CARTAS NOVAS À PRINCESA DE MIM
Minha Princesa de mim:
Hoje, apenas te mando um imaginário bilhete postal, com as ilustrações que nele descobrires.
Pela madrugada, entrou-me pela varanda do quarto uma luz leitosa e acordei cercado por cerrado nevoeiro. Foi-se desvanecendo com o espreguiçar do sol, mas logo voltou a fechar-se. Talvez fosse uma saudade da noite a chamar à paisagem uma penumbra de silêncio. Afinal, já erguido e remoçado, o astro rei limpou os ares e fez-se luz. E ocorreu-me este haiku, penso que de Masaoka Shiki, poeta da era Meiji, na viragem do século XIX para o XX:
Haru no hi ya
hito nanimo senu
komura kana
Três versos com cinco, sete e cinco sílabas. Que, livremente, o meu pensarsentir traduz assim:
Dia de Primavera:
neste lugar isolado
ninguém faz nada
Desço ao rés do chão sobre os campos, e com eles me confundo em ação de graças pela solidão que o sol aquece.
Camilo Maria
Camilo Martins de Oliveira