleasant land.” Na capa da Golden Jubilee Edition, a quaternária traz imagem de marca: Sissinghurst, o castelo no Kent do casal Sir Harold Nicolson e Lady Vita Sackville-West, com as características Elizabethan Towers e o seu White Garden. Pelas páginas interiores canta ainda Mrs Dorothy Coe: “England. / Oh, my England. / I’m coming back to you. / I’ll see you in the Springtime. Watch / For me!”

Em debate semanal colorido quanto this sweet land of mist and green, a Prime Minister assinala na House of Commons diverso aniversário mas com idêntica fibra pictural. A intervenção governamental ocorre entrecruzada com declarações duras para com os Brits do EU Negotiator. Um cada vez mais nervoso Monsieur Michel Barnier tece advertências, veicula críticas, e ameaça descartar o biénio de transição acordado bilateralmente em December 2017. É His Master voice. Tudo em modos tais, porém, que, cá por casa, evoca usual e deliciosa tirada de um antigo professor: ’Voz grossa, argumento fraco!’ O Brexit Secretary RH David Davis sai a terreiro, notando a atitude “discourteous and unwise.” Ora, já nas PMQ’s é Mrs Theresa May confrontada com as velas da assinatura do Maastrich Treaty ‒ do qual o reino fez opt-out do “social chapter.” A Tory Leader é linear na resposta para a Other Union sobre o que está sobre a mesa: “The United Kingdom is leaving the European Union. That means that we are leaving the single market and the customs union. If we were a full member of the customs union, we would not be able to do trade deals around the rest of the world. And we are going to have an independent trade policy and do those deals.” Preparam os Brexiteers a chegada à World Trade Organization? Estarão os 27 a fazer contas aos efeitos da fatura tarifária nas balanças externas? E onde anda o racional da comunidade europeia de ideais e interesses?

Nota final sobre um livro com informação preciosa sobre um período sombrio da história comum. Em September 1940, nos Pyrenees, guardas fronteiriços recusam a passagem de France para Spain a um refugiado judeu alemão. Mr Walter Benjamin suicida-se na circunstância. Cerca de três semanas mais tarde, em Paris, sete anos após escapar da Nazi Germany e em vésperas de rumar a Lisboa com destino aos USA, Mrs Hannah Arendt (1905-75) comunica a triste notícia a outro amigo do filósofo berlinense.

Mr Gershom Scholem (1897-982) lê sabido cri de coeur: “Jews are dying in Europe and are being buried like dogs.” Ela é a jornalista que, em 1962, de Jerusalem, reporta o julgamento do SS-Obersturmbannführer Otto Adolf Eichmann disserta sobre a banalidade do mal e desperta a humanidade para o risco da demissão da consciência; Ele é o arqueológo do misticismo cabalístico e autor indispensável na visitação a Zohar, Book of Splendor. Unidos no debate do Holocaust, o Zionism separa-os nas correntes da Diaspora e de Israel. A relação epistolar entre os dois pensadores é agora editada em inglês pela Prof Marie Luise Knott, na University of Chicago Press, com tradução por Mr Anthony David entre as cartas e os documentos. The Correspondence of Hannah Arendt and Gershom Scholem condensa ideias que atravessam clivagens políticas contemporâneas (atenção, straussianos!) e dá pistas para aclarar uma controvérsia em torno da natureza diabólica do poder, à sombra de mão humana que coorganiza os guettos, as mass deportations e os death camps durante a II World War (1939-45). Vale também para ponderar sobre a geopolítica do espectador imparcial — Umm. Do never forget that dark human observation of Master Will in The Tempest: — “Hell is empty and all the devils are here."

 

St James, 13th February 2018

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

 

The Representation of The People Act & some shenanigans, 1918-2018

 

O Royal Assent data de 6 February 1918. O King George V promulga a lei eleitoral que reconhece o direito de voto às mulheres, pela primeira vez, após décadas de acesa luta por movimentos mais ou menos calorosos como as Suffragists e as Suffragettes. The Representation of The People Act 1918 alarga o eleitorado aos homens com 21 anos e às mulheres com 30 anos, casadas, proprietárias ou academicamente graduadas. — Chérie! La belle plume fait le bel oiseau.

O EU Chief Negotiator viaja até London para acelerar o Brexiting. Downing Street recebe Monsieur Michel Barnier com anúncio de o UK recusar qualquer união aduaneira comum. — Well. Tide and time wait for no man or woman. As Houses of Parliament vão abandonar o Palace of Westminster for years, para obras de restauração estimadas em £3.5bn. A Prime Minister “Auntie” May regressa da China com um louvor do President Xi Jingping pelo pragmatismo, uma carteira de contratos comerciais que ascende a £9 billion e um acordo bilateral para promover o “global free trade.” Pope Francis recebe no Vaticano a histórica visita do Turkish President R Erdogan. Warsaw avança para a criminalização das referências aos “Polish death camps” como Auschwitz ou Treblinka. As bolsas de valores mundiais agitam-se.

Snow showers and minus degrees at Central London, within a lot of weather warnings in the coldest week of the Winter… so far. Estava tudo por aqui tão tranquilo, salvo a Tory Civil war, o Labour Anti-semitism, o Brexit divide, o Palace full decant…, e eis que entram em cena os Free Masons. Três lojas maçónicas estão ativas e a operar secretamente em Westminster, segundo o Guardian. Unem membros das Houses e do Political Press Corps: a New Welcome Lodge, aberta aos parlamentares; a Gallery Lodge, para as várias alas do lobby; e a Alfred Robbins Lodge, destinada a jornalistas e outros. As teses de conspiração exuberam, pois, quanto ao alinhamento das lealdades e quando Whitehall reativa a cirúrgica violação dos documentos oficiais no âmbito do afadigado Project Fear. Há um século atrás, todavia, experiencia-se mais: The strange death of Liberal England (George Dangerfield, 1935). No Number 10 cai o liberal HH Asquith e entra o radical Tory David Lloyd George. A nova balança de poderes avança com the votes for the middle-class women and the working-class men.

1918. A Great War segue ainda o curso cruento, mas com desfecho acelerado pela entrada dos United States of America ao lado dos Allies “in defence of the principles of Liberty and Justice.” No His Majesty’s Most Gracious Speech às Houses of Parliament, George V refere a tormenta que ocupa o Imperial War Cabinet, agradece públicas provisões “for the heavy expenditure of the War” e sublinha aos Lords and Gentlemen um outro evento de alta magnitude. O monarca fundador da novel House of Windsor releva que “I have been pleased to give My consent to your proposals for the better Representation of the People. I trust that this measure will ensure to a much larger number of My subjects in the United Kingdom an effective voice in the government of the country, and will enable the National Unity, which has been so marked a characteristic of the War, to continue in the not less arduous work of reconstruction in times of peace.” A expansão popular do cosmos eletivo firma bases em aristocrático cradle of democracy para vencer a paz interna após um almejado armistício externo, já sobre a revolucionária aprovação parlamentar da pioneira Minimum Wage Bill.

O Lloyd George Coalition Govt (1916-22) aprova uma aspiração política que recua ao 1818 Plan of Parliamentary Reform de Mr Jeremy Bentham e à formatação jurídica do MP John Stuart Mill na 1867 Reform Bill. No seio de inequívoca maioria conservadora-trabalhista-liberal destaca-se o apoio de honoráveis Herbert Henry Asquith, Ramsay MacDonald, Bonar Law e Winston Churchill. A reforma eleitoral de 1918 passa na House of Commons com 385 vs 55 votos, logo secundados na câmara dos Peers. Mrs Millicent Garrett Fawcett, a instituidora da National Union of Women’s Suffrage Societies anota no seu diário terem passado 61 anos desde que ouvira a ousada proposta de Mr Mill. O comentário da senhora diz dos tempos; “So I have had extraordinary good luck in having seen the struggle from the beginning.” O sufrágio dobra e seis milhões de mulheres participam nas eleições gerais de December 14, no passo inicial da emancipação só completa com o Equal Franchise Act 1928 ― o sufrágio universal promovido pelo Conservative Government de RH Stanley Baldwin. So, in a decennial while, parliamentary crocodile.

A perspetiva dos longos ciclos históricos assiste na leitura da tela política além das perceções. Algo bem diverso do carpe diem que anima os shenanigans around. Só umas quantas pinceladas acerca da espuma dos dias. Cresce a onda de orgulho nacional inspirada pelo filme Darkest Hour e até um relutante Mr Charles Moore se rende à ida ao cinema para apreciar o monumento público. Ativistas ruidosos manifestam-se contra a decoração churchilliana no interior do Blighty Cafe, em North London, ignorando que o casal Jeremy Corbyn está entre os seus frequentadores. O Deustch Ambassador em London, Dr Peter Ammon, classifica a Brexit como “a tragedy” e nota que “the image of Britain standing alone in the second world war against German domination has fed Euroscepticism in the UK, but does little to solve the country’s contemporary problems.” Regressam os weekends protests a Westminster Village enquanto o Brexit game of chicken preenche os écrans na Sunday Politics, O Brexiteer chieftain RH Jacob Rees-Mogg protagoniza heroica tentativa de dialogar com um grupo de anónimos mascarados empenhado em impedir que fale numa conferência na University of Bristol. O Economist e o Spectator aumentam o rol das vendas com capas teatrais, um encaixilhando “The Next Nuclear War” na península coreana e outro emoldurando “The Theresa’s choice: Lead or Go.”

Ora, enquanto os Tories reimaginam diariamente dramas políticos como Julius Ceasar e Macbeth,  face ao monólogo going nowhere da sua líder, partem para a eternidade duas senhoras da escrita.

Fica o farewell para Mrs Ursula K Le Guin, aged 88, a laureada criadora de Sci-Fi, amante de gatos e discípula de JRR Tolkien a Philip K Dick, a par de discreta tradutora ocidental de Lao Tzu: Tao Te Ching. A Book about the Way and the Power of the Way. E também good skies para a Oxonian Mrs Jenny Joseph, aged 85, uma favorita dos ilhéus e autora do famosíssimo Warning que cognomina de red hatters as 50plus: “When I am an old woman I shall wear purple / With a red hat which doesn't go, and doesn't suit me. / And I shall spend my pension on brandy and summer gloves / And satin sandals, and say we've no money for butter. / I shall sit down on the pavement when I'm tired / And gobble up samples in shops and press alarm bells / And run my stick along the public railings / And make up for the sobriety of my youth." A sua poesia conquista o Gregory Award com Unlooked-for Season e o Cholmondeley por Rose in the Afternoon, culminando na Fellowship da Royal Society of Literature. — Umm. Perhaps was between red and pink hatters that ours Master Will writes that special line of Troilus and Cressida: — “Things won are done; joy’s soul lies in the doing."

 

St James, 5th February 2018

Very sincerely yours,

V.

PS: Happy birthday para a UK Ambassador to Portugal, Mrs  Kirsty Hayes.

LONDON LETTERS

 

Brexit? Or Brexitoin? Or yet Westminsterxit, 2018

 

A European Union aperta o cerco a Britain. O negociador mor Monsieur Michel Barnier anuncia as condições continentais para o biénio da implementação da Brexit com acesso aos mercados, resumível na totalidade das obrigações financeiras e nenhuns direitos decisórios.

A fúria dos Brexiteers com a PM RH Theresa May vai em crescendo. “Name the date of your departure or we will do it for you,” assinala no Mail On Sunday o ex Tory Party Chairman Mr Grant Shapps. — Chérie! Les conseilleurs ne sont pas les payeurs. A House of Lords classifica a EU (Withdrawal) Bill como “constitutionally unacceptable.” Os Peers dizem-se aqui “disappointed” por o Her Majesty Government ignorar as suas prévias recomendações legislativas. — Well. Things will get worse before going better. A UK Prime Minister reúne-se em Davos com o US President Donald J Trump e ouve uma inequívoca declaração do apoio norte americano à comunidade de ideais e interesses, assente num “lucrative new transatlantic trade deal.” Já a Bundeskanzlerin Frau Angela Merkel etiqueta o estilo negocial de Mrs May sob sibilina fórmula do “Nothing to say, Make me an offer.” Em London, porém, muitos interrogam se antes não é senão a Brexitoin ‒ a Brexit only in name.


Cold days
at Central London. A neblina matinal que envolve Westminster Village traz à memória laivos do Bruges Speech apresentado por Mrs Margaret Thatcher. Falando no College of Europe, em 1998, a Iron Lady sente necessidade de sublinhar ancestrais evidências a uma peculiar elite: “Europe is not the creation of the Treaty of Rome. Nor is the European idea the property of any group or institution.” Os ecos de Brussels denotam os ventos do esquecimento e da soberba. Enquanto Mrs May ruma para Beijing em oportuníssima 3-days state visit e o Project Fear retorna em força às ilhas, num e noutro caso com os mandarins de Whitehall e apêndices na Press revelando especial empenhamento em cenários de ruína e pauperismo, a febril atmosfera que se observa nos main parties recorda talqualmente a punch line de RH Clement Attlee ouvida na House of Commons num suave dia primaveril de 1940. Em câmara preenchida, sob alto som de fundo dos “Hear, Hear” de muitos MP’s e do “Order, Order” do Speaker, o dirigente do Labour aponta o dedo para o Prime Minister RH Neville Chamberlain e pede-lhe a imediata resignação: “In the country’s interest man, resign! Step down! And let us find a new leader!” Algo do género ressoa agora em diferentes quadrantes e nem mesmo o calendário ajuda uma distante protagonista. Se as Local Elections marcadas para 3 May 2018 ameaçam veneráveis bastiões conservadores em prometida maré esquerdista, no dia 30th January de ido 1649, no exterior de Banqueting House, uma criação dos Tudor junto ao Thames River, é Charles The First decapitado por high treason.

Com todas as armas para si apontadas, sejam de EU Leavers ou de Remainers, a começar nos próprios Tory backbenchers, onde cada vez mais avultam as palavras de Mr Jacob Rees-Mogg, Right Honourable Theresa May ausenta-se para o outro lado do mundo. No reino, patroticamente unimpressed com os Brussels bully boys, a PM não tem alternativa política senão pronto rejeitar do unfriendly, unhealthy & unfair ultimatum da European Union. Mas os termos continentais para negociar a futura relação bilateral dizem sobre quem os decide, tanto nos aligeirados dois minutos que o EU General Affairs Council demora para os aprovar, quanto sobre a intensidade dos bloody affairs que envolvem os liames orçamentais dos 27. Note-se a régua comum: Como contrapartida dos negócios caseiros no mercado único até 2021, durante os dois anos de transição após a saída oficial em March 2019, os demais estados-membros querem que o United Kingdom pague bilionário cheque anual pela pertença ao euroclube, aplique as atuais e as novas leis comunitárias, mantenha as fronteiras abertas e ainda acate o impedimento de negociar acordos comerciais com terceiros. Tudo isto sem assento nas instituições, agências e afins da eurocracia. Na impiedosa Brexitoin, “the UK should have taxation without institutional representation.”

 

Mas esta semana decide-se por aqui uma outra árdua dicotomia do should I stay? Or should I go? que outrora celebriza os Clash. O futuro do Palace of Westminster está em debate nas Houses of Parliament, após um relatório oficial concluir que o edifício carece de custosos melhoramentos. Todas as opções estão em aberto, da manutenção à mudança temporária ou definitiva dos MPs para um outro local no reino, com os trabalhos de conservação avaliados entre £3.52bn e £5.67bn.

 

Segundo o Joint Committee dos Lords e dos Commons, apesar das firmes fundações no terreno escolhido no 11th Century pelo King Edward the Confessor, o complexo urbano defronta-se hoje com “a substantial and growing risk of either a single, catastrophic event, such as a major fire, or a succession of incremental failures in essential systems which would lead to Parliament no longer being able to occupy the Palace.” Daí o “R&R Programme,” um moderno projeto de renovação e de restauração. A história escrutinará de perto estas deliberações. Afinal, mais que “a masterpiece of Victorian and medieval eras,” as casas monumentais concebidas pelo arquiteto Charles Barry após o Great Fire of 1834 são um universal farol da tradição democrática. — Umm. At the end of the day, as ours Master Will says in Romeo and Juliet, all fluctuate with the criteria that we use to discern nature of convention as also with love: — “What's in a name? That which we call a rose / By any other name would smell as sweet."

 

St James, 29th January 2018

Very sincerely yours,

V.