Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

A FORÇA DO ATO CRIADOR


“Whether architects like it or not, a building acts as a vehicle of meaning…”


Heinrich Klotz acredita que o significado é uma questão central da arquitetura.


No livro Periferia Perfeita, Jorge Figueira escreve que Klotz declara que a poesia superou a utopia da arquitetura eternamente nova, somente funcional e auto-referencial. O mais importante na arquitetura depois do modernismo é a ficção ou imaginação, que realiza uma arquitetura que emerge do improviso e da espontaneidade e que favorece o imperfeito e não a perfeição.


Klotz deseja pois redefinir o conceito de pós-modernismo e tentar afastar qualquer conotação negativa e superficial e até procura encontrar saídas: “… if a ‘modernist’ is capable of employing modern architecture’s repertory of forms in a new and significant way and thereby revitalizing it (…) then it is nonsensical to ignore him in the name of a merely historicized postmodernism.” (Klotz 1988, 5)


No livro The History of Postmodern Architecture (Massachusetts Institute of Technology, 1988), Heinrich Klotz anseia, por isso, valorizar o conceito da arquitetura como um veículo de significados. A arquitetura não é só evocação do passado, nostalgia, conceção de formas eternas, contraditórias ou complexas. Nem é só colagem, nem tem de responder somente ao contexto e à função e não tem de viver só do ornamentalismo e da monumentalidade. Sem dúvida, Klotz enfatiza a ideia de que uma nova forma de arquitetura surgiu desde meados dos anos setenta e que esta se coloca em oposição ao estabelecido progresso do Movimento Moderno.


“Postmodernism then appears to us to be a premodernism a return to a state antecedent to the Enlightenment. Hence we find ourselves asking whether we have exchanged progress for regression. It seems that society, caught as it is in ecological crises, withdraws its trust in progress by drawing back in discouragement from the threshold of the new, seeking instead to recapture the old and to derive security from the past.” (Klotz 1988, 2)


A dúvida acerca do progresso parece assim justificar o regresso ao conteúdo histórico. Klotz levanta as seguintes questões: será o pós-modernismo a negação da utopia que acredita na potencialidade e na salvação através do design? Ou será uma nova forma de controlo, de poder e de opressão?


Para Klotz o advento do pós-modernismo trouxe de facto o desvanecimento de uma verdade. Tudo parece perdido - o futuro, o totalmente novo, a humanização, a democracia e a moral. Mas mesmo assim, talvez o pós-modernismo seja o natural desenvolvimento de uma arquitetura que quer evitar o funcionalismo extremo e a catastrófica erosão urbana - “isn’t it a continuation of modernism by new but not entirely different means?” (Klotz 1988, 2)


Para Klotz, o pós-modernismo traz sobretudo a possibilidade de dar a uma forma particular um conteúdo específico. As formas em si só não têm importância, relevante é o seu significado. Por muitas décadas o significado das formas arquiteturais foi totalmente esquecido, ora por oposição ora por recusa os principais aspetos de interesse eram meramente estruturais, funcionais e sociais. E a consideração consciente de que a forma da arquitetura poderia ser um veículo de significado era uma coisa rara de se fazer. Porém segundo Klotz a história da arquitetura contemporânea pode ser considerada como uma história da forma e do seu significado.


“Whether architects like it or not, a building acts as a vehicle of meaning even if it is supposed to be meaningless. One way or another it presents a visual aspect. Even the vulgar postwar functionalism that cut the characteristic features of a building to a minimum produced buildings that, as they entered one’s visual field, acquired a meaning: an apparently neutral and monotonous uniformity.” (Klotz 1988, 3)


As novas tendências tentam dar atenção a outras características que vão para além das qualidades meramente funcionais - e apresentam uma possibilidade de fuga ao modo não-objetivo e da forma pura. A salvação do modernismo nunca esteve na abstração. O perigo está em construir formas desprovidas de significado. Tal como Norberg-Schulz em Intentions in Architecture, Klotz acredita que só através do simbolismo cultural, a arquitetura pode mostrar que o dia-a-dia tem um significado que vai para além da situação e do contexto imediato e tem uma participação ativa na sequência contínua da história.


Klotz deseja acima de tudo alargar o conceito de pós-modernismo para que se possa ir além de uma simples repetição nostálgica do passado: “Whenever present-day architecture observes other laws in addition to functional aptness and maximum simplicity of basic forms, whenever it moves away from abstraction and tends toward representational objectivization, I call it postmodern.”


Para Klotz, a arquitetura pós-moderna é assim toda aquela que se afasta da abstração e tende à objetivação representacional. Não procura o fim em si própria, nem serve somente objetivos práticos. A arquitetura pós-moderna é sim um meio visual que torna visível a emergência do belo e é capaz de materializar um significado. Provoca uma descontinuidade na tradição do Movimento Moderno, sendo sobretudo decisivo as intenções dos diferentes vocabulários usados.


O método capaz de dar vida a vocabulários históricos ou modernos é, para Klotz o da ficcionalização da arquitetura. O conteúdo da arquitetura, durante estes anos, passa a ser então, de substância narrativa. Passa de novo a significar um esforço criativo, que não responde somente a factos, a programas e a formas mudas, mas principalmente a ideias e a símbolos de natureza poética e que poderão ser apreendidos multisensorialmente.


“The final goal is to liberate architecture from the muteness of ‘pure forms’ (…) Then the results will no longer be repositories of function and miracles of construction, but renderings of symbolic contents and pictorial themes - aesthetic fictions which do not remain abstract ‘pure forms’ but which emerge into view as concrete objectivizations to be multisensorially apperceived.” (Klotz 1988, 5)

Ana Ruepp