A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO
C - CHICO BUARQUE E O PRÉMIO CAMÕES
Surpreendeu ser Bob Dylan o vencedor do Nobel da literatura de 2016, dado o prémio ter sido, até então, primordialmente associado à erudição das letras e seus autores, a grandes escritores de todo o mundo, não a um nome tido como um músico e cantor mundialmente conhecido, tendo-se justificado a escolha por “ter criado novas expressões poéticas na grande tradição da canção americana”.
Embora autor de alguns livros, não foi essencialmente por eles que lhe foi atribuída a distinção, mas sim pelo conjunto da sua obra, onde sobressai a poesia e um legado poético que o imortalizou como cantor, compositor e músico.
Embora Dylan seja poeta e haver poetas ganhadores do Nobel da literatura, o seu nome está preferencialmente relacionado com a música, tendo-se transitado de uma interpretação restrita para uma mais ampla quanto à atribuição do prémio literário.
Com as inerentes adaptações moldadas ao seu contexto, o mesmo sucedeu a Chico Buarque ao ganhar o prémio Camões de 2019, uma vez que pelo historial da distinção os premiados são escritores, poetas, ensaístas, com destaque para o romance, conto, novela, teatro, memórias, crónica, história, crítica literária e estudos literários, estando o nome do carioca comumente ligado à música, sendo mais tido como músico e cantor.
Sucede que o laureado além de cantor e músico, também é compositor, dramaturgo, escritor, poeta, ator, autor de obras de teatro de inúmeras canções, que justificam o galardão que lhe foi atribuído, porque contribuiu, num patamar acima da média, para o prestígio da língua portuguesa e do respetivo património cultural e literário.
Nem é apenas através da escrita que se prestigia e universaliza o idioma comum, como o prova CB, universalizando-o essencialmente por via oral, como intérprete de canções, com o mérito de ainda o ter prestigiado por escrito, incluindo via literatura (com vários prémios), corroborando um maior merecimento para ganhar o prémio Camões. Recebeu-o em 2023, quatro anos após a sua atribuição (2019), por recusa do então presidente brasileiro, o que se lamenta, pois há que saber distinguir e separar o valor intrínseco da obra da ideologia ou pensar do seu autor, o que deve ser algo transversal a toda a arte e grupos sociais, sendo indesmentível que CB dignificou, impulsionou e universalizou o Brasil, a lusofonia e a língua portuguesa.
09.06.23
Joaquim M. M. Patrício