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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A FORÇA DO ATO CRIADOR

 

Lacaton & Vassal e a renúncia à forma.

 

A arquitetura de Lacaton & Vassal vai para além da forma. Custa imaginar, nos dias de hoje, uma arquitetura que não esteja comprometida com uma ambiciosa experimentação formal.

 

A forma para Lacaton & Vassal não é um problema arquitetónico mas um simples agregar de condições que respondam a uma situação específica e particular. A forma aparece então por si mesma - como um resultado de uma análise aturada, como uma consciente e crítica submissão programática e regulamentar, como um esculpir de fatores estimulantes. A forma não é assim forçada a ser formada. 

 

Lacaton & Vassal evitam grandes, exagerados e polémicos gestos. Talvez construam a favor de um contextualismo vernacular (Casa Latapie, Floirac, 1993), ou a favor de uma equilibrada intersecção de um volume construído com natureza (Casa em Lège, Cap Ferret, 1998).

 

'This square is beautiful because it is authentic. It processes the beauty of what is obvious, necessary, adequate. Its meaning emerges directly. People seem at home there. This square is fragile. It's delicate place in which there exists a balance.', Anne Lacaton & Jean Philippe Vassal.

 

O projeto de reformulação da Praça Léon Aucoc, em Bordéus (1996) concretiza um muito necessário desejo purificado de manter uma determinada autenticidade, uma intenção clara de evitar soluções dispensáveis e uma vontade em sublinhar ativamente as condições já existentes de vida. Lacaton & Vassal para este projeto propõem somente trabalhos de manutenção como a substituição da gravilha, a limpeza local frequente, e o podar dos limoeiros. 

 

Para que a formação aconteça sem a inevitável sedução formal, Lacaton & Vassal preferem usar materiais já usados e pobres (painéis de madeira e painéis ondulados de policarbonato e alumínio). O material com que se constrói a arquitetura mantém sempre um diálogo aberto e constante com o utilizador e a homenagem que, Lacaton & Vassal, fazem ao barato submete-se sobretudo a uma tão necessária lógica de usos e também indo contra uma cultura pré-estabelecida. Porém Lacaton & Vassal não se debatem por uma imposição estética e moral. A dupla de arquitetos deseja sobretudo eleger um material pelas suas características específicas, dando sobretudo valor (espacial e material) ao que já tem valor. A análise cuidada do existente e a sua permanente valorização gera a forma da sua arquitetura.

 

Ana Ruepp