A sapiência dos sábios da dor
Encerrada para o menino da Síria
Está a possibilidade
De chorar
De olhar o sangue e chorar
De se sentar como pedem os seus cinco anos de ouro
E aguardar que do céu
Não lhe atirem bombas
Mas antes que dele cheguem
As estrelas mágicas em jeito de brinquedos obra-prima reluzente
E tanta inocência irremediavelmente ofendida
Ecoe no mundo
E desfaça em pó a pedra de plateia dita humana
Que somos todos nós
Os que aguardam outro gesto do menino numa nota de breve compaixão
Pois que o menino não dorme como nós
Nós, os das guerras sujas que temos nas mãos e no coração
Como especialistas do horror num requinte apuradíssimo
Exactamente daquele que leva as crianças a levantarem as mãos de imediato
Sempre que uma fotografia lhes seja tirada ou não possa ser a câmara uma espingarda
Um beijo que dói e mata
E assim se deve fazer: bracinho ao alto como manda a sapiência dos sábios da dor
Como manda para que os meninos não morram mesmo que morrer possa ser apenas
Não ter tempo de crescer
E disto se desconheça o significado
Não faz mal
Afinal só eles conhecem a substância da aurora boreal
E nós o mal
Em projecto acontecido na diária queima dos livros
Local-mundo onde sempre se seguiu a queima dos homens
E se arrancaram as folhas do tratado do amor
Aquele que dizem não ser politicamente correcto
E que é no entanto e tão só
A chave
Da nossa salvação
Teresa Bracinha Vieira
Agosto 2016