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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A FORÇA DO ATO CRIADOR

 

O Modernismo em Portugal. (Parte II)

 

O final da Segunda Grande Guerra, em 1945, trouxera à oposição política portuguesa uma rara oportunidade de intervenção. O MUD, significou uma espécie de oposição autorizada que dominava Exposições Gerais de Artes Plásticas (EGAP). Por isso, nesses anos, assiste-se a uma tentativa esforçada das artes plásticas em progredir e abraçar a vanguarda - assim poderá modificar a sociedade. As EGAP foram realizadas anualmente entre 1946 e 1956.

 

Nas primeiras observava-se uma clara potencialidade neo-realista, que aclamava Portinari, Orozco, Rivera e Siqueiros e reclamava pela transformação social. Este realismo social foi cultivado, com grande intensidade por Marcelino Vespeira ou por Júlio Pomar. Rapidamente, porém, a maioria dos melhores neo-realistas evoluiu noutros sentidos estético-formais. 

 

O surrealismo era, porém, a corrente que apresentava no final de 40, a poética de libertação mais sedutora.

 

O Grupo Surrealista de Lisboa, nascido em novembro de 1947, era constituído por António Pedro, Mário Cesariny, Fernando Azevedo, Alexandre O'Neil, Moniz Pereira, António Domingues, Marcelino Vespeira e José-Augusto França - influenciado pelo novo impulso parisiense da Exposição Internacional do Surrealismo.

 

Divergências internas levariam à cisão do movimento em dois grupos, em 1949, com duas exposições rivais. António Pedro e Mário Cesariny formavam um grupo de pendor mais poético-literário- 'Os Surrealistas'. O contexto libertador do inconsciente seduziria outros jovens criadores como António Maria Lisboa, Cruzeiro Seixas, Risques Pereira e Alves dos Santos - que formavam outro grupo. Ambos atualizavam-se numa infinita criatividade espiritual. 

 

Em meados dos anos 50, surgia o debate sobre a pintura abstrata, dando continuidade às iniciativas da década de 40, protagonizadas por Fernando Lanhas e Nadir Afonso, que souberam contrariar a tendência figurativa da pintura portuguesa, realizando abstrações de carácter geométrico. 

 

Em 1952, com a abertura da Galeria de Março, pela mão de José-Augusto França, a pintura abstrata parisiense dos 'Salons de Reálité Nouvelles' fazia a sua apresentação em Lisboa, influenciando artistas como Joaquim Rodrigo, Vespeira, D'Assumpção, Fernando Azevedo. Nascia um novo entusiasmo em torno da abstração paralelamente a uma neo-figuração de raiz lírica com João Hogan, Júlio Resende, Sá Nogueira ou Nikias Skapinakis e à obra dos artistas que constituíram o grupo KWY. (1958-64)

 

No plano da escultura temos a existência de uma linha oficial liderada pela estatuária neoclássica de Francisco Franco e Leopoldo de Almeida; registando um maior arrojo formal com Ernesto Canto da Maia.

 

No final dos anos 40, Arlindo Rocha, Jorge Vieira, Fernando Lanhas deram um sentido mais abstrato e formalista à escultura portuguesa. Jorge Vieira (autor do Monumento ao Prisioneiro Político Desconhecido em 1953) desenvolveu temáticas organicistas dentro de uma envolvência abstrata e surreal.

 

Ana Ruepp