ALGOS
A mulher que a meio da ponte
Dá a impressão de distraída
É uma mulher que não é senão vontade
Olha à volta e assegura-se de que ninguém a espera
Não hesita
Antes intensifica a sua concentração
O seu desejo é que um imprescindível ódio permaneça com ela neste momento
Salta
E assim se lança no vazio
Morrer será fácil
O seu maior inimigo tem sido o seu reflexo de boa nadadora da vida
E nela tem salvo a sua morte
Agora
Deitada na água
Desprovida do vigor
Ela regressa a casa por um caminho que não existia
Ainda que o futuro já não existisse quando tomou a decisão
E ei-la
Ninguém descobriu o que se passou
Ninguém lhe pedirá que peça perdão
Tornou-se uma situação de silêncio
Denunciado publicamente pela sua morte
Por agora, só sei que no fim houve um anjo
Um anjo não rejeitado do céu
Uma bondade que a escutou do além
Um encontro com o esquecimento
Agora
Como se todos vivêssemos exilados destas proximidades
Teresa Bracinha Vieira
Outubro 2017