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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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ATORES, ENCENADORES - LXXII

  
Imagem: Diário de Notícias

 

BREVE EVOCAÇÃO DE FRANCISCO NICHOLSON

´Há menos de um mês, evocamos a carreira de Nicolau Breyner, por ocasião da sua morte.  (“Atores, Encenadores - LXVIII – 23 de março de 2016). Hoje, pouco mais de apenas três semanas decorridas, evocamos a carreira de Francisco Nicholson, falecido no passado dia 12 de abril. São dois atores da mesma geração, com carreiras paralelas e tantas vezes convergentes, na participação de espetáculos, na heterogeneidade de repertórios, na renovação da cena portuguesa, em que ambos participaram com destaque adequado e justificado pelo talento que também lhes era comum.

Francisco Nicholson (N. 1936) começou a fazer teatro aos 14 anos, ainda aluno do ensino secundário, nas iniciativas de António Manuel Couto Viana, e numa geração que abrangeria, mias tarde, atrizes e atores que marcaram o espetáculo em Portugal. Passou entretanto, ao longo de uma carreira de dezenas de anos, por grupos que são ainda hoje referencias no moderno teatro- espetáculo em Portugal. Destaco, no que respeita ao teatro declamado com exigências culturais, a ligação a companhias que marcaram época: a do Gerifalto, companhia duradoura de teatro infanto-juvenil, fundada e dirigida por Couto Viana, que encenaria peças de aurores marcantes como Fernando Amado, Natália Correia, Jaime Salazar Sampaio, Correia Alves, Norberto Ávila, alem de clássicos adequados ao publico infanto-juvenil.  E recordo ainda a Companhia Nacional de Teatro ou o Teatro Estúdio de Lisboa, dirigido por Luzia Maria Martins e Helena Felix.

E ainda a companhia que Raul Solnado criou para inaugurar o Teatro Villaret, isto em 1965:  tal como escrevi na época, “obra excelente, no bom gosto, no sentido de oportunidade, no completamento ideal de instalações”, até porque se trata de um teatro de bolso integrado num prédio em Lisboa: teatro em vez de lojas ou garagens. Por isso escrevi a propósito que “Lisboa tem uma sala potencialmente a mais rica, e desde já, a realidade consoladora de um lugar cénico em que todos, atores e espetadores, se sentem bem”…

Nicholson tinha estudado em Paris e a sua participação, durante anos, na companhia do Teatro Villaret, sob a direção de Raul Solnado, muito contribuiu para a qualidade e sentido de renovação dos espetáculos e em geral do meio teatral da época: estamos, recorde-se, em 1965. E até podemos evocar, para documentação do progresso que Solnado trouxe na época ao meio teatral português, que o Teatro Villaret se “desdobrava” em duas companhias e em duas temporadas simultâneas, perdoe-se a expressão paradoxal: pois ao mesmo tempo Jacinto Ramos dirigia, em matinés, o denominado “Teatro do Nosso Tempo” que na época constitui também uma renovação de elencos e repertórios, na simultaneidade de duas companhias e dois espetáculos absolutamente distintos no centro de Lisboa. Em qualquer caso, no Villaret, Nicholson integrou o elenco do “Inspetor Geral” de Nicolau Gogol.

A partir daí, a carreira de Nicholson prosseguiu numa abrangência de géneros e numa pluralidade de iniciativas muitas vezes inovadoras e sempre com qualidade. No Teatro ABC estreia como ator e também como autor de revista, em “O Gesto é Tudo” contracenando com Camilo de Oliveira e Eugénio Salvador. Percorreu os diversos teatros/espetáculos de revista, no Parque Mayer e um pouco por todo o país. E seria um dos fundadores da companhia do Teatro Adoque. Trabalhou também nos Teatros Monumental e Maria Matos.

Francisco Nicholson desenvolveu pois uma notável carreira, pela qualidade das interpretações como ator, pela qualidade dos textos como autor, mas também pela variedade de registos cénicos e dramatúrgicos abrangidos. E mais: como autor de poemas musicados por uma variedade assinalável de compositores e intérpretes, em espetáculos e concursos internacionais, em Portugal mas também pelo menos no Rio de Janeiro e em Atenas.

Foi um dos nomes marcantes na televisão, designadamente a partir de 1964, como autor e interprete em numerosíssimos programas e também como letrista e autor de telenovelas, que aqui não vamos elencar, mas que cobrem dezenas de anos de produção televisiva, sendo a primeira a “Vila Faia” na RTP.     

E finalmente, escreveu os guiões de dois filmes de Pedro Martins: “Operação Dinamite” (1966) e “Bonança e Cª” (1969).

 

DUARTE IVO CRUZ