A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO
LIV - NÃO AO COMPLEXO DE INFERIORIDADE LINGUÍSTICO (VII)
Que têm feito a CPLP, o Instituto Camões, autoridades governamentais, instituições, associações lusófonas e a sociedade civil, para atenuar ou evitar este complexo de inferioridade linguístico?
Uma conclusão é a de que, apesar de vivermos em plena época da globalização, a sua pretensa e alegada uniformização a todos os níveis, incluindo o linguístico, não é tão evidente como seria de esperar. Se tomarmos como termo de comparação o que sucedia há vinte ou trinta anos, concluímos que o número de línguas disponíveis em termos culturais, turísticos e políticos era menor, restringindo-se, à data, normalmente ao francês e ao inglês, fora dos respetivos países falantes, apesar de atualmente o inglês ser a língua global em termos comerciais, negociais e tecnológicos. Conclui-se, pois, que globalização não é, nem tem que ser, sinónimo de uniformização.
Pelo lugar que ocupa mundialmente e no mundo ocidental, será legítimo que o nosso idioma tenha outra projeção internacional.
Entretanto, muitas vezes os lusófonos, começando pelos portugueses, pouco ou nada fazem para que o idioma comum ocupe o lugar que lhe compete por direito próprio no mundo contemporâneo, quer numa perspetiva cultural, turística, tecnológica, política, de marketing, etc.
Como já referido, há que pôr de lado um certo culto de secundarização da língua portuguesa por parte dos lusófonos, como que derivado de um complexo de inferioridade sem sentido e associado a uma espécie de fatalidade ou de vergonha colada a uma pretensa falta de orgulho e de visibilidade dos respetivos países no jogo mundial.
Será necessário, para tanto, que a CPLP, o Instituto Camões e entes paralelos ultrapassem o campo das meras boas intenções em conjugação de esforços com as associações e sociedades civis lusófonas, as quais, por vezes, são potenciadoras de mais valias que superam a vontade política dos Estados membros.
É necessária uma estratégia que consagre a importância da língua comum como fator de projeção estratégica.
Nesta sequência, fazendo uso das palavras de Vítor Marques dos Santos, “Os povos dos países da CPLP, bem como as comunidades de lusofalantes espalhadas pelo mundo, formam um espaço de expressão cultural, (…) definindo-se em termos de fator de projeção estratégica potencial”. E conclui: “Neste contexto, a CPLP constitui o enquadramento institucional que reúne as condições necessárias à defesa da lusofonia e ao desenvolvimento da língua portuguesa como património cultural, e fator de projeção estratégica, cujo desenvolvimento importa tanto para Portugal, como aos outros países da CPLP” (em “Lusofonia e Projeção Estratégica. Portugal e a CPLP”, Revista “Nação e Defesa”, n.º 109, 2.ª série, Outono 2004, p. 123).
coordenação de Óscar Soares Barata, ISCSP, p. 70).
Assim, se o Conceito Estratégico Nacional (Adriano Moreira), ou Conceito Estratégico de Segurança Nacional (Loureiro dos Santos), engloba os interesses irrenunciáveis e os objetivos primordiais relacionados com a identidade nacional de cada país e a função que pretende desempenhar, ou vai desempenhar, na comunidade internacional; é inegável, quanto a nós, que a língua portuguesa e a lusofonia são parte integrante e elemento constitutivo de tal noção, não só numa perspetiva nacional, mas também multilateral, lusófona e internacional, seja qual for a terminologia adotada, dado que tais realidades, porque comuns, são expressões fundamentais de identidade de todos os países da CPLP e comunidades lusófonas espalhadas pelo mundo, quer no plano interno ou externo.
Porém, enquanto a lusofonia é apenas um dos elementos que estão por detrás da CPLP, uma vez que os países membros também têm uma cultura própria não lusófona; já a língua portuguesa é o seu elemento fundamental.
30.07.19
Joaquim Miguel de Morgado Patrício