A FORÇA DO ATO CRIADOR
Conversa com estudantes de Louis Kahn.
‘Um edifício é um mundo dentro do mundo’, (Kahn 1998, 31)
No livro Conversa com estudantes (Gustavo Gili 1998) Louis Kahn ao aconselhar uma assembleia, através da elevação da sua atividade profissional (‘...porque todo programa escrito por um não-arquiteto está condenado a ser cópia de uma outra escola ou de algum outro edifício.’), tenta exprimir em que consiste o ato de criar ‘espaços inspirados’.
O discurso está concentrado no interlocutor e o sujeito está em posição de transmitir a essência do seu trabalho - descobre-se aqui a autoridade de Kahn através da sua figura com professor. Kahn fala através da sua experiência, exprime-se de maneira a veicular sentimentos e despertar paixões no interlocutor (‘Busque a essência e você verá no programa aquilo que você quer...Uma biblioteca, por exemplo.’).
‘A arquitetura é a incorporação do imensurável.’ (Kahn 1998, 36)
O que é muito importante perceber é que para Kahn arquitetura é sobretudo a busca pela expressão da essência e do programa e a busca pela essência dos lugares criados para uma comunidade.
Kahn tenta assim descrever, usando a sua experiência, o seu método de trabalho (‘Na verdade, eu busco a essência das coisas.’). Kahn dá a descobrir a verdade acerca da sua procura. Kahn esclarece e faz valer as suas ideias com força, ao buscar a essência e a verdade da disciplina da arquitetura, mas também instruindo e transmitindo uma apreensão subjetiva - pela sua experiência, pelo seu estudo exaustivo dos propósitos sociais modernos, do New Deal, da vida do Homem em comunidade e das formas do passado (Kahn estudou as formas do passado nas viagens que realizou à Europa: 1928-29 e 1951-52).
Kahn expõe o problema e a solução com a sua sabedoria, repetindo constantemente a importância da ideia em arquitetura. O discurso está concentrado no interlocutor. A procura de Kahn pela intenção e pela luz faz-se, concretamente pelo desenho (‘O programa, sozinho, não significa nada, porque é com espaços que se está lidando. Então, ele deve se fazer acompanhar de esboços que expressem a sua ideia sobre qual é a natureza daquilo.’).
Ao longo do desenvolvimento do texto assiste-se a um discurso partilhado que pretende esclarecer a real tarefa do arquiteto (‘Se você procura um arquiteto, você está lidando com espaços...’). A demonstração é feita através da comparação do trabalho do arquiteto com o trabalho o pintor (‘A natureza da pintura é tal, que se pode criar a escuridão em pleno dia. Pode-se criar um vestido azul que seja vermelho. Ou portas com vãos menores do que as pessoas. Esta é a prerrogativa do pintor.’). O discurso termina com o aconselhamento reforçado acerca da importância de criar ‘espaços inspirados’: ‘É necessário, portanto, considerar os requisitos da essência do ambiente que inspira a atividade daquela instituição do Homem.’
Ana Ruepp