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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A FORÇA DO ATO CRIADOR


O sujeito artístico no final dos anos sessenta

 

O sujeito artístico no final dos anos sessenta

 

No final dos anos sessenta, uma nova vanguarda define-se ao afirmar o artista como homem comum que procura o momento, o agora, o local. É importante criar segundo as circunstâncias do momento. O momento, todo o momento, mais nada senão o momento. Criar implica um estado de espírito em que o aqui e o agora adquirem uma enorme importância (para a vida). A realidade é a construtora do eu. A circunstância transforma-se numa eterna surpresa em movimento perpétuo.

O artista é igual ao homem comum que lançado no turbilhão do tráfego da cidade é um homem sozinho que luta contra o aglomerado de massa e contra as energia pesadas, velozes e mortíferas. Quanto mais verdadeiro o artista é (expondo a sua vida, a sua moral, os seus hábito e os seus ideais) mais poético se torna. Tal como descrito no poema ‘A Perda do Halo’, Baudelaire revela o artista como um anti-herói, um homem banal com qualidades e defeitos.

O artista abandona assim o plano moral e metafísico para mergulhar no dia-a-dia – para dar a conhecer, depreciar, corroer ou atacar sem alterar a sua posição, a partir de dentro da causa. (Lefebvre: 2008)

No final dos anos sessenta, o sujeito fragmenta-se e os seus conceitos e sentimentos passam a estar expostos a uma indeterminação interminável. O sujeito passa definir-se como um ser inconstante que não se exprime através de uma só resposta - multiplicam-se os modos de expressão (um só artista pode variar na sua maneira de se exprimir). O sujeito submete-se aos estados infinitos do inconsciente, tratando sempre os problemas de acordo com a sua atualidade (circunstância e existência). (Ferry: 2003)

A aura de pureza já não faz sentido à arte – a poesia pode nascer do homem comum e dos objetos indiferentes (experiência neo-dada). A relação do indivíduo com o mundo conhece uma transformação profunda. A referência à ideia de um universo objetivo, que os supere e os reúna, tornou-se problemática. A emergência do individualismo significa a erosão do universo das tradições, dos critérios pré-estabelecidos. O sujeito passa a estar exposto à indeterminação. A dissolução dos pontos de referência herdados naturalmente do passado deixa o indivíduo sem resposta frente às vicissitudes mais simples e mais profundas da existência quotidiana. É dentro do indivíduo que estão as respostas às questões postas pelo progresso das ciências e até das técnicas. (Ferry: 2003)

O sujeito oferece o seu corpo e o seu espírito para poder criar e assim produzir objetos capazes de ser partes totais do sujeito que frui. O pensamento do sujeito materializa-se pronto a ser experimentado, transformado e produzido para ser colocado num local preciso e único.

 

Ana Ruepp