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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A FORÇA DO ATO CRIADOR

 

Expressão, Abstração e Fantástico.

 

'...l'homme détourne ses regards des contingences extérieures et les raméne sur lui-même.', Kandinsky

 

O final da segunda guerra mundial trouxe aos Estados Unidos a oportunidade, outrora Europeia, de se tornar o centro intelectual do mundo inteiro - onde nasciam as vanguardas, onde se estabeleciam os artistas.

 

Neste panorama complexo, onde a teoria da relatividade, a bomba atómica, os foguetões, a velocidade supersónica e a conquista do espaço são realidade, onde estabelece a arte? As respostas são cada vez mais numerosas e marcadas pela influência de três vertentes, afirmadas ainda antes da segunda guerra mundial:

 

Expressão - que acentua a atitude emocional do artista em relação a si próprio e ao mundo - e revela preocupação com a comunidade humana 

 

Abstração - que estrutura formalmente a obra de arte e reflete sobre as componentes da realidade;

 

Fantástico - que explora o reino da imaginação, em especial no seu lado espontâneo e irracional e revela os labirintos da mente individual.

 

Todas estas correntes têm em comum: sentimento, ordem e imaginação, e todas elas se inter-relacionam. Cada uma abarca uma vasta gama de conceções - realistas, não figurativas e não objetivas.  

 

No domínio da pintura, a expressão inicia-se com os Fauves que procuram estilo novo, através da utilização de cores violentas e distorções. Verificam-se,desde logo, novas experiências e um sentimento de libertação e assim também temos Der Blaue Reiter que permite a pintura não figurativa, através da contribuição de Kandinsky, Franz Mark e Paul Klee. Estes afirmavam que a essência espiritual da expressão era dada espontânea e intuitivamente por meio de cores e composições de elevado poder emotivo. 

 

Kandinsky queria o 'espiritual na arte'. As suas obras tinham de ir para além do real, para um domínio onde cores, linhas e formas já não tinham nenhuma relação com a natureza. Considerava ele, de facto, que a arte era uma atividade do espírito que permitia, tal como a música, transcender o mundo material e objetivo; entendendo também que o artista devia criar a partir de si próprio, das suas emoções, da sua perceção espiritual e do seu imaginativo interior.

 

O neo-realismo, por forte influência social, afirmou-se expressionista nos países da América do Sul - em especial no México. Esta expressão de arte estava relacionada com ideais comunistas. Era uma tendência dos anos 20 e 30 que pretendia renovar a figuração realista. Centrava-se nos problemas da sociedade e do homem - e era marcada por uma vontade de retorno às preocupações da realidade humana e da justiça social. A sua dimensão era, assim, estética, ética e social. Manifestava-se em grandes murais temáticos com o discurso apologético da autoria de José Clemente Orozco, Diego Rivera, David Siqueiros e Portimari. Todos procuravam estilo nacional e apresentavam claras influências da arte simbolista de Gauguin.

 

abstração (de tirar para fora, separar) é um processo que advém da análise e simplificação da realidade observada: 'as formas naturais baseiam-se no cone, nas esferas e no cilindro', como dizia Cézanne. 

 

O verdadeiro criador desta vertente foi, todavia, Pablo Picasso. O seu percurso como pintor iniciou-se num lirismo melancólico, expressionista. Por influências de Paul Cézanne e da arte primitiva e africana, interessou-se pela simplificação das formas, segundo a dependência, ainda, do mundo visível. E assim chega ao Cubismo, criando um mundo novo, próprio, análogo à natureza mas construído segundo princípios diferentes, com forte subjetividade. Foi nos anos 20 que Picasso, pesquisador persistente, retomou contacto com uma tradição clássica e uniu-a aos conhecimentos cubistas, culminando na obra 'As três dançarinas'.

 

O Cubismo criou, afinal, outras linguagens. São elas: o Futurismo, baseado na exaltação da máquina, da velocidade através da transmissão diversa e simultânea do movimento no tempo e no lugar; o Cubo-Futurismo, que foi uma fusão do Cubismo com o Futurismo e criou a impressão de objetos visto numa sucessão rápida, graças à interação furiosa das formas com o ambiente que as cerca; o Suprematismo com o que Malevich reduziu a arte ao menor número possível de elementos, e assim o quadro pintado, que não tinha uma relação de sujeição com o mundo real, afirmou-se como realidade suprema; o Construtivismo, que orientou a arte para uma produção de objetos utilitários, anunciando o fim da arte pela arte e preconizando uma arte funcional ao serviço da sociedade e do povo; e o Neoplasticismo, que reduzia a realidade uma estrutura ortogonal complementada por cores primárias, não indo Mondrian em busca da emoção lírica, porque o seu objetivo era a pura realidade.

 

fantasia depende de um estado espírito e não de um estilo específico. Existe a crença na imaginação e na visão interior, que é mais importante que o mundo externo. Cultiva-se a memória do eu genérico. Tanto a imaginação como a memória pertencem ao sector inconsciente do espírito - experiências espirituais são armazenadas. Havia que cativar a psicanálise, a emoção e buscar experiências subjetivas. Para a formação deste universo fantasista contribuíram: 

 

. De Chirico e Chagal, nas suas obras associam-se elementos reais com circunstâncias irreais e estabelece-se a transmissão do sonho; 

 

. O Dadaísmo, sobretudo com o trabalho de Duchamp, Max Ernst e Hans Arp, é um movimento niilista que declara a negação dos valores estabelecidos, morais ou estéticos, trazendo o non-sense e a anti-arte. Os dadaístas respeitavam a lei do acaso e as suas próprias imaginações A criação artística não dependia da habilidade manual - emergem os 'ready-made'; 

 

. O surrealismo apresenta o automatismo psíquico para exprimir o verdadeiro processo do pensamento, liberto do exercício da razão, da estética e da moral - sob forte influência de Freud e dos conceitos psicanalíticos. Os seus representantes são, entre muitos Magritte, Dali e Miró.

 

Ana Ruepp