AS ARTES E O PROCESSO CRIATIVO
XLII - EXPRESSIONISMO
Movimento artístico alemão dramático e trágico, de grande densidade psicológica e reflexiva, cujos artistas supervalorizavam o eu e a necessidade de exprimir as suas ansiedades e conflitos pessoais, alguns com preocupações de denúncia social, havendo neles uma angústia de viver, ao invés da alegria de viver do fauvismo, apesar das suas semelhanças com o fauvismo francês.
Reagiu contra o naturalismo e o impressionismo, tendo como antecessores Cézanne, Gauguin, Jugendstil, Van Gogh, Hodler e Munch, recorrendo a cores fortes para a captação angustiante e dramática e a explicitação dos sentimentos e das vivências psíquicas, recebendo várias influências, à semelhança do fauvismo, entre elas a valorização do indivíduo, a atenção a civilizações primitivas e exóticas (Gauguin), as cores intensas e deformação da natureza (Van Gogh), a alucinação das figuras (Munch), a crítica à sociedade burguesa (Nietzsche).
A imagem é simplificada, deformada, brutalizada remetendo, por um lado, para modelos arcaicos, primitivos ou infantis, de pendor regressivo e, em contrapartida, tratando temas relacionados com a época de então, denunciando a civilização moderna e usando os instrumentos da crise contra a própria sociedade, produzindo-se uma contradição entre a forma e o conteúdo expresso.
Não foi um movimento unitário, tendo como representantes principais das várias manifestações expressionistas, Die Brucke (A Ponte), Der Blaue Reiter (O Cavalo Azul) e Der Neue Sachlichkeit (Nova Objetividade).
Die Brucke (A Ponte) foi criado em 1905 por Heckel, Schmidt-Rottluff e Kirhner, ao qual se juntaram Emil Nolde, Max Pechstein e Otto Muller.
Concebem a arte como uma conceção do mundo e não como uma mera exigência estética, manifestam-se contra a sociedade urbana, denunciam com angústia a crueldade e a corrupção, sacrificam a beleza pelas suas ideias, sentimentos e paixões sobre temas da vida quotidiana, em que as cores e formas usadas arbitrariamente nas suas telas pretendem provocar no observador um sentimento de assombro, medo ou rejeição, como em Mulher ao Espelho, Cinco Mulheres na Rua e Rua com Mulher de Vermelho.
O português Cristiano Cruz foi expressionista com grande influência de Kirchner.
Der Blaue Reiter (O Cavalo Azul), nasce em Munique, em 1909, sendo herdeiro do simbolismo, misticismo russo e do expressionismo do Die Brucke, tendo como figura fundamental Kandinsky, além de Franz Marc, Kubin e Munster.
É um expressionismo que não tem o sentido dramático e trágico do primeiro grupo (Die Brucke), que procura uma dimensão espiritual, não necessariamente metafísica, a par da emotividade e contacto com a natureza, onde impera uma expressividade emotiva e espiritual, dando um valor emotivo, por vezes irracional, à cor, sem perder a harmonia cromática. Exemplificam-no O Sonho (1912), de Marc, com cores usadas de modo arbitrário nas figuras e paisagem, sobressaindo os cavalos azuis, transmitindo uma sensação de calma, recolhimento e serenidade. Outro exemplo: Com o Arco Negro (1912), de Kandinsky.
Der Neue Salichkeit (Nova Objetividade, regressa à pintura figurativa, sendo desapiedada e dura, após a experiência da guerra, retratando a miséria humana e a morte em contraste com a riqueza e ostentação das elites e do poder, tendo como representantes Max Beckmann, Otto Dix e George Grosz. Veja-se Cenas da Rua Kurfurstendam (1915), de Grosz.
Além da pintura, o expressionismo estendeu-se ao ensaio, ao drama, à música e à literatura em geral.
A sua angústia de viver, caraterizada pelo absurdo, ceticismo, desespero, pessimismo, crueldade, ansiedade e sentimentos de horror, repulsa, rutura e sofrimento, evasão da opressão, luta contra a desumanização, crítica da sociedade burguesa e troça do que é belo, fez surgir, pelo seu caráter multifacetado e variedade de géneros que desenvolveu, nomes marcantes no mundo literário, como Kafka, Brecht, Camus (O Estrangeiro), entre outros.
08.01.2019
Joaquim Miguel de Morgado Patrício