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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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ATORES, ENCENADORES - XLVI

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EVOCAÇÕES A PROPÓSITO DA ESTREIA DE IRENE CRUZ

Recordo o início da carreira de Irene Cruz quando frequentou, a partir de 1958, o Conservatório Nacional. Na época, a chamada Secção de Teatro era dirigida por Fernando Amado, que tinha a seu cargo direto as cadeiras de Estética Teatral e de Arte de Representar e Encenação. Essa viria a ser articulada com Álvaro Benamor na complementação do profissionalismo de carreira: e ambos marcaram profundamente o ensino e a formação artística e profissional dos alunos.

Permita-se uma nota pessoal. Nesse ano de 1958 comecei a escrever sobre teatro na imprensa. Acompanhei diretamente esse período do Conservatório, frequentando a cadeira de Filosofia do Teatro de Gino Saviotti, num horário que conciliava com a Faculdade de Direito. Assistia a muitas aulas de outras disciplinas: e não esqueci a experiência que era participar, no mesmo dia, a uma aula de Paulo Cunha, Marcello Caetano ou Adelino da Palma Carlos de manhã e a uma aula de Fernando Amado, Gino Saviottti ou Álvaro Benamor à tarde…

Nesse tempo, havia uma espécie de acordo do Conservatório com a Companhia Rey-Colaço Robles Monteiro, que encaminhava alunos ou recém-licenciados para o Teatro Nacional D. Maria II. E nesse contexto, a estreia de Irene Cruz remonta a espetáculos de Fernando Amado na Casa da Comédia e mais ou menos na mesma época, à “Visita da Velha Senhora” de Francis Durrenmatt no TNDMII, na temporada de 1958-59.

Assisti a todos esses espetáculos: e da Casa da Comédia já aqui muito temos falado. Em qualquer caso, “A Visita da Velha Senhora” constituiu na época uma extraordinária revelação, inclusive porque representou uma renovação de repertório com base num elenco consagrado mas que, na época, não se salvava de críticas de rotina própria e alheia. E no entanto, o texto de Durrenmatt com Amélia e Raul de Carvalho nos protagonistas foi no mínimo uma inesperada “revelação” de quem levava já algo como meio século de carreira… e esteve em cena meses com enorme sucesso de crítica e público.

A então muito jovem aluna Irene Cruz participava neste elenco, Simultaneamente ou sucessivamente, trabalhou com Couto Viana no Teatro do Gerifalto e designadamente na Companhia Nacional de Teatro – Teatro da Trindade, onde contracenou com Benamor a partir de 1961 no “Príncipe de Homburgo” de Kleist, “espetáculo digno, numa realização por vezes notável (…) (n)um ritmo excelente, de uma beleza plástica frequentemente admirável”, escrevi na época: e passados estes anos, a recordação de um grande espetáculo mantem-se.

Mas Brecht marca a careira de Irene Cruz ao longo de décadas, novamente no TNDMII com a “Mãe Coragem e os seus Filhos” em 1986, mas sobretudo no Teatro Aberto, companhia que fundou com João Lourenço em 1982, e que levará à cena designadamente “A Alma Boa de Setzun”, novamente a “Mãe Coragem”, “A Ópera dos Três Vinténs” e mais largas dezenas de peças quase sempre de autores do século XX, e isto praticamente até hoje.

E também sobre o Teatro Aberto muitas vezes escrevi, designadamente assinalando “a transformação de grupos e companhias independentes e experimentais em projetos estáveis, sólidos e consistentes de profissionalismo de exigência cultural (…) na tradição do Teatro Estúdio do Salitre e do Teatro Experimental do Porto” entre outros mais que de fato marcaram e marcam a renovação da cultura teatral portuguesa.

DUARTE IVO CRUZ

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