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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A FORÇA DO ATO CRIADOR

Produção em massa.jpg

 

Arte e a produção em massa.

 

‘I want everybody to think alike.

I think everybody should be a machine.

I am using silk screens now. I think somebody should be able to do all my paintings for me.

I think it would be so great if more people took up silk screens so that no one would know whether my picture was mine or somebody else’s.’, Andy Warhol interview with Gene Swenson, 1963.

 

Em ‘Arte e Crítica de Arte’, Giulio Carlo Argan declara que a arte, no final dos anos sessenta está em crise profunda e irreversível. Para Argan a arte deixou de cumprir uma função concreta, não comunica mais nada que a sociedade possa captar e utilizar. E olha com angústia para uma sociedade sem impulsos criativos, incapaz de constituir o ambiente da vida sob formas que expressem uma concepção positiva, humana do mundo.

Na ‘Arte Moderna, Do Iluminismo aos movimentos contemporâneos’, ainda de Argan, lê-se que desde a ‘segunda revolução industrial’, o mundo está perante o fenómeno da tecnologia de informação. A morte da arte é a decadência consumada de um conjunto de técnicas artesanais, que já não se coordena com o sistema industrial da produção. O produto criativo já não é um fim, mas apenas um factor no movimento da gigantesca massa de consumo. O consumo dos objectos não mais é lento, o modelo da obra de arte tem de mudar.

Argan avança mesmo a hipótese de que a civilização do futuro venha a ser uma civilização sem arte. Para Argan, essa decadência cria um vazio cultural e concorda que a experiência estética, caso exista, deve ser acessível a toda a colectividade, constituindo um elemento de formação e património comum. Argan aconselha a que os artistas se dediquem e se adaptem à produção de objectos que todos possam ter acesso, que todos possam compreender, que todos possam fazer, que façam parte da vida – sim a grandes soluções urbanistas, unidades habitacionais, objectos de uso quotidiano, a fotografia, a publicidade, o rádio e a televisão, o cartaz, o vídeo. E aí a experiência estética pode ser sem dúvida diferente, contudo não superior nem inferior a outros modos de experiência.

Argan afirma que superado o problema da arte individual, o protagonista da experiência estética passará a ser o ambiente enquanto espaço em que os indivíduos e grupos sociais se inserem e vivem e se defrontam a si próprios. A qualidade de vida dos indivíduos e grupos depende agora da relação com a circunstância.

 

‘I am for an artist who vanishes, turning up in a white cap painting signs or hallways.’, Claes Oldenburg In Documents from The Store, 1961

 

Claes Oldenburg, por exemplo, nos anos sessenta produz objectos-modelo da sociedade de consumo ampliados e exagerados. Tais objectos ao serem materializados numa escala absurda deixam de fazer sentido – é a anulação do próprio objecto.

 

No final dos anos sessenta, o sistema técnico altera-se e talvez segundo Argan, a partir de agora a arte passará para a dimensão do inconsciente, em que poderá ser não uma causa racional, mas sim um modo profundo do agir. Argan afirma, assim o encerramento de um ciclo histórico da arte. Durante todo o tempo designado histórico, a arte foi o modelo das actividades com que o sujeito fazia objectos e os colocava no mundo, atribuindo um significado, um conteúdo da consciência.

E Argan propõe então a constituição de uma nova arte colectiva baseada, não na racionalidade e em leis universais, mas sim na produção em massa que torna o fenómeno da arte totalmente acessível. A arte deve ser praticada no interesse de toda a sociedade e não destinada a grupos restritos de poder.

 

Ana Ruepp