A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO
XLVI - CAMÕES E O BRASIL
A língua portuguesa é um idioma global, intercontinental e transnacional, com centenas de milhões de falantes disseminados por várias latitudes.
Tendo tido como ponto de partida a Europa, está essencialmente implantada, nos dias de hoje, em espaços fora do continente europeu, com especial densidade no continente americano e africano.
Indicia-se que o futuro global da futura globalização do nosso idioma será protagonizado e revitalizado de fora da Europa, nomeadamente através do continente sul-americano, via Brasil (o “imenso Portugal”, cantado por Chico Buarque), um país de escala continental e potência emergente.
Os emigrantes que a Europa recebe e de que necessita, também operarão essa revitalização.
Tendo como referência a liderança dos Estados Unidos, com a projeção e prestígio global do inglês, são os descendentes da velha Europa imperial os novos impérios linguísticos do futuro, o que, por agora, se aplica ao Brasil, no que toca ao português.
Todavia, o poema épico por excelência que canta as façanhas e os feitos dos portugueses (“Os Lusíadas”) é omisso quanto ao Brasil.
Camões celebra a epopeia portuguesa em África e na Ásia, mas não na América. Sendo Os Lusíadas parte integrante do imaginário nacional, assinalando e cantando a história do Portugal guerreiro e marinheiro, falta-lhe assinalar, cantar e priorizar as navegações portuguesas que nos levaram até ao Brasil.
Há em Camões e no seu poema épico um Portugal marinheiro omitido, não cantado, nem celebrado, atenta a enorme importância do Brasil para Portugal e para a nossa história, pois embora a viagem de Vasco da Gama seja o motivo central, o assunto principal d`Os Lusíadas é toda a história de Portugal (não a viagem do Gama à Índia).
Nos tempos atuais, para nós, portugueses, a importância do Brasil, por confronto com a Índia, é incomparavelmente superior, fazendo parte do nosso imaginário.
Será que esta amputação terá contribuído para um certo alheamento entre Portugal e Brasil, que foi atenuada séculos depois pela fuga da família real portuguesa às invasões napoleónicas?
Um promissor estudo de caso (case study).
16.04.2019
Joaquim Miguel de Morgado Patrício