A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO
CI - PRINCÍPIO DA NÃO DISCRIMINAÇÃO LINGUÍSTICA
Entre os princípios fundadores da nossa cultura civilizacional, sobressai o princípio geral da não discriminação do homem pelo homem, em que se inclui o princípio da não discriminação linguística.
Como organização plurinacional de maior responsabilidade quanto ao futuro e estatuto de todas as línguas, a UNESCO definiu, como regra oficial, que todos os idiomas, por inerência, têm a mesma dignidade, o mesmo merecimento e valor, inclusive para efeitos de proteção legal. Cada língua é um mundo muito especial, uma janela singular do pensamento humano aberta sobre o nosso planeta e ao mundo.
Em síntese, a diversidade linguística é um tesouro cultural da humanidade, que há que preservar. Daí que a extinção de uma língua, qualquer que seja, é uma perda irremediável.
Em paralelo com todos os seres vivos, entre eles os humanos, as línguas fazem-se de experiência, relacionamentos e permanência, vivendo, convivendo e sobrevivendo, mas também nascem, crescem e morrem, casam-se, misturam-se, reproduzem-se e esterilecem.
Se uma língua funciona como um organismo vivo, tem o seu tempo vital, estando a história da humanidade repleta de exemplos de idiomas que chegam, substituem-se a outros, impedem o desenvolvimento de línguas locais, levam à sua extinção, enriquecimento, emagrecimento, dão-lhes valor acrescentado, inclusive em termos recíprocos.
Consentir, porém, na discriminação linguística, em termos objetivos e a qualquer título, é algo que deve ser censurado e evitado, é transigir com a glossofobia, atribuindo uma capacidade glotofágica a certa língua para, em simultâneo, se substituir a outra, provocando a sua morte prematura e extinção.
Permitir que o português seja preterido por um idioma estrangeiro ou por um clube de línguas tidas (supostamente) como mais agressivas e coloquiais, em termos de estatuto ou de praxe, é aceitar a glossofobia, contribuindo para a sua discriminação pela negativa, dizendo sim à endo-glossofobia quando são os próprios falantes nativos a fazer esse culto no seu dia a dia.
Precursores da UNESCO, pela excelência identitária da nossa língua foram, entre nós, muitos nomes da clássica e atual literatura portuguesa, a que se juntam os novos pioneiros lusófonos que a enriquecem criativamente com novos vocábulos ameríndios, americanos, africanos e asiáticos, num valor adicionado que a particulariza, antecipando outros voos onde diversidade linguística se concilia com o princípio da não discriminação linguística.
16.06.23
Joaquim M. M. Patrício