A FORÇA DO ATO CRIADOR
Acerca de ‘Useful Work v. Useless Toil’ de William Morris
‘Wealth is what Nature gives us and what a reasonable man can make out of the gifts of Nature for his reasonable use. The sunlight, the fresh air , the unspoiled face of the earth, food, raiment and housing necessary and decent; the storing up of knowledge of all kind, and the power of disseminating it; means of free communication between man and man; Works of art, the beauty which man creates when he is most a man, most aspiring and thoughtful – all things which serve the pleasure of people of people, free, manly, and uncorrupted. This is wealth.’
William Morris, 1884
William Morris (1834-1896), a partir de 1875, dividiu a sua vida entre o desenho de papéis de parede, cortinados e tapeçarias e a política. Foi em 1883 que começou a ler as obras de Karl Marx e filiou-se na Federação Social-Democrata, liderada por Engels. Dois anos depois, saiu da Federação e fundou a Liga Socialista. Até 1896 escreveu e publicou ensaios sobre temas ligados ao socialismo, à cultura e à sociedade, culminando no seu famoso ensaio utopista ‘News from Nowhere’, de 1891.
No texto ‘Useful Work v. Useless Toil’ (1884) que William Morris escreveu em 1884, lê-se que existem dois tipos de trabalho: um abençoado (a luz da vida) e outro amaldiçoado (o fardo da vida). A diferença entre os dois está na verdadeira esperança que o primeiro transporta – esperança no descanso, esperança na produção criativa de algo concreto e esperança no contentamento que o acto de fazer pode trazer.
Morris afirma que a desigualdade existente entre as diferentes classes da sociedade fomenta uma grande pressão sobre a classe trabalhadora e destrói qualquer tipo de esperança. A classe mais elevada não produz mas muito consome. E uma grande massa da sociedade está empenhada em tudo produzir para responder assim às luxuosas exigências da classe mais rica: ‘For if many men live without producing, nay, must live lifes so empty and foolish that they force a great part of the workers to produce wares which no one needs, not even the rich, it follows that most men must be poor.’
Segundo Morris, a sociedade inclui então três classes – a classe que não trabalha; a classe que aparenta trabalhar mas que nada produz; e a classe que trabalha, mas que é forçada pelas outras duas classes a produzir trabalho improfícuo. Desta maneira, inutilizam-se recursos – o homem movido por suas necessidades e desejos trabalhou, muitos milhares de anos, na tarefa de subjugar as forças da Natureza e de converter em úteis os materiais naturais. Morris diz que o presente sistema produz desejos no homem, mas que em simultâneo o proíbe constantemente de os satisfazer. Os frutos da vitória sobre a Natureza são assim eliminados e a determinação em trabalhar pela esperança de obter descanso, recompensa e prazer é substituído pela compulsão de trabalhar simplesmente pelo trabalho.
O que há então a fazer?
Ora, Morris sugere que a principal medida a ser tomada seja a de suprimir a classe de homens privilegiados, que foge às suas obrigações, forçando-os a fazer o trabalho que se recusam a fazer - todos devem trabalhar, de acordo com as suas aptidões e por isso devem produzir o que consomem. Cada homem deve trabalhar o melhor que pode, para seu próprio sustento, e a sociedade deve assegurar vantagens a todos os seus membros. Nenhum homem deve ser atormentado em benefício de nenhum outro (colhe os frutos do seu próprio trabalho). No entanto, a Natureza só será finalmente conquistada a partir do momento em que o trabalho do homem fizer parte do prazer da sua existência (e se torne assim luz da vida). Seria fácil pôr em prática esta medida se todo o trabalho, feito pelo homem, fosse útil e se o padrão de vida assentasse no bem fazer e não no que a classe mais elevada estabelece como desejável. ‘The ornamental part of modern life is already rotten to the core, and must be utterly swept away before the new order of things is realized.’, William Morris Morris proclama que todo o trabalho (do mais banal ao mais necessário) além de responder a exigências reais e de sustento deve acima de tudo agradar ao homem. E o trabalho só é aprazível se for: útil; limitado temporalmente; variado (a variedade do trabalho advém da capacidade do sistema educativo em desenvolver as adequadas capacidades individuais criativas); e executado em ambiente estimulante. Por isso, William Morris apela ao fim das cidades sobrelotadas, ao fim das grandes obras de engenharia – porque o vento e água são as únicas fontes de força e as hidrovias e as estradas os únicos meios de transporte – e à abolição das fábricas com condições de trabalho precárias: ‘There is no reason why people engaged in all labour should not follow their occupations in quiet country homes, in idustrial colleges, in small towns, or, in short, where they find it happiest for them to live.’ E proclama o desaparecimento da distinção entre campo e cidade, a construção de edifícios como se de casas se tratassem, o trabalho baseado na oficina associada, a educação livre, não obrigatória e a procura de uma solução (do dilema colocado pela Revolução Industrial) para a utilização adequada da máquina no trabalho do homem.
Ana Ruepp