AFINAL SÓ QUANDO NOS AJUDAMOS UNS AOS OUTROS NOS AJUDAMOS A NÓS MESMOS: ESTA TALVEZ A GRANDE REVELAÇÃO QUE TUDO MUDA.
É sabido que a escravatura e a servidão sejam de que géneros forem geram enormes tipos de riqueza para aqueles que dominam o controlo dos que lhe são subservientes. Também é sabido que a ausência de inovação tecnológica ou de qualquer criatividade reside na prevalência da escravatura, a qual, se acaso produzisse algum incentivo para inovar, esta beneficiaria quem subjuga. Isto é verdade no mundo antigo e no de hoje. Qualquer economia baseada em sistemas como o que acima mencionamos, são economias manifestamente não inovadoras com as consequências gravíssimas inerentes, nomeadamente o medo das populações enfrentarem os governos - se acaso lhes ocorresse – antecipando estes o medo da destruição da sua política e, por essa razão, vão atenuando esse receio, mantendo um certo miserabilismo contente por parte de quem julga dever-lhes a paz do pouco que tem.
Afinal, há que manter adocicado o povo que transporta as colunas das casas dominantes qual desempenho de trabalho que logo faz descer as estatísticas do desemprego.
A complementar o circo, os genuínos do poder não são na maioria dos casos, os que estão na política a gerir gentes e afetações, mas antes os que com o consentimento ou distração dos políticos, e não só, desfrutam afinal de serem os verdadeiros donos de um mundo que leva à queda dos países e das nações, qual trágico dominó que tomba amolecido e minado por uma serie de interações.
A verdade é que com uma história muito conturbada, entende-se que foi na Inglaterra que surgiu uma sociedade inclusiva, e que foi na Europa que se criaram instituições representativas como nunca houvera, e com elas o poder de influenciar decisões políticas exigindo-se direitos para os povos.
No entanto, depois de um grande salto temporal do muito tudo que dos livros consta, é nesta Inglaterra que se vive paredes com paredes, um triste espetáculo político de um Brexit, comandado por dentro e por fora do país que o proclama, a fim de permitir que as grandes empresas floresçam do choque pelo qual alguns labutam que se verifique, enquanto os povos entardecem as suas vidas pela madrugada, desconhecendo sequer se haverá mais tempo para que se volte a reivindicar subidas sustentadas do nível de vida.
A verdade é que os meios de vida de uma maioria que trabalha continuam assentes numa navalha, enquanto ao seu lado vive bem quem acumula supostos postos de trabalho, quais faróis de controlo tricotado com o suor das sociedades, e que muito rende, medido ao hectolitro seja do que for cotado em bolsa.
O filme Joker interpretado fabulosamente por Joaquin Phoenix, de muitos modos expõe o destino de todos nós os que, sujeitos à maquina destruidora das fontes de resistência, podemos parecer deuses caóticos sob o sol, se a inimputabilidade tiver chegado por via de tudo o que nos conseguiu quebrar por dentro.
Se se perguntar em que lugar, em que lugar longe, a solidão se faz mais lonjura, se faz tão lonjura que nos abraça prometendo a libertação enfim, se se perguntar, talvez exijamos não viver numa sociedade em que os ditos homens dos comandos são, não mais, do que destroços colados com cola tudo, aos quais acabámos por obedecer, obedecendo-nos, a estáticas expectativas por tão cansados de uma esperança tão semelhante a um chão adormecido.
Há muito que o que nos faz falta é podermos habitar a vida de um outro modo. Habituarmo-nos a ser respeitados sem que o respeito seja indulgência, sem que o dinheiro seja o sagrado poder. Olharmo-nos e surpreendermo-nos e por experiência irmos ao encontro da solidariedade, verdadeira força que nos congrega na luta a vencer quem nos olha com a indiferença do betão.
Afinal só quando nos ajudamos uns aos outros nos ajudamos a nós mesmos: esta talvez a grande revelação que tudo muda.
Teresa Bracinha Vieira