Até onde pode ir a literatura na leitura de Mia Couto?
Até onde podemos ir, até onde pode ir a literatura, parece ser a pergunta constante de Phillip Rothwell, professor catedrático de Estudos Portugueses na Universidade de Oxford. No seu livro “Leituras de Mia Couto – Aspetos de um pós-modernismo moçambicano” com uma tradução e introdução de Margarida Ribeiro. Em rigor este ensaísta britânico considerado um dos professores de Estudos Portugueses mais inovadores da sua geração e dominando continuadamente a literatura portuguesa, reconhece, por óbvio, em Mia Couto o grande escritor de língua portuguesa legitimado em todo o mundo.
A sua capacidade de analise da escrita de Mia passa necessariamente por lhe reconhecer os mapas geográficos, étnicos e religiosos e de onde a história também é contributo ao colocar no lugar certo as questões universais, tal como o faz em plena mestria este escritor único que é Mia Couto que tão excelentemente une a identidade múltipla de um povo a uma nação-a-ser como menciona Margarida Calafate Ribeiro.
Chama-se a atenção neste livro para a luz da literatura no seu papel crucial de construir identidades culturais e politicas numa linguagem de esperança que revela um Moçambique para moçambicanos geradores de continuidades. Mia Couto persegue o situar a ideia de nação e Mia Couto lido por Phillip Rothwell faz-nos entender que sempre as fronteiras trazem suspeitas e entre a verdade e a falsidade Mia usa as técnicas do pós-modernismo para do percurso literário europeu o transformar no que poderíamos chamar de “autenticamente” africano para os europeus o que nos coloca no país em diferença no seu movimento.
Mia é nome de mulher, e Mia Couto é um escritor branco que representa Moçambique. E alerta-nos o ensaísta para esta absoluta literatura nacional de Mia Couto, igualmente riquíssima em cultura portuguesa. Assim se conjuga o europeu e o africano e questionando a modernidade a partir de Moçambique.
Este livro de Rothwell coloca-nos sempre a pergunta: até onde poderemos ir? E ir na literatura? Uma proposta belíssima ao pensar. Uma proposta para melhor conhecermos Mia Couto no seu modo de ir respondendo a estas duas questões fundamentais.
Teresa Bracinha Vieira