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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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À MARGEM DE ANTIGAS CARTAS


SÓ PERGUNTO AONDE VAIS?
 


Persigo sobre a areia só
   
e é fugaz e fugidia
a deste deserto   
nas vagas impressões
  
dos teus muito frágeis passos
 


São de outrora, de depois ou só
 
de porvir
   
conformes a tempos e modos
de sentir  
porém de ti sempre


Porque como teus só
  
os reconheço

ou talvez por mim
os adivinhe 
e me transformem


Já tanto de ti só
  
no coração de Deus existe
e eu estou fora ainda 
por pegadas de vento buscando

na saudade o teu caminho


   Quando um de nós se perde na demência, só num deserto estranho o outro o pode encontrar. Eis como a comunicação possível se torna monólogo e se inventa outra existência. Perdeu-se alguém, de tão brutal maneira que a própria ausência é impossível de se conceber. No fundo de mim, terei de criar uma presença nova e fazê-la comunicar, por um caminho do espírito que em si só, no seu mistério, guarda o seu segredo.


   Quem morreu, sabemos que não está aqui, imaginamo-lo algures ou nenhures, mas sem nunca o ver, e a sua própria incomunicabilidade pertence à ordem natural das coisas. Não lhe pertence. Tortura maior é, sim, procurar quem vemos mas não nos fala, tentar escutar no silêncio o bater de outro coração, desvendar num segredo inacessível essa presença amorosa qe Deus nos esconde. Porquê? Saberás tu responder-me, ouvir-me-ás perguntar-te aonde vais?


   Como escrevi, em carta com mais de sete anos, no passado domingo republicada pelo blogue do CNC, "o silêncio interroga o silêncio. E é mais sentida a ferida".

 

Camilo Maria     

 

Camilo Martins de Oliveira

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