CINQUENTENÁRIO DA MORTE DE TOMAZ DE FIGUEIREDO
O teatro, como criação literária e como espetáculo potencial ou concretizado, constitui efetivamente uma área de criatividade que em certas épocas interessou e indiscutivelmente marcou a literatura mas também a atividade criacional tanto de escritores como de profissionais de cena, e como sobretudo de público. E nesse aspeto, encontramos e desenvolvemos referências por vezes inesperadas a criações literárias com vocação de espetáculo e a realizações, estas mais escassas, de espetáculos teatrais a partir de textos dramáticos. Mas tenha-se presente, no que respeita ao teatro português e/ou ao teatro em Portugal, a menor capacidade histórica de concretização, precisamente, na realização de espetáculos a partir de autores portugueses, sobretudo mais ou menos contemporâneos...
E no entanto, épocas houve em que o teatro-literatura interessou autores que apriori sabiam que havia menos hipóteses de concretização dos textos como teatro-espetáculo. O que não impediu, note-se bem, a criatividade respetiva no que respeita à criação de divulgação editorial de textos concebidos para a cena: o que muito menos vezes ocorria!...
Ora será esse o caso de Tomaz de Figueiredo (1902-1970), que aqui se evoca no cinquentenário da morte. A ele nos referimos com destaque, designadamente na “História do Teatro Português” onde efetuamos um levantamento da dramaturgia do autor, citando em particular peças como “Os Lírios Brancos” (1959), “O Visitador Extraordinário” (1960), “A Barba do Menino Jesus” (1964) ou “A Nobre Cauda” (1965). E ainda títulos como “O Embate”, “Loiras de Morte”, “O Morto e os Vivos”.
À época estavam alguns inéditos, como designadamente também “O Homem do Quiosque”. Mas isso não impediu que fizéssemos uma análise global do teatro de Tomaz de Figueiredo, referindo designadamente que estes textos “conciliam uma exuberância barroca com um lirismo por vezes dominante mas sobretudo com uma visão dos mitos sociais que efetivamente se aproxima do surrealismo”.
Isto, não obstante aspetos ligados à potencialidade de espetáculo, que nem sempre o autor concretizou, pois “o texto domina a cena e levanta problemas de espetáculo a peças interessantes”, acima já citadas.
E justamente: para terminar, para já, esta evocação, à qual poderemos voltar, fazemos uma transcrição do estudo que lhe dedicou David Mourão Ferreira em “Hospital das Letras”:
“Não obstante a diversidade de géneros, não obstante a pureza específica de cada um deles, em todas as obras de Tomaz de Figueiredo se manifesta, de modo unitário, a sua complexa personalidade, que oscila constantemente entre o riso e as lágrimas, a chacota e o êxtase, a revindita e a ternura.” E mais acrescenta: “Prodigioso evocador do passado, em prosa e em verso grande poeta da memória, Tomaz de Figueiredo, a despeito da constante nacionalista, tradicionalista – e até regionalista – de muitos dos seus temas (que de perto o aparenta a Camilo), não menos integra, todavia, na área estético-emocional de um La Varende, bem como, porventura, mais longinquamente, na linhagem de um Barbey de Aubrevilly, e de um Villlier de Lisle Adam”.
Nada menos!
DUARTE IVO CRUZ