A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO
LXIX - UMA SÍNTESE EVOLUTIVA (II)
O que se pensa que são fixações do passado através de lembranças registadas na memória, imaginando-as nos tempos presentes, podem-no ser na realidade.
É o que sucede com a realidade da língua, do sangue, da cultura e do passado comum. Uma prova de que tal momento pode ser inspirador na atualidade, reside no facto de mais de 230 milhões de pessoas em todo o mundo falarem português. Mais do que as que falam francês, alemão, italiano, japonês, russo, sendo o nosso idioma, neste momento, o terceiro mais falado no ocidente e o quinto ou sexto a nível mundial.
Porque disperso por vários continentes, dá-lhe uma perspetiva transcontinental. Ao ser banhado por vários oceanos, ganha uma perspetiva transoceânica. Porque enamorado essencialmente pelo oceano atlântico, torna-se transatlântico. Como idioma comum e oficial de várias nações, é transnacional.
As línguas de disseminação planetária, como o inglês, espanhol, português e francês, ou regionalmente delimitadas geograficamente, como o russo, o árabe e o alemão, entre outras, aspiram a ser causa de cadeias confluentes de interesses que, por um lado, ultrapassam grandemente as fronteiras do idioma e, por outro, são potenciadoras de aspetos que o ter um idioma comum de comunicação facilita.
Descobriremos, assim, que a nossa língua é algo de claro, manifesto, intrínseco e patente, porque demasiado óbvio e intuitivamente partilhada por vários países e comunidades.
A começar por Portugal, porque Portugal é o português, a nossa língua, síntese e essência de uma cultura, de um modo de estar no mundo, de pensar o passado e a História, tendo como certo que nenhum futuro digno para o nosso país está desligado do porvir do nosso idioma.
Se assim é, estamos em presença de qualquer coisa que sendo óbvia e maioritariamente consensual, é simultaneamente uma ideia estratégica, desígnio nacional, ideia ou visão de médio e longo prazo, tendente a preservar a identidade e a diferença, de que a língua é um dos interesses irrenunciáveis e uma das expressões primordiais.
E embora não se resuma a uma mera estratégia de defesa nacional, também não deixa de o ser, uma vez que não sendo a defesa nacional apenas militar, ao falarmos do futuro de defesa da nossa língua, estamos em presença de uma frente fundamental da defesa nacional.
Num espaço de interesse geolinguístico, o qual, cumulativamente, favorece o cimentar de áreas estratégicas de influência geopolítica, como a anglofonia, francofonia, lusofonia, entre outras.
15.02.2021
Joaquim Miguel de Morgado Patrício