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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Bom dia pé!

 

África pode ser a grande parcela do futuro. O continente da fome e das feridas abertas a muitas indiferenças internas e externas, sem qualquer tranquilidade histórica, pode mostrar-se como parte do preenchimento de uma falta universal que é a da solidariedade real.

A bofetada de luva viria da Africa-Mulher-Mãe de Consistência. Viria de um povo pouco escutado e só visto a bater-se e a morrer em campos minados e nunca desvitalizados de um poder nefasto à escala mundial.África é um foco de universalidade e de universidade, no sentido de que pode constituir um futuro numa sensibilidade ao direito e ao afecto que é, sem dúvida, índice de emoções universais.Não pode África, neste papel nuclear,compactuar com as rotas do dinheiro fácil, abertas sem fronteiras à destruição e à anulação dos próprios povos. A África rica, também na cultura,pode e deve espalhar-se pelos seus filhos e em qualquer mundo, num manifesto alternativo.

Cremos que o futuro da humanidade não passará tanto pelas novas descobertas científicas, mas sim pela utilização do já conhecido ao serviço de todos. Só as sociedades alienadas se resignam àquilo em que a tecnologia do poder as transforma. Talvez Portugal ainda venha a ser uma síntese de esperança, se compreendeu a falência das planificações centralizadas ou a opressão do extremo liberalismo.

Camus, Lefort, Merleau Ponty, Levi-Stauss, Castoriadis, todos eles sacralizaram as revoltas, mas em verdade se diga que, acima desta perspectiva, se encontrava o levar o homem à construção do grande caminho inacabado.

Não basta propor o sol, o vento, o mar. O sentido do tempo e do instante fazem a diferença entre evolução e ruptura.

Recordo Kafka:

Os leopardos invadiram e beberam o vinho dos vasos sagrados. Esse incidente repetiu-se com frequência. Por fim, chegou-se a calcular, de antemão, a hora do aparecimento das feras. E a invasão dos leopardos foi incorporada ao ritual.

Todos somos chamados às responsabilidades dos erros cometidos, mas o grande esforço é o de nos libertarmos do medo à liberdade. Agora mais do que nunca, deve surgir também um Brasil alternativo, generoso, imaginativo, um Brasil que não marginalize o próprio povo, que não se abrace em festas irreflectidas, um Brasil que não vacile nos conclaves destruidores de cada lugar-centro de vida.

Há uma Lua belíssima que nasce todas as noites nos países de língua portuguesa. É uma Lua cujos reflexos por entre as terras mais remotas, os mares e os néons, dá as mãos e saúda as falações destes povos e que se não despede nunca, antes é o canal ou a reza de um terço que jamais se separará das suas contas.

E Brasil também é África, tal como a Europa também é mundo e tal como o mundo é uno, num grosso volume de caminhos.

Quase todos preferimos que Deus venha quando alguém está pronto. E é nesta alquímica oportunidade que a vida pode ter momentos inesquecíveis enquanto templo de cada um. Não podemos ficar pelos sonhos dos outros. Não se deseja um povo à aventura da minoria ainda que seja bem intencionada. De certo modo o povo começa a despertar quando deixa de ser povo numa boçalidade de folclore e inicia a reflexão, a participação.

Depois de um tempo sem luz , vinha como dizia John Sharkey, aquele, em que as pedras com buracos eram colocadas à entrada das câmaras funerárias: símbolo da passagem a um outro nascimento.

Livres dos medos e dos compromissos, da cor, da classe, dos sistemas, venha solta a multiplicação do amor que interpreta o seu metabolismo próprio e perguntemo-nos também : quem tem medo de uma nova filosofia da economia?

E dizer todos os dias pela manhã, como um dia li : bom dia pé! Que bom que é ter um pé, isto é dois.

E a voz disse:

Sei que morrerei na esperança, mas essa esperança é preciso fundamentá-la.

 

M. Teresa Bracinha Vieira

 

Julho 2014

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