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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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CADA ROCA COM SEU FUSO…

 

OS ESPECIALISTAS

 

Esta pandemia trouxe-nos um novo tipo de pessoas que invadem o espaço público, a que poderemos chamar de “especialistas”. Que fazem esses temíveis palradores? Invadem-nos a casa, através dos meios de comunicação, em especial a televisão, e dão-nos explicações e palpites, sobre tudo o possível e imaginário. Julgam saber de tudo, desde as origens fisiológicas das transformações operadas pelo dramático Covid-19 até aos efeitos psicológicos do confinamento. Têm sempre algo a dizer-nos. São fisiologistas, psicólogos, candidatos a psiquiatras, biólogos, educadores, cientistas – tudo. Fazem-me lembrar o simpático Gaston Lagaffe, aqui representado (que quando chegou a Portugal, no início dos anos sessenta, se chamava Zacarias, e pontificava com as suas desventuras). Também ele era especialista de tudo, mas tudo em que se metia dava desastre… Em qualquer posto de comunicação ouvimos esses especialistas que peroram sobre as máscaras, sobre as viseiras, sobre os perdigotos, sobre os desabafos intestinais, sobre as estatísticas, sobre os ventiladores, sobre os medicamentos, sobre morcegos e ratos, sobre vacinas e testes serológicos, sobre a peste negra e bubónica ou sobre a gripe espanhola, vulgo pneumónica… Eu sei lá? No entanto, tirei-me de cuidados e conversei com um cientista sério e a sério. E que me disse ele? Que ninguém sabe nada, verdadeiramente. Até a respeitada revista “Lancet” teve de reconhecer a dificuldade em dizer algo de relevante, dando o dito por não dito. Talvez daqui a algum tempo possa haver alguma coisa de relevante. Mas para já, apenas podemos proteger-nos. Prevenir é a única palavra de ordem. É que o vírus não é um bicho. Não é um ser vivo. Em latim, vírus significa veneno ou toxina. É um agente infeccioso com 20-300 nanómetros de diâmetro, apesar de existirem vírus ɡiɡantes de (0.6–1.5 µm), sendo constituído por uma ou várias moléculas de acido nucleico. Disse esse meu amigo e eu anotei religiosamente (mas mal percebi) que os ácidos nucleicos dos vírus apresentam-se geralmente revestidos por um envoltório proteico formado por uma ou várias proteínas, que pode ainda ser revestido por uma espécie de envelope formado por uma dupla camada lipídica… Não me peçam para explicar. O que sei é que fora do ambiente intracelular os vírus são inertes… Qual o perigo? Nas superfícies não duram muito tempo, e no ar mantêm-se tempo suficiente para se transmitir pelas vias superiores respiratórias. Mas, uma vez dentro das células, a capacidade de replicação dos vírus é surpreendente: um único vírus é capaz de multiplicar, em poucas horas, milhares de novos vírus. E os vírus são capazes de infetar seres vivos de todos os domínios, inclusive bactérias. Daí todas as dificuldades. Eis por que razão tenho o maior cuidado com a minha máscara e com o lavar das mãos… De facto, os vírus representam a maior diversidade biológica do planeta, sendo mais diversos que bactérias, plantas, fungos e animais juntos. Quase 200 mil tipos diferentes de vírus se espalham nos oceanos do mundo. Por exemplo, a última contagem é 12 vezes maior do que o censo anterior de vírus marinhos registado em 2016. Esse meu amigo, que, como diria o saudoso Bocage, não era um doutor das dúzias, fez-me compreender como esses especialistas falam barato do que não sabem e peroram sobre o que não existe. Assim se entende que o Senhor Donaldo Trump se aventure num campo difícil e minado, como se fosse um verdadeiro especialista – falando de desinfetantes e aconselhando práticas mortíferas para os mais incautos. Alguns que o seguiram foram levados a perigosas lavagens ao estomago. O mesmo se diga do Senhor Bolsonaro e de tantos outros, que na Idade Média teriam emprego certo como bobos ou como charlatães… Percebe-se assim que estes especialistas que nos invadiram têm onde se inspirar.  E percebem-se as cautelas postas pelos verdadeiros infeciologistas, que são os primeiros a dizer que muito pouco se sabe ainda sobre este tema. Todo o cuidado é pouco. Andamos todos às apalpadelas – que o diga este momento de grande incerteza. De facto, ainda a procissão vai no adro. E não podemos facilitar. Ninguém se julgue imune. A ciência sabe muito pouco. Por isso os falsos especialistas são como esse Gaston, que um dia se lembrou de organizar um arquivo com o mais estranho dos instrumentos – uma ventoinha… O resultado dessa operação é exatamente a que suspeitam..… Está tudo dito… É assim também com estes doutores da mula ruça. Quando virem e ouvirem um destes especialistas ilusórios ponham-se de sobreaviso.

 

Agostinho de Morais

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