A FORÇA DO ATO CRIADOR
'The Bath' de Pierre Bonnard
'White Reclining Nude' (1956) de William Scott é propositadamente baseada na pintura 'The Bath' (1925) de Pierre Bonnard.
Para William Scott, as subtis divisões horizontais de cor e de matéria afirmam uma forte afinidade desta pintura de Bonnard com as pinturas de Rothko.
A figura submersa, de Bonnard desfaz-se na água e no plano. Esticado e parado, o corpo, numa só linha, abrange toda da tela. Os pés não aparecem, a cabeça não está completa. Tal como numa paisagem, a horizontalidade é dominante. Figura e fundo, fundem-se. Devolve-se o corpo ao seu tempo.
Bonnard escolheu ser o pintor do sentimento, isto é, o pintor que abraça a ideia de que a cor é um meio de expressão independente, e que além de conseguir representar o tema, comunica o pensamento e a intenção.
'What color do you see that tree? Is it green? Then use green, the finest green on your palette. And that shadow? It's blue, if anything? Don't be afraid to paint it as blue as you possibly can.', Maurice Denis
A verdadeira descoberta de Bonnard em relação à cor, atualiza-se no entendimento de que a resolução do conflito entre sombra e cor plana dá-se pela luz. A pintura é, assim para Bonnard o registo da cor, através das sensações e envolvidas pela luz. A superfície da tela transforma-se, por isso, numa membrana preenchida de luz, tal como um painel de mosaicos bizantino. Bonnard acredita no poder da cor para gerar luz. Luz, para Bonnard é vida, esperança, memória, calor e tudo o que pode ser sentido no mundo concreto.
'Our God is light. A day will come when you will understand what that means.', Pierre Bonnard
A pequena casa de banho coberta de azulejos, em Le Bousquet, passou a ser, desde 1927, o espaço por excelência onde metamorfose do corpo se dá pela luz.
E a pintura 'The Bath' mostra que Bonnard se preocupa continuamente com a fluidez, a transitoriedade, o silêncio, a sombra, o reflexo e com o ultrapassar do tempo, do espaço e do corpo através do poder transformador da luz.
Ana Ruepp