Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

ATORES, ENCENADORES (VII)

Taborda e Laura Alves.JPG
Taborda (fonte-GEPB vol. 30) e Laura Alves (fonte Laura Alves cit.)

ATORES QUE DERAM NOME A TEATROS

 

Não é muito comum entre nós a  denominação de teatros evocativa de atores. Recentemente, referimos o teatro Maria Vitória no conjunto dos teatros do Parque Mayer: hoje já ninguém recorda a atriz que deu o nome ao teatro, edificado numa construção ”provisória”  como na altura se assumiu, em 1922. Penso que a decoração art deco é posterior.  Mas trata-se de um dos poucos teatros portugueses que evoca um artista de cena.

 Não assim com escritores. Sousa Bastos, no Dicionário do Theatro Português que aqui temos citado (1908) assinala, na época, em todo o país, quatro Teatros Camões/Luís de Camões, um Teatro D. João da Câmara, um Diogo Bernardes, sete  Gil Vicente, um Garcia de Resende, um Pinheiro Chagas, um Sá de Miranda: e apenas um Rosa Damasceno,  três Taborda, um Virgínia… e nada menos do que 13 teatros cuja designação evoca diretamente Reis, Rainhas, Príncipes e demais membros da família real, com o destaque óbvio do Teatro D. Maria II, que é de 1846.

E aqui queria neste momento chegar. Em 1908, Sousa Bastos descreve três Teatros Taborda, em Abrantes (1828), em Lisboa (1870) e em Oeiras (1884). Evoca, em termos ditirâmbicos, o ator Taborda, homenageado pelo próprio nome nos teatros acima referidos: qualifica-o como - e  citamos literalmente  - “ incomparável”, de “brilhantíssima carreira”,  “caráter de ouro que tem um amigo sincero e um admirador devotado em cada português (…) a jóia mais preciosa do palco português “ em “criações brilhantíssimas “ e “trabalho excecional e verdadeiramente único”!...

De notar que Sousa Bastos era à época casado com a jovem Palmira Bastos: e a biografia que lhe dedica no Dicicionário não fica atrás! Mas Luis Francisco Rebello, mais de 90 anos decorridos, ainda  evoca “o grande Taborda” como ator dos primeiros espetáculos de revista. (in “História do Teatro de Revista em Portugal” vol. 1-  1984). E na “História do Teatro Português” Rebello cita Taborda à cabeça de um grupo de atores que “trilharam caminhos de maior exigência artística”. “História do Teatro Português”  5ª ed. -2000)

Ora bem: chega-nos um estudo ainda não publicado da autoria de Pedro Marçal Vaz Pereira, acerca do Teatro, ou dos sucessivos teatros edificados a partir de 1883, em Cernache do Bonjardim. E precisamente, o edifício em vias de restauro, herdeiro ou sucessor de edifícios e/ou agrupamentos de amadores locais – Clube Bomjardim, Teatro Cernachense, Teatro Bonjardim, Teatro de Cernache – adota a partir de 1899 o nome de Teatro Taborda, sendo o ator consagrado num homenagem em que  atuou Alfredo Keil , que execuou ao piano   trechos da ópera “A Serrana. 

 Mas avancemos no tempo.

Em 1968,Vasco Morgado inaugura um novo teatro em Lisboa: tratava-se  da adaptação do velho cinema REX a teatro, com obras de restauro e recuperação designadamente no palco.

 Publiquei aqui um texto, em 24 de Setembro último, a encerrar a série dedicada aos mais antigos teatros de Lisboa, assinalando a  essa reconversão do REX em teatro: e evoquei a atriz Laura Alves, pois o novo teatro chamou-se precisamente Teatro Laura Alves.  

No que respeita ao edifício, destruído por um incêndio em 2012, remete-se para o  texto aqui publicado neste blog.  Mas o que importa agora é evocar a grande atriz que foi Laura Alves (1921-1986),  pois ao longo de mais de 45 anos marcou o teatro português numa diversidade impressionante de géneros e de interpretações, da comédia ao drama, à revista à opereta, ao  teatro musicado e ao cinema.

 Passou pela companhia do Teatro Nacional  mas sobretudo a partir de 1951, ano da inauguração do Teatro Monumental, com a opereta “As Três Valsas” , representou todos os géneros e inúmeros autores, aí incluindo muito teatro português, muita comédia e drama contemporâneo, mas também Shakespeare, Gil Vicente e tantos clássicos: um carreira de mais de 400 personagens!

Cito, para terminar, algumas  referencias recolhidas no álbum de homenagem publicado no inicio dos anos 70  assinalando os  20 anos do Teatro Monumental. ( in “Laura Alves – Êxitos de 20 Anos da sua Carreira” dir.  Mário de Aguiar, texto de Alice Ogando).

De Ramada Curto: “Esta atriz é essencialmente genérica, porque se adapta a todos os géneros. Tem inventiva cómica e ninguém como ela comunica com o publico pela graça espontânea e caricatural, sem descer ao grosseiro, para logo a seguir interpretar uma alta comédia com inteligência e corda dramática”.

De Aquilino Ribeiro: “Em Paris, seria uma atriz de grande ribalta. Entre nós, é uma flor a perfumar um matagal”.

De David Mourão Ferreira : “Laura Alves realiza plenamente o sonho mais íntimo de todos os artistas – que é o de obter o vibrante entusiasmo das multidões e o aplauso esclarecido das minorias mais exigentes”.

E muito me honro de ter também colaborado neste livro de homenagem, frisando designadamente que “tantos anos de carreira profissional, vinte dos quais no mesmo ambiente, é coisa rara, quase um milagre teatral”…!  

 

DUARTE IVO CRUZ