A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO
LXXXI - INTERNACIONALIZAR E ANGLICIZAR
O fim da segunda guerra mundial foi, sobretudo, a vitória dos aliados anglófonos e, por arrastamento, da língua inglesa.
A ideia que prevalece é a de que os que detêm o poder impõem a sua língua.
Mas há que ter presente que nem sempre a língua dos conquistadores acabou por se impor, como resulta das invasões bárbaras, que ditaram a queda do império romano, em que os conquistadores adotaram a língua dos conquistados, cedendo-lhe contributos que foram causa de modificações que o latim viria a manifestar.
Decisiva foi a intervenção americana na segunda grande guerra, cuja economia estava em condições de acudir à devastação gerada, trazendo com ela o inglês, a língua dos vencedores.
Os defensores e promotores do inglês continuam a confiar na onda e imagem que impele as instituições e organizações internacionais a restringirem, na prática, cada vez mais o acesso de outras línguas.
Mesmo na União Europeia usar o inglês é tido como mais barato do que permitir o uso de outras línguas, tido como ruinoso a nível de custos, o que não vai mudar com o Brexit, embora a língua inglesa só seja idioma oficial da Irlanda, com menos falantes que Portugal.
Há um assumir, cada vez mais banalizado, de uma caminhada do inglês como idioma oficial internacional, internacionalizando-o como língua dominante, a par da materna, a ser aprendido desde os primeiros anos de escolaridade, o que é facilitado, para as crianças, pela quase totalidade dos produtos de entretenimento, gerando a ideia geral, em vários países, incluindo o nosso, de que pessoas até aos 40 anos compreendem e leem em inglês, o que não é verdade.
Fala-se em “imperialismo anglófono”, “englofonite endémica”, língua hegemónica de caraterísticas glotofágicas, “erva daninha” que provoca o definhamento e desaparecimento das outras, alterando o equilíbrio ecológico no domínio linguístico, idioma quase exclusivo em áreas científicas, potenciado por políticas de avaliação universitária, que beneficiam a publicação em inglês em editoras e revistas internacionais, com universidades cada vez menos instituições de ensino superior e cada vez mais vocacionadas na captação de fundos para investigação.
Goste-se ou não, o inglês é a língua franca, o que não exclui que se evitem exageros e condescendências absurdas, estabelecendo prioridades e equilíbrios, desde a promoção bilingue em trabalhos académicos e científicos, à promoção do multilinguismo em conferências internacionais, sem esquecer que entre os estudantes universitários estrangeiros que frequentam as nossas universidades há os provenientes dos países de língua portuguesa, não se internacionalizando o nosso ensino superior ensinando-os e forçando-os a aprender em inglês.
Internacionalizar não é só anglicizar o conhecimento e o saber.
Internacionalizar é também, e por maioria de razão, dotar a língua portuguesa (já uma língua internacional), de recursos materiais, científicos e humanos que lhe permitam ser um meio de acesso ao conhecimento e ao saber, veículo de ciência e tecnologia acessível a todos os seus falantes, a começar pelos seus nativos.
O que significa que o português é sempre essencial e nunca pode ser menosprezado, sendo certo que dominar o inglês é uma ferramenta que nos torna mais competitivos a nível internacional.
09.04.21
Joaquim Miguel de Morgado Patrício