BREVE REFERÊNCIA A TEÓFILO BRAGA COMO DRAMATURGO ESQUECIDO
No artigo anterior, referimos os 150 anos da publicação da “História do Teatro Português” de Teófilo Braga, numa evocação do livro, datado exatamente de 1870.
Aí se refere designadamente a sua sistemática abordagem da evolução global da literatura dramática portuguesa, sem pôr em causa nem os estudos que o antecederam nem a globalidade da obra do autor.
Será aliás oportuno referir que o tema – “História do Teatro Português” e história do teatro em Portugal - mereceu ao longo deste período, uma convergência de pesquisas e análises que, de certo modo, a “História” de Teófilo, independentemente dos méritos maiores ou menores, amplamente justifica, na linha da vasta obra de estudos literários do autor. E é de salientar o mérito iniciático de muitos desses estudos.
Em qualquer caso porém, e sem pôr obviamente em causa os méritos da individualidade e da vida e obra do autor, há que reconhecer a menor relevância de Teófilo como dramaturgo, numa fase em que a História da nossa dramaturgia alcançava um relevo de qualidade assinalável.
E no entanto, Teófilo dedicou ao teatro-dramaturgia uma considerável criatividade, em diversos textos dramáticos, que incluem até o libreto de uma ópera iniciática de Rui Coelho – “O Serão da Infanta”, cantada no Teatro de São Carlos em 1915.
Precisamente, no que respeita a esta ópera, vale a pena citar o que a propósito da colaboração regista João de Freitas Branco na sua “História da Música Portuguesa”.
Escrevendo sobre Rui Coelho, atribui ao compositor “um portuguesismo de outra época, de arrogo patriótico: auto sugestão de uma mentalidade que se mira como expoente musical do «génio da raça» ideia que considera expressamente «tão cara a um Teófilo Braga»”...
E mais diz que “ao longo da sua extensa obra, Rui Coelho tem tentado superar influências estrangeiras de forma a produzir música iniludivelmente portuguesa e da sua marca. (...) Por certo conseguiu, porquanto a sua música não pode confundir-se com qualquer outra. O mais nítido paralelo é porventura o cinema português”, assim mesmo!
E acrescentamos nós agora um comentário sobre a dramaturgia de Teófilo Braga, desde já referindo que não se trata, na nossa opinião, de uma obra que, no seu conjunto, se destaque na longa e interessante bibliografia de Teófilo.
Citamos então um conjunto das suas peças, hoje na verdade esquecidas: “Poeta por Desgraça”, “Um Auto por Desafronta”, “O Lobo da Madragoa”, “Gomes Freire” e o libreto da ópera de Rui Coelho “O Serão da Infanta”.
E terminamos remetendo novamente para a “História do Teatro Português” de Teófilo que, repita-se, descrevemos no artigo anterior, a propósito dos 150 anos da sua publicação.
Pois tanto vale, e tanto interessa retomar a leitura desse livro de Teófilo Braga!
DUARTE IVO CRUZ