CADA ROCA COM SEU FUSO…
AVENTURAS E DESVENTURAS LONDRINAS…
14 de março de 2019
Esta semana segui atentamente as transmissões televisivas das sessões da Câmara dos Comuns. E sofri alguma coisa. É verdade que já não dá para ter muitas surpresas, mas tenho uma legítima angústia sobre o futuro da relação europeia com a Velha Albion. No entanto, todos os dias recebo mensagens de amigos ingleses, manifestando-me o mesmo sentimento: “Ils sont fous ces Bretons”, como me dizia um admirador confesso de Astérix, na sua personalidade resistente. Mas é desgostante ver como o Brexit se tornou um motivo de chacota geral. O velho Gladstone revira-se no túmulo ao ver os irlandeses baterem garbosamente o pé aos britânicos. E quem hoje visita Belfast julga estar em Dublin perante a profusão de bandeiras republicanas nas janelas da cidade. Nesta trapalhada, o Reino Unido arrisca-se a ficar amputado de toda a ilha do Eire. Ainda tenho esperança que haja bom senso. E depois, é preciso ver que farão os Escoceses. A procissão ainda vai muito no adro. Já citei aqui o que dizem os estudantes de Oxford e de Cambridge – os velhos que votaram vão morrer primeiro que nós… Para bom entendedor, meia palavra basta. A ilusão do Império de antanho não responde aos problemas atuais. Há quem ainda não tenha percebido que a Rainha Vitória já não está entre nós… Grandes empresas financeiras anunciam a saída.
A Agência Financeira Europeia já está em Paris. E, a pouco e pouco, vai havendo mais saídas importantes. Os japoneses da Nissan também se põem ao fresco. A Holanda está a ter um número importante de registos de empresas vindas da City. E, pasme-se, o Senhor Farage pediu a nacionalidade alemã. Será que também deseja pôr-se ao fresco. Ou será que quer seguir o destino dos velho “Mini”, que foi já nacionalizado pelos alemães. Tanta e tão trágica ironia… Custa a crer… Para já, a Senhora May acumula derrotas parlamentares. É facto que tem pele dura de réptil, mas isso não basta. Que lugar lhe reservará a História? Em suma, os ingleses vão ter votar para o Parlamento Europeu, o adiamento da saída aí está. E quem conhece razoavelmente a História dos Povos Britânicos, sabe bem que estamos a assistir a uma regressão muito suspeita e tremenda. Se o fantasma do Grand Old Man se debate na maior das angustias – também os fantasmas de Thomas Morus, Walter Raleigh, Shakespeare, Disraeli e mesmo Churchill andam todos na maior das confusões. Chesterton dizia que os fantasmas dos castelos ingleses tinham morrido quando morreram aqueles que neles acreditavam… A afirmação era do passado. Tudo mudou, porém. Os fantasmas regressaram todos, cada vez mais agressivos e assustadores… O meu amigo Coronel Clifton anda desolado.
Somos solidários quanto ao futuro dos nossos queridos MG. O dele é um TF roadster de 1954… Pelo menos o adiamento do Brexit significa que continuamos a ter as peças dos nossos vetustos automóveis sem direitos por mais algum tempo…
Para vosso deleite deixo-vos outro retrato do meu querido Clifton, na minha coleção de Histórias de Quadradinhos…
Agostinho de Morais