A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO
CXIII - OMISSA NUM RESTAURANTE PORTUGUÊS?! …
“Eu, este verão, nas minhas férias, fui a uma antiga pousada portuguesa, um sítio muito conhecido, há muitos anos, agora não porque saiu da rede de pousadas, onde há muitos anos, fica no interior do país, se ia especialmente para almoçar, eu fui lá almoçar e de repente, além do restaurante estar vazio, fiquei absolutamente siderado, porque a pessoa que apareceu para servir à mesa não sabia falar português, atenção o parador era em Portugal, não era um parador espanhol, não sabia falar português e tivemos que falar com ela na língua dela, que não era o português, e isto, como é que isto pode acontecer, como é que isto pode acontecer num setor e, em princípio, num equipamento que até devia ser de alguma diferenciação” (testemunho pessoal oral e radiofónico do jornalista e comentador José Manuel Fernandes, no programa Contra Corrente, da rádio Observador, de 01.09.23).
Pelo contexto do depoimento que ouvi, indicia-se que quem serviu o almoço só falava espanhol, dado falar-se que o parador era em Portugal, não em Espanha, tendo-se como não aceitável que tal factualidade tenha ocorrido, naquelas circunstâncias, no nosso país, na nossa própria casa, onde está consagrado, por costume e lei constitucional, que “A língua oficial é o Português” (artigo 11.º, n.º 3 da Constituição da República Portuguesa).
Desconheço se quem ficou estupefacto e indignado (“siderado”, usando as suas palavras) reclamou por escrito, se só terá manifestado oralmente, no local, a sua justa perplexidade, sem abandonar o restaurante, uma vez que a empregada de mesa “não sabia falar português e tivemos que falar com ela na língua dela”.
Embora não tenha sido vítima, até hoje, de uma situação congénere, reconheço haver, entre nós, uma significativa e intolerável permissividade para “dar tiros no próprio pé”, querendo ser poliglotas, por tudo e por nada, dando azo, tantas vezes, a que se inferiorize e exclua o nosso idioma em interação com estrangeiros que residem ou trabalham em Portugal, sem lhes dar oportunidade que o aprendam ou que, eles próprios, não queiram, quer porque nós os não incentivamos ou eles se presumem civilizacionalmente superiores (só falando inglês), apesar de ditar o mais elementar bom senso que saber o português básico é imprescindível para uma integração mínima.
Sobre a excelência identitária da língua portuguesa escreveu Miguel Torga: “Lutei, luto e lutarei até ao derradeiro alento pela preservação dessa identidade, última razão de ser de qualquer indivíduo ou coletividade”, por maioria de razão, sem apelo nem agravo, no nosso próprio país, sob pena de poluirmos a própria água que bebemos.
01.12.23
Joaquim M. M. Patrício